Advogado Frederico Rato traça o panorama Político de Região Ásia-Pacífico

Coreia do Norte faz roque no xadrez diplomático.

O advogado Frederico Rato disse ontem a’O CLARIM que a cimeira entre Kim Jong-un e Donald Trump irá mesmo realizar-se em Junho. «Vai juntar duas personalidades autoritárias, apoiadas por outras personalidades também de natureza autocrática [casos de Xi Jinping e Vladimir Putin], o que em termos paradoxais poderá representar o primeiro passo para uma mais estável situação de paz e segurança mundial», sublinhou.

«O teatro está bem montado e os comediantes sabem exactamente quais são os seus papéis», referiu o advogado em tom figurado, ao comentar a recente posição de Trump em cancelar a cimeira com o homólogo norte-coreano.

«É certo que neste momento está uma delegação americana em Pyongyang, liderada pelo embaixador americano nas Filipinas [Sung Kim], de origem sul-coreana, para definir os pormenores que vão orientar a cimeira. Por outro lado, também um representante do regime norte-coreano [general Kim Yong Chol, braço direito de Kim Jong-un] encontra-se nos Estados Unidos com o mesmo fim», reforçou.

Para ele, chegou o momento propício para a Coreia do Norte e os Estados Unidos colocarem de lado as desavenças, até porque nunca se tinha chegado a uma tão grande radicalização de posições.

«O acicatar provocado por Kim Jong-un com os seus mísseis e o conhecimento de que a Coreia do Norte possuía ogivas nucleares, para além das ordinárias, também veio de algum modo chamar à atenção para o agudizar do conflito e para a tentativa de ser encontrada uma solução», frisou o advogado, acrescentando: «quando o líder norte-coreano embalou na governação, pretendeu ele próprio criar um clima que fosse desencadear no estágio de pré-negociação agora existente».

No seu entender, a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos foi a cereja em cima do bolo, dado que Kim Jong-un terá seguido a máxima do tempo dos romanos: “Si vis pacem, para bellum” [se queres a paz, prepara-te para a guerra].

«E foi o que ele fez. Reforçou o poder e a sua imagem a nível internacional, deixando de ser tido como um menino que brinca com o poder e com armas nucleares. Passou a ter a qualidade e a dimensão de um homem de Estado e partiu para a mesa de negociações em pé de igualdade, ou pelo menos numa situação muito mais fortalecida do ponto de vista bélico e da ameaça que representa, sendo certo que o pai não estaria em condições de fazer isto», vincou.

 

Mares do Sul da China

O conflito nos Mares do Sul da China que opõe a República Popular da China a vários países vizinhos resultada da afirmação e crescimento do gigante asiático no panorama internacional.

«A China, por questões de unidade nacional, de integridade territorial e de liderança do Partido Comunista Chinês, está a expandir a sua máquina militar nos Mares do Sul da China. Por vezes, fá-lo invadindo interesses dos países vizinhos, mas com todo o poder que a sua qualidade como super-potência representa, fazendo acordos bilaterais com nações vizinhas que de algum modo têm que se render à força da China», explicou Frederico Rato, para quem «a ASEAN tem um papel passivo, porque não que ser o ponto de equilíbrio de um jogo que à partida está ganho para a RPC».

 

Japão e Austrália

O advogado defende que o Japão e a Austrália são dois pilares dos interesses do pensamento americano na região Ásia-Pacífico. «O Japão, de algum modo, está muito mais hipotecado aos interesses americanos. A Austrália não quer ficar tão dependente dos interesses americanos, como o Japão. Tem, de algum modo, que balançar a sua relação com a RPC, o seu vizinho mais imediato, sem cortar com a representação dos interesses americanos. Tem um papel difícil. Pode tudo ser resolvido com as livres trocas comerciais e com a diplomacia», concluiu.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

 

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