Vem aí o Natal!
Olhei para a minha neta cheia de ternura, direi mesmo um tanto embevecida. Como tinha crescido! Tinha vindo ficar uns dias em minha companhia face à ausência dos pais por motivos de trabalho. Pedia-me ajuda para fazer os trabalhos de casa. Sentei-me ao seu lado sem nada comentar, mas questionando interiormente se a conseguiria apoiar. Passaram-se tantos anos; o ensino sofreu tantas alterações. Veio-me ao pensamento a frase da escritora Selma Lagerlof: “A cultura é tudo o que nos resta depois de ter esquecido tudo o que aprendemos”. Bem, que Deus me ajude! Confesso que me encontrava com algum receio de não a conseguir apoiar tal como o pai fazia. Ainda assim, fui orientando-a. Quando surgia alguma dúvida na matéria, procurávamos a resposta em conjunto. Foi tudo muito tranquilo. Afinal não era assim tão difícil. Na realidade, penso mesmo, que sobretudo a menina queria atenção e companhia. Graças a Deus a cultura ajuda, e muito!
Esta situação trouxe-me ao pensamento a importância da aprendizagem ao longo da vida. Há alguns dias tive oportunidade de participar numa acção de formação. O tema era sobre o Advento. Fiquei muito sensibilizada com uma citação que ouvi e que foi o mote para escrever este artigo: “O Advento anima a perguntar-nos: que esperamos? Em que consiste a nossa esperança? Ou, com mais profundidade, que sentido tem o meu presente, o meu hoje e agora?”.
«– Se o tempo não foi preenchido por um presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja se o presente permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece totalmente incerto. Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da espera torna o presente mais precioso» (Bento XVI).
Fiquei feliz com estas palavras do Papa emérito. Considero o Advento um período de esperança, de serenidade, de paz interior, de luz, na certeza de que Jesus virá e estará connosco. Sinto o coração mais leve e preenchido. As preocupações do dia-a-dia tornam-se mais fáceis de ultrapassar. Se acontece algo menos bom será para nos purificar. Tudo concorre para o bem! Recordo que nascemos para amar a Deus, para fazer a Sua Vontade. Torna-se necessário fomentar a virtude da esperança. Graças a Deus este período começa com a Novena à Imaculada Conceição de Maria que nos ajuda a rezar melhor e a depositar no Seu regaço as nossas preocupações. Neste tempo de espera, imbuídos de uma expectativa confiante, até à Solenidade do Natal, apetece-nos acompanhar a Virgem Maria, a mãe do Amor Formoso, a caminho de Belém. Pela minha mente surgiram imagens da Capela da Mãe do Amor Formoso, com o Menino Jesus ao colo, existente no Campus Universitário da Universidade de Navarra. Como gostava de caminhar por aquele campus coberto de relva e de árvores a caminho das aulas e fazer sempre uma paragem nessa capela deixando no regaço da Mãe do Céu na companhia de Jesus os meus pedidos e intenções. Depois, continuava o meu caminho bem mais tranquila, na certeza de que, enquanto Mãe, tudo faria para ajudar. São João Paulo II referindo-se a Maria escreveu: “Deste-nos a tua Mãe como nossa para que nos ensine a meditar e a adorar no coração. Ela, recebendo a Palavra e pondo-a em prática, tornou-se a mais perfeita Mãe”. Recorremos a Maria enquanto Mediadora de todas as graças, Mãe de misericórdia e de ternura a quem ninguém recorreu em vão. Não tenhamos medo de não ser atendidos. Maria pedirá por nós a Deus que enaltece os humildes. Perto do Seu Filho, a Virgem Maria leva alegria por onde passa, como a sua prima Isabel referiu: «Quando chegou a tua saudação aos meus ouvidos, o menino saltou de alegria no meu seio». Logo, o nosso pedido será com certeza ouvido. O Magnificat contém a profunda razão de toda a humildade de Maria. Deus colocou os seus olhos na humildade da sua escrava por isso fez n’Ela grandes coisas o Todo poderoso.
Regresso ao momento presente. Os vários presépios existentes nesta época recordam-nos esta espera de Maria. Em alguns locais só se coloca o Menino Jesus na madrugada do dia 25 de Dezembro, altura em que se dá o Menino Jesus a beijar. Mesmo com uma vida tumultuosa podemos manter a esperança. Jesus veio para enxugar as nossas lágrimas. A redenção de Deus habitou entre nós. Jesus vai para o Céu mas fica connosco, conhece-nos pelo nosso nome. Que tempo de espera tão bonito!
Recordo à minha neta que temos de fazer o Presépio em breve. Feliz, começou a idealizar como seria este ano: «–Temos de arranjar musgo para colocar as ovelhas e fazer um lago para os patinhos. Não te esqueças da cabana de Jesus». Ainda não foi possível fazer o Presépio com ela este ano. Muitos testes, pouca disponibilidade. Aguardemos. Recentemente, tive uma preocupação que me entristeceu. A solução não dependia de mim. Só podia ajudar, na medida do possível. Mas Deus é Pai. Recebi uma ajuda divina. Fui fazer voluntariado com os idosos de um centro de dia. Ao vê-los, o meu coração rejubilou de alegria. Tinham muito para dar. Os seus olhos eram o espelho de tantos acontecimentos vivenciados, tanta juventude acumulada. Saí mais rica em amor e solidariedade. Jesus, obrigada.
Termino este artigo, feliz por vir aí o Natal independentemente do que possa surgir mas com muita esperança, continuando como todos a acompanhar a nossa querida Mãe do Céu até ao nascimento do Seu filho Jesus.
Maria Helena Paes
Escritora