Amor, o único caminho
No passado dia 14 de Fevereiro celebrámos a festa de São Valentim (Século III), conhecido como padroeiro dos namorados. Segundo a tradição, durante a perseguição dos cristãos, o então bispo da cidade italiana de Terni, arriscava a sua vida para unir os casais em matrimónio. Os santos são caracterizados por uma entrega na vivência do amor por Deus, num desprendimento de si, dando-se à semelhança do Senhor, que disse: «o Filho do homem, não veio para ser servido, mas para servir» (Mateus, 20:28). Neste início de Quaresma, ao lado do Senhor, meditemos no amor, aquele a que Deus nos chama a viver, pois «Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele» (1 João, 4:16).
Os católicos, e todos os cristãos, são chamados a incorporar nas suas vidas os mandamentos que Deus nos deu através de Moisés. Pelos “Dez Mandamentos”, somos apelados – em primeiro lugar – a amar a Deus sobre todas as coisas; e Jesus acrescentou: «e o teu próximo como a ti mesmo» (Lucas, 10:25). Nesse amor espelha-se o amor de Deus por nós; em primeiro lugar, por nos ter pensado e criado, dando-nos vida; e em segundo lugar, por Ele, na Pessoa do Filho Se ter feito homem, e por amor habitou entre nós dando a Sua vida em resgate de toda a humanidade, caída pelo pecado original. Um sacrifício por ser Ele Deus, salvífico, único e intemporal; por uma morte cruel, humilhante e carregada de sofrimento e dor até ao culminar no madeiro da cruz, por Ele carregada em nosso lugar.
Jesus veio por amor, viveu e ensinou o amor: «Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros; como vos amei» (João, 13:34-35).
Aqui tocamos no ponto desta reflexão a que somos convidados fazer – é o amor o que tudo cria e transforma, e ao qual Deus, que é amor, nos chama a sermos imagem d’Ele; esta imagem não é física, é um sentimento, uma força que ao lado da fé realiza os milagres que todos nós necessitamos e procuramos nas nossas vidas e nas vidas daqueles que tocamos. Pois sem esse amor, ao qual Jesus nos chama a seguir e a viver, nada decerto acontece no nosso caminho, nas nossas relações, famílias e vida. São Paulo, que foi resgatado pelo amor do Senhor, foi permeado por essa graça. Na sua primeira carta aos Coríntios, exorta-nos e lembra que sem amor nada somos: «se eu for capaz de falar todas as línguas dos homens e dos anjos e não tiver amor, as minhas palavras são como o badalar de um sino ou o barulho de um chocalho… e se eu tiver uma fé capaz de transportar montanhas e não tiver amor, não valho nada… O amor é paciente e prestável. Não é invejoso. Não se envaidece nem é orgulhoso. O amor não tem maus modos nem é egoísta. Não se irrita nem pensa mal. O amor não se alegra com uma injustiça causada a alguém, mas alegra-se com a verdade. O amor suporta tudo, acredita sempre, espera sempre e sofre com paciência. O amor é eterno… Agora existem três coisas: fé, esperança e amor. Mas a mais importante é o amor» (Coríntios, 1:13). Vale a pena ler e reler este capítulo aqui resumido.
É preciso que este amor a que todos somos chamados, por graça, penetre no coração dos homens, pois sem ele tudo parece impossível ou assente numa base movediça. Não é difícil ver que a maioria dos problemas do mundo, da casa global à casa familiar, passam por falta de amor; ou por falta de sabedoria da sua vivência. O homem, tendencionalmente, vive ao redor de si mesmo, e na sua ilha procura apenas ser amado (servido), e poucos são os que amam verdadeiramente como Jesus nos chama a amar. Ele sabia o porquê de nos deixar este apelo, o foco principal que sustenta a vida face às circunstâncias da mesma.
Como podemos mudar a falta de amor que existe no mundo e nas nossas vidas? Terá que começar em cada um de nós essa mudança, essa procura, esse desejo e transformação. Ter a humildade e consciência da necessidade de se mergulhar no estado interior de cada um. Pedindo ao Espírito de Deus que, por graça, sejamos iluminados e conduzidos como que por um leito corrente de amor com nascente n’Ele. Pois tudo o que de bom habita em nós é providência divina (Jó, 10:12; Efésios, 2:8-9); assim nos ensinam as Sagradas Escrituras e os santos que na sua busca e procura encontraram (Mateus, 7:8).
Os Papas têm deixado um apelo contínuo ao amor. São João Paulo II, um pontífice que buscava encarnar o amor de Cristo, ensinou continuamente que o mal presente no mundo só poderia ser derrotado pela imitação do amor de Jesus e do Seu sacrifício na cruz. O Santo Padre dizia: «o amor verdadeiro é exigente. Mas a sua beleza reside precisamente nas exigências que ele faz. Somente aqueles capazes de fazer exigências sobre si mesmos em nome do amor podem, então, exigir o amor dos outros» e acrescentava: «a escuridão só pode ser dispersada pela luz e o ódio só pode ser derrotado pelo amor».
Todos somos chamados a redescobrir o amor, passando pelas nossas angústias, as nossas imperfeições e medos. Quanto aos fantasmas que nos perseguem, é vencê-los pedindo que a luz que vem do alto incida sobre nós e dissipe, cure e nos liberte!
Os santos caracterizam-se por uma busca na imitação de Cristo, ao ponto de darem a vida pelo próximo, por Ele. Madre Teresa de Calcutá tinha um coração cheio de amor e dele vivia. Quando lhe perguntavam como conseguia tratar de pessoas por vezes num estado tão humanamente precário, com doenças contagiosas como a lepra, respondia: «eu vejo Jesus em cada um deles».
A Santa Madre Teresa tivera revelações privadas do próprio Jesus em Setembro de 1946. O que escutou no fundo do seu coração, essa graça que recebeu, foi o grande impulso da sua maior entrega a Deus e aos mais necessitados. Esta revelação pode ser lida na íntegra, “online”, no “site” da Aleteia. Reflexo de como Jesus nos olha, do Seu amor por todos nós, assim como o é cada revelação que Deus faz ao longo da História. Transcrevemos algumas linhas da mensagem dada a Madre Teresa e tomemo-las para nós: “Venho com a minha misericórdia, com o meu desejo de perdoá-la e curá-la, com um amor que vai além da sua compreensão. Um amor em cada detalhe, tão grande como o amor que recebi do meu Pai. Trago a minha luz, para dissipar a sua escuridão e todas as suas dúvidas. Venho com a minha paz, para tranquilizar a sua alma. Eu conheço-a como a palma da minha mão, sei tudo sobre si. Não há nada na sua vida que não tenha importância para mim. Eu amo-a por você mesma, pela beleza e pela dignidade que o meu Pai lhe deu ao criá-la à sua própria imagem. Mas por eu amá-la como é, que derramei o meu sangue para resgatá-la. Basta pedir com fé, que a minha graça tocará tudo o que precisa ser mudado na sua vida. Sei o que existe no seu coração, conheço a sua solidão e todas as suas feridas, as rejeições, as humilhações, pois carreguei tudo isso antes de si. E carreguei tudo por si, para que vós pudésseis compartilhar a minha força e a minha vitória. Conheço sobretudo a sua necessidade de amor, sei como está sedenta de amor e de ternura”.
No coração de cada homem encontra-se a verdade que Deus vê e busca iluminar com a Sua luz; a que percorre e guia o Universo e tudo sustenta. Ele, que é o Caminho a Verdade e a Vida, ilumine e infunda em cada coração a graça do Seu amor.
Miguel Augusto