Segundo os dados revelados recentemente pelo insuspeito INE (Instituto Nacional de Estatística) de Portugal, quase dois milhões de portugueses vivem com menos de 411 euros mensais. E, se não fossem as pensões de reforma, de sobrevivência e os apoios sociais, quase metade da população portuguesa estaria em risco de pobreza.
Se bem que isso não constitui uma novidade para quem “anda na rua” e assiste diariamente ao drama das pessoas a gerir os seus parcos rendimentos, para o Governo do País parece que também não, ao retorquir que isso foi em 2013… Como se, durante o ano de 2014, tivesse havido uma inversão destes valores.
“Esquecidos” que, em 2014 e face ao acentuado decréscimo do poder de compra de uma grande parte da população (entre 2011 e 2014 diminuiu 11,6% para os trabalhadores do sector privado e 22,1% para os do sector público, aumentando igualmente o fosso entre ricos e pobres), houve uma redução dos rendimentos das pessoas (apenas minimizada pelas decisões do Tribunal Constitucional, contra o próprio Governo), prometem agora os governantes que, quase de certeza em 2015, ou talvez em 2016 (2017, 2018, etc.), a situação vai melhorar.
Por outro lado, de cada vez que o emprego ou a situação económica nacional aumenta algumas décimas, todo o Governo vem para a praça pública “lançar foguetes” sobre a “mudança” que se operou no País e que agora é que é (?!) Quando os dados são negativos limita-se a afirmar que “estava previsto” ou tal se deve a “causas externas”.
Hoje, no início de 2015, com a dívida nacional a não parar de aumentar e a perspectivar sérios problemas para quem vier a seguir e a população a suportar uma carga de impostos que, disfarçados de impostos “verdes”, é ainda superior à do ano passado, o Governo de Passos Coelho continua a querer fazer-nos sonhar e, desta vez, em vésperas de eleições.
Como todos nos recordamos das promessas eleitorais feitas pelo Chefe do Governo, antes de iniciar as suas funções (não aumentar impostos, resolver os problemas nacionais cortando nas gorduras do Estado, crescimento económico, etc.), o sonho prometido agora é, para a grande maioria dos portugueses, um verdadeiro pesadelo! Um pesadelo que não se afigura apenas na pauperização do País e da maioria dos seus habitantes, mas igualmente nas asneiras e na incompetência de muitos dos seus ministros, no cumprimento das suas funções, como tenho relatado.
Mesmo aquele que é considerado o mais competente, Paulo Macedo (ministro da Saúde), a sua atitude ao afirmar que “não é assustador” terem morrido 700 pessoas nos primeiros vinte dias deste ano, atribuídas à falta de cuidados médicos nos hospitais, anda a “remendar” quotidianamente os cortes que fez no sector da saúde, em nome do “sacro santo” défice, como se tivesse esquecido que, num País envelhecido e com pensões e reformas de miséria que, para além de assumirem a ajuda económica às suas famílias, mal dão para pagar os medicamentos dos mais idosos, era necessário, em termos de planeamento da saúde pública, dotar o sistema dos meios necessários para evitar esta calamidade.
Para além disso, e a avaliar pelas declarações de Passos Coelho e o respectivo coro de comentadores políticos que lhe são próximos e dos Governos dos quais é um servo obediente, temo que a próxima justificação para o colapso do nosso imprescindível desenvolvimento económico e das metas a que se propôs o Governo seja a influência da situação grega na política europeia. À falta de uma análise séria sobre a forma como o euro foi instituído na Europa e a diferença abismal entre o estado das suas diferentes economias nacionais, que nos colocam eternamente como devedores e sujeitos a um espartilho que nos impedem de evoluir, antes regredir, nada melhor que um “inimigo externo” para unir as suas “hostes”.
Mas, enquanto existirem democracias nacionais, enganam-se todos aqueles que consideram que as escolhas políticas dos povos se devem submeter às regras do euro, impulsionadas por aqueles que só têm a ganhar com as normas que impuseram. Se tivesse de ser assim os sistemas políticos das nossas democracias ocidentais não tinha razão para existir.
Por isso, se o Primeiro-Ministro português considera que aquilo que os portugueses têm passado e o que pensam para o seu futuro está na mesma linha daquilo que apelidou para o desfecho das últimas eleições gregas, ou seja, uma “brincadeira de crianças”, pode ser que “o tiro lhe saia pela culatra”.
Se mudar de opinião (o que já não seria a primeira vez), o povo dirá: “à primeira caímos todos, à segunda cai quem quer…”.
Luis Barreira