Crucem tuam adoramus, Domine!

A RELÍQUIA DO MADEIRO DA VERDADEIRA CRUZ DE JESUS CRISTO

Crucem tuam adoramus, Domine!

A Cruz, na qual Jesus Cristo foi crucificado, tornou-se uma das mais famosas relíquias de toda a Cristandade. A Verdadeira Cruz de Nosso Senhor é a maior e mais preciosa de todas as relíquias. É somente perante ela, de entre todas as outras relíquias, que os fiéis cristãos são instruídos a fazer uma genuflexão. Todas as demais imagens e relíquias – sejam de Nosso Senhor ou de qualquer um dos santos – são veneradas apenas com uma inclinação. Um fragmento da Santa Cruz, Lignum Crucis, foi levado durante a Procissão de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, no passado dia 10 de Março, pelo bispo de Macau, D. Stephen Lee. Aproveitamos para louvar esta relíquia, pouco conhecida pelos fiéis e, consequentemente, não muito reverenciada.

Quem participou na última Procissão de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, pôde observar atentamente o bispo de Macau a caminhar com o relicário da Lignum Crucis. Salientamos dois detalhes, a fim de entendermos a importância da veneração da Santa Cruz, e o quanto está próxima da veneração da Eucaristia: (1) o dossel e (2) o véu umeral que D. Stephen Lee usou para transportar a relíquia da Cruz, sobre o manto pluvial que envergava. Estas duas peças – dossel e véu umeral – são geralmente usadas durante a procissão do Santíssimo Sacramento, sendo que neste caso o manto pluvial e o véu umeral são brancos ou dourados.

Outro aspecto a destacar é o facto de no final da procissão o bispo ter dado a benção com a relíquia da Verdadeira Cruz, do mesmo modo que é dada a bendição com o Santíssimo Sacramento.

Esta relíquia (fragmento) pode ser visitada e venerada em Macau, na igreja da Sé Catedral. Encontra-se num altar do lado direito da nave central da igreja, onde o coro geralmente actua durante as cerimónias religiosas.

A DESCOBERTA DA SANTA CRUZ

Por inspiração divina, a imperatriz Helena uniu-se aos fiéis de Cristo, ao lado do seu filho, o imperador romano Constantino I – legalizou o Cristianismo em 312 d.C. –, e aos oitenta anos, não querendo morrer sem antes ter rezado na terra onde o Senhor viveu, morreu e ressuscitou, partiu em busca da mais procurada relíquia: a Cruz de Jesus. Ao chegar à Terra Santa, trezentos anos depois da crucificação do Senhor, nos locais da crucificação e inumação (Calvário e Santo Sepulcro), foi necessário demolir dois templos de culto pagão, dedicados a Júpiter e Vénus, que foram construídos pelo imperador Adriano com o intuito de apagar os vestígios da passagem de Cristo pela terra.

São Jerónimo (347-420 d.C.) escreveu numa das suas cartas: “Desde os tempos de Adriano até ao Império de Constantino, durante um período de uns 180 anos, no lugar da Ressurreição prestava-se culto a uma estátua de Júpiter, e no rochedo da Cruz a uma imagem de Vénus em mármore, ali colocada pelos gentios. Os autores da perseguição imaginavam, sem dúvida, que se contaminassem os lugares sagrados por meio dos ídolos nos iam tirar a fé na Ressurreição e na Cruz”.

No Gólgota, a Cruz foi desprezada num buraco feito no chão, juntamente com as dos dois ladrões que foram crucificados ao lado de Jesus. Helena acabou por encontrar as três cruzes. Mas qual delas pertencia a Jesus de Nazaré? A Cruz de Cristo pôde ser reconhecida graças aos restos do “titulus”, letreiro (tábua), mandado colocar por Pilatos na Cruz, que também foi encontrado com a inscrição: Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum (INRI), “Jesus Nazareno Rei dos Judeus”, escrito em três línguas: Hebreu, Grego e Latim. Parte desta placa está guardada na Basílica da Santa Cruz de Jerusalém, em Roma.

