Semana após semana e dia após dia os cidadãos da Europa e nomeadamente da zona Euro, entre os quais os portugueses, olham para o calendário das decisões sobre a situação grega tal como consultam diariamente o estado do tempo, antes de decidirem ir para a praia.
Num dia o tempo vai estar bom mas, logo a seguir, a temperatura vai baixar. Por vezes a meteorologia prevê um Sol resplandecente mas, inesperadamente, começam a aparecer umas nuvens negras. É assim a disputa entre os credores e a Grécia, num jogo do rato e do gato que, a pouco e pouco e à medida da proliferação mediática sobre a evolução do “diz que disse”, nos começa a deixar quase indiferentes à sua solução.
Mas pese embora estarmos em plena “campanha” de férias, à qual se junta uma outra campanha eleitoral, para a qual os “cremes protectores” vão ser muito necessários (aconselho o 50+), o Sol das praias portuguesas e o calor que irradia dos discursos sobre a Grécia podem queimar a pela sensível dos portugueses…
Entre muitas observações, já ouvimos de tudo sobre a Grécia e os gregos: malandros, corruptos, calões, proxenetas e outras designações que me poupo de citar. Como também já se divulgaram muitas descrições sobre os seus credores: imperadores da finança, usurários, “donos” da UE, impostores, dominadores dos mais fracos, etc., etc.
Se o que se passa entre a Grécia e as suas instituições credoras fosse identificado e resumido a estes palavrões, eu diria que estão bem uns para os outros. No entanto, a realidade é bem mais profunda do que as declarações políticas daqueles que tudo jogam no tabuleiro politico-partidário e em favor dos seus interesses particulares.
Em primeiro lugar é preciso perceber, de uma vez por todas, que a linha de conduta dos partidos políticos, actualmente maioritários na União Europeia e em plena crise da mesma, nada tem a ver com as designações que estiveram na sua origem, em pleno século XIX. Comunistas, socialistas, social-democratas, cristãos-sociais, liberais, etc., são, no seu conjunto, apenas denominações de interesse eleitoral, pelo seu papel histórico e muito menos respeitadores do seu ideário inicial. Hoje, estes mesmos partidos, subordinados a uma “troika” de nações impositivas do seu presente e futuro e de um capitalismo selvagem que lhes asfixia a ideologia, são meras “marionetas” de um jogo de interesses políticos e financeiros, que apenas lhes dão margem para pequenas clivagens eleitorais. De um lado (os predominantes), os que fazem tábua rasa dos valores que estiveram na base da construção do Estado Social, após a Segunda Guerra Mundial; do outro, os que alimentam o propósito de salvaguardar o essencial dessas conquistas sociais e, no meio, os que pretendem fazer uma ponte entre uns e outros.
Com uma economia arruinada pelos primeiros, os gregos, esperançados que as democracias institucionalizadas na Europa respeitassem também a sua escolha, decidiram não votar maioritariamente em nenhum dos históricos partidos, mas num partido diferente, o Tsipras, o qual – até aparecer um ideólogo ou filósofo que o classifique – não me atrevo a rotular. Direi apenas que prometeu ao seu povo preservar e melhorar o seu bem estar, opondo-se a ver retalhada a sua pátria, em nome de interesses que lhe são alheios e às condições draconianas de um “memorando” imposto pelos credores e que não tinha sido subscrito por si.
Em nome de objectivos semelhantes nasceram na Europa vários novos partidos idênticos, precisamente em países em situações idênticas, que lançaram o pânico entre os tradicionais partidos políticos, levando-os a uma extremada defesa da sua existência, através de um ataque às intenções dos dirigentes do Tsipras, tentando descredibilizá-lo, vergar os seus propósitos e caluniar sistematicamente o povo que votou nele.
Assim, a irredutível posição dos credores da Grécia, mais do que a defesa do dinheiro que investiram naquele país, é uma tentativa de evitar perder muito mais, ou seja, que o que se passou nas últimas eleições gregas não contagie outros povos na mesma situação. Passos Coelho bem o admitiu quando confessa que o que está em causa é o “contágio político”.
Até que isto se resolva, apesar de muitos dirigentes desta Europa a várias velocidades e situações económicas distintas terem afirmado que é necessário rever as regras do Euro, dos Tratados Orçamentais, Dívidas Soberanas, Défices e o respectivo Pacto de Estabilidade e Crescimento, nada mexe.
Mexe o Governo português que, em vésperas de eleições, não se cansa de afirmar que vivemos num país das maravilhas, produto do “memorando”, não tantas como aquelas que prometeu quando subiu ao poder porque, essas, eram um “mito urbano”!
Luis Barreira