A sopa dos políticos

Desta vez, o caldo social está de tal forma azedo, que os políticos portugueses vão ter muito que trabalhar para convencer os eleitores a comer a sua sopa.

O que está em causa, para que nas próximas eleições legislativas os partidos políticos obtenham resultados capazes de proporcionar a governabilidade do País, não é somente fazerem-nos acreditar nos seus projectos para Portugal e o seu povo, para nos fazerem sair do atoleiro económico e social em que estamos afundados mas, e talvez o mais importante, a natureza responsável, ética e moral, para empreenderem aquilo que prometem, sem resvalarem, individual ou colectivamente como grupo, para a mentira, o oportunismo e a fraude.

E isto aplica-se igualmente, quer aos partidos que hoje nos governam, quer à oposição que nos pretende governar.

A actual legislatura, pelas circunstâncias em que se desenrolou, tem sido pródiga em exemplos criticáveis daquilo que se poderia ter feito e que não se fez, e daquilo que foi feito e não se deveria fazer. Quando um Governo, que tem a obrigação de conhecer intimamente a situação económica e social do país que vai governar, o recebe nas condições em que o recebeu, assumindo sem pestanejar as imposições do auxílio económico que nos foi prestado como a única solução para superarmos as nossas deficiências, propondo-se ir para além da Troika nas dificuldades que impôs ao seu povo e às gerações futuras, não pode agora, em vésperas de eleições, criticar a Comissão Europeia pelo recente raspanete de que foi alvo, pelo facto do desemprego estar muito alto, as desigualdades sociais estarem maiores e os níveis de pobreza terem aumentado significativamente. E não pode contestar a Comissão porque esta foi a política que o Governo assumiu como sua, independentemente de ter sido encomendada pela Troika de credores.

E habitue-se à ideia de que, após a saída “limpa” do programa de assistência financeira e face aos valores crescentes da dívida nacional (uma das maiores do mundo), que só poderá descer se o PIB crescesse duas vezes mais do que aquilo que está previsto, o que nos espera são mais umas encomendas de PECs, iguais ou piores do que aqueles que foram rejeitados no passado, por estas mesmas forças políticas que agora nos governam. Razões que, somadas a tantas outras e que tantos prejuízos nos causaram, fazem desta coligação uma sopa gelada para grande parte dos eleitores.

Mas o somatório de asneiras, disparates e torpes convicções que, para mal de Portugal e dos portugueses este Governo nos causou, não podem servir de conforto a uma oposição incapaz de nos mostrar, para além de medidas avulsas, um caminho delineado e credível para um futuro melhor.

Além disso, as recentes declarações do secretário-geral do Partido Socialista, num encontro com a comunidade chinesa no País, afirmando o seu «grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela que estava há quatro anos», deixa-nos a todos perplexos. Será que António Costa já se sente como Primeiro-Ministro a fazer um discurso de Estado para estrangeiros? Acredita no que disse ou pensa que poderia iludir os estrangeiros residentes no País, sem que mais ninguém soubesse? Mais afirmações como esta, e a sopa do PS acabará queimada!

Não basta ao PS arvorar os resultados que tem tido na gestão da Câmara de Lisboa, nomeadamente quando muitas taxas e taxinhas (para além dos perdões fiscais previstos ao Benfica) estão a preocupar os moradores da capital, para se sentir um inevitável futuro Governo. Os portugueses agora estão mais exigentes com os seus políticos. Não basta parecê-lo, é preciso sê-lo!

Com nódoas do seu próprio caldo está igualmente o cidadão Passos Coelho, que esteve cinco anos sem pagar as suas contribuições para a Segurança Social (de 1999 a 2004), quando trabalhava a recibos verdes. E agora, após a denúncia nos jornais, foi a correr pagar o que devia, mesmo que o “crime” já tivesse prescrito (ganhando mais uns anitos para a reforma). Este antigo deputado, economista, gestor de várias empresas e agora PM, diz que ignorava que tinha de pagar (uma ignorância agora muito comum nos inquiridos pela Comissão de Inquérito ao caso BES). Curiosa desculpa foi a de que a culpa foi da Segurança Social que não o notificou, esquecendo-se também, o agora Primeiro-Ministro, de que ninguém pode invocar o desconhecimento da Lei para não a cumprir. E se todos nos esquecêssemos de pagar os impostos e as contribuições?

A continuarmos assim, ou a comunidade política portuguesa encontra dirigentes à altura do seu cargo, ou o povo acabará por entornar o caldo….

Luis Barreira

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