Para se certificarem da sua veracidade, o então bispo de Jerusalém teve uma ideia: pediu a uma mulher que sofria de doença considerada incurável para tocar no madeiro. Ao tocar numa das três cruzes, ficou imediatamente curada. Helena não teve a menor dúvida: tinha encontrado a Cruz de Cristo! Prontamente ordenou a construção de uma igreja no local da descoberta – atribuiu-lhe o nome de “Igreja da Ressurreição” – e regressou a Roma. Santa Helena deixou a maior parte das relíquias em Jerusalém, mas algumas transportou-as consigo.

Santo Ambrósio (339-397 d.C.) conta o vislumbre da mãe de Constantino na antiga Jerusalém: “O Espírito Santo inspirou-a a procurar o madeiro da Cruz. Ela aproximou-se do Gólgota e disse: «Este é o lugar do combate: onde está a Tua vitória?»”.

São Cirilo de Jerusalém (315-386 d.C.) foi dos primeiros a falar sobre a veneração da Santa Cruz, nos seus sermões catequéticos (proferidos entre 348 e 350 d.C.).

A CRUZ ENQUANTO IMAGEM DE CRISTO

A Cruz merece especial veneração e adoração, pois é a imagem de Cristo, é a imagem do Salvador. Mais do que a imagem da Divina Misericórdia e do que outras imagens, para além de pinturas, ícones e esculturas feitas com as proporções do corpo de Cristo, a Cruz representa o Filho de Deus como Seu ícone perfeito.

As próprias Escrituras testemunham, de acordo com a interpretação dos Pais e Doutores da Igreja, que a Cruz é o «Sinal do Filho do Homem» (Mateus 24:30). Além disso, Cristo é identificado como «aquele que foi crucificado». Embora muitos eventos tenham ocorrido durante a Sua vida, é a crucificação que realmente define quem Ele foi e é para nós. Portanto, mais do que qualquer outra imagem, é a Cruz que representa a Pessoa do Nosso Salvador.

A Verdadeira Cruz é a única relíquia celebrada no Calendário Litúrgico Romano. A denominada “Festa da Exaltação da Cruz” assinala-se a 14 de Setembro.

Apesar de considerar que a adoração é devida, em primeiro lugar, somente a Deus, ou seja, adoramos apenas a Essência Divina (a Santíssima Trindade) como fim único, São Tomás de Aquino defende que a Igreja adora, na realidade, a Verdadeira Cruz, uma vez que colocamos a nossa esperança salvífica no madeiro da Cruz. Esta é enaltecida e perfeitamente unida à Pessoa de Jesus no plano da Salvação, pois foi através do madeiro da Cruz que o Salvador nos redimiu. Mais: o madeiro foi saturado com o mais precioso sangue de Jesus Cristo. Ao ser carregado pelos ombros de Cristo, foi santificado pelo contacto do Seu Corpo.

Este papel único e especial da Cruz é proclamado pela Igreja: “Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus, que remistes o mundo pela Vossa Santa Cruz” – a Santa Mãe Igreja não fala deste modo sobre nenhuma outra relíquia.

A Sagrada Escritura conta a história de Simão de Cirene, o homem que foi chamado para ajudar a levar a Cruz de Jesus (Marcos 15:21). Embora não saibamos mais nada sobre a sua vida, o Evangelho regista que os seus filhos, Alexandre e Rufo, tornaram-se missionários e importantes figuras da comunidade cristã em Roma. O acto de compaixão de Simão ficou imortalizado na Quinta Estação do Caminho da Cruz (Via-Sacra).

UMA CRUZ PARA O MUNDO

Escondida muitas vezes e depois redescoberta em diversos lugares, fragmentada em pequenos pedaços, a preciosa relíquia seguiu diversos rumos.

O maior fragmento da Santa Cruz está na Grécia, no mosteiro do Monte Athos. Outros fragmentos significativos encontram-se em Roma, Bruxelas, Veneza, Ghent e Paris.

O Papa Bento XVI, na sua visita ao Santuário de Lourdes, em Setembro de 2008, aquando das comemorações dos 150 anos das aparições de Nossa Senhora, disse na homília: «Saberemos nós entender que, no Crucificado do Gólgota, a nossa dignidade de filhos de Deus, ofuscada pelo pecado, nos foi restituída? Voltemos o nosso olhar para Cristo. É Ele que nos fará livres para amar como Ele nos ama e construir um mundo reconciliado. Pois, nesta Cruz, Jesus tomou sobre si o peso de todos os sofrimentos e injustiças da nossa humanidade. Carregou as humilhações e as discriminações, as torturas padecidas, pelo amor de Cristo, em tantas regiões do mundo por nossos irmãos e irmãs sem número».

É sabido que muitas igrejas na Europa constituem autênticos tesouros de antigas relíquias. Contudo, a maioria fica aquém da extensa “colecção” da antiga Basílica da Santa Cruz de Jerusalém, construída durante o século IV em Roma. Localizada no bairro de Equilino, local de muitas comunidades étnicas de Roma, a Basílica da Santa Cruz de Jerusalém (Santa Croce in Gerusalemme) deve o seu nome à mais preciosa das relíquias que a mesma abriga: fragmentos da Santa Cruz encontrados exactamente no local onde Jesus foi crucificado. No chão da basílica foi colocado solo da cidade de Jerusalém, como forma a mover parte da cidade-santa para Roma.

Jesus disse-nos que quem quiser segui-Lo deve carregar a sua cruz (Lucas 9:23), e o Evangelho coloca-nos na pessoa de Simão de Cirene. Mas a Cruz não é apenas sofrimento; ela fala-nos de muitas maneiras e exige-nos que meditemos nela, pois na Cruz de Cristo, na sua essência, vemos o amor de Deus. Ali Jesus fala-nos: Olhem para mim, aqui na Cruz, e vejam que Eu vos dei tudo até ao meu último suspiro. «Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. Ninguém ma tira, mas eu ofereço-a livremente». Eu sofri as vossas dores, as vossas decepções, o vosso desespero, a vossa solidão. Eu paguei pelos vossos pecados e «dei a minha vida para que vocês possam ter vida, e tê-la em abundância. No mundo tereis tribulações, mas tomem coragem, Eu venci o mundo!».

Santo André de Creta (650-740 d.C.) falava que a glória e a exaltação de Cristo estava na Sua Cruz: “Se não houvesse a Cruz, Cristo não seria crucificado. Se não houvesse a Cruz, a Vida não seria pregada ao lenho com cravos. Se a Vida não tivesse sido cravada, não brotariam do Seu lado as fontes da imortalidade, o sangue e a água, que lavam o mundo. Não teria sido rasgado o documento do pecado, não teríamos sido declarados livres, não teríamos provado da árvore da Vida, não se teria aberto o Paraíso. Se não houvesse a Cruz, a morte não teria sido vencida e não teria sido derrotado o inferno”.

Jesus na Sua sabedoria deixou-nos estas palavras: «E Eu, quando for erguido da terra, atrairei todos a mim» (João 12:32).

Quando traçamos o Sinal da Cruz nos nossos corpos, unimo-nos aos nossos irmãos em Cristo. Ao mesmo sinal, as nossas cruzes unem-se e formam uma corrente invisível que nos liga a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Crucem tuam adoramus, Domine!“Adoramos, Senhor, a Tua Cruz!”.

Que a Cruz de Jesus caminhe cravada nos nossos corações.

Miguel Augusto 

e padres José Mario Mandía e Ryan Erlenbush, Aleteia e EWTN

 

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