O Jubileu da Misericórdia
Sábado, 11 de Abril de 2015. Na Vigília do Domingo da Divina Misericórdia, na Basílica de São Pedro no Vaticano o Papa Francisco leu a Bula de proclamação do Jubileu. O Papa entregou depois a Bula aos Cardeais Arciprestes das quatro basílicas papais de Roma, a alguns representantes da Igreja em todo o mundo e aos Protonotários apostólicos. De seguida, alguns excertos foram lidos diante da Porta Santa da Basílica Vaticana. 2016 será pois um Ano Santo da Misericórdia!
Já aqui falámos de Jubileus, comemorações religiosas da Igreja Católica, celebrada dentro de um Ano Santo, de 25 em 25 anos. Com fundamentos bíblicos, desde a tradição judaica do Antigo Testamento, até ao Novo Testamento, o Jubileu é uma festa da alegria, de festa, do perdão, de regresso à Casa do Pai, como referia São Marcos.
Depois do Grande Jubileu de 2000, temos agora, em moldes diferentes, um Jubileu, Extraordinário, consagrado à Misericórdia, pois «a Igreja vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva», recordando a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, texto fundamental do Papa Francisco que permanece como a carta programática do seu pontificado. É a partir deste sentimento que se deve ler a Bula de Proclamação do Jubileu “Misericordiae vultus”, onde o Papa Francisco descreve as finalidades do Ano Santo, no qual se comemora o Jubileu, entre 8 de Dezembro de 2015, Solenidade da Imaculada Conceição (e nesta data, comemoração dos 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II), e o Domingo do Cristo Rei, a 20 de Novembro de 2016.
Um Jubileu que dará, refira-se, uma especial atenção às «periferias» existenciais da humanidade, além de incentivar a que cada um dê «pessoalmente testemunho da proximidade e da atenção aos pobres». Onde se deverá encontrar a alegria da redescoberta e de tornar fecunda a misericórdia de Deus. Daí o lema escolhido, “Misericordes Sicut Pater” (“Misericordioso como o Pai”, inspirado em Lucas 6,36). Mas não contemplar apenas a Misericórdia, antes essencialmente vivê-la. Pois a Misericórdia é o rosto de Cristo, logo um estímulo à transformação interior de cada um e um tónico para a mudança, individual, social, a todos os níveis humanos. Poderemos identificar, a partir da convocatória papal, três ideias fundamentais para este Jubileu: procurar e imitar Jesus Cristo, o rosto da Misericórdia do Pai; a misericórdia é a palavra que revela o Mistério da Santíssima Trindade; e é também a viga, ou pilar, que sustenta a vida da Igreja e do cristão.
Um ano para se viver com sentido de peregrinação, sentido de vida, a qual é o caminho para a porta do Reino de Deus. Um caminho simbolizado pelas quatro Basílicas Maiores de Roma, pela abertura das suas Portas Santas, a primeira a de São Pedro, depois Latrão (e das catedrais em todo o mundo), seguida de Santa Maria Maior e por fim São Paulo Fora de Muros. Como vimos, catedrais, basílicas e santuários de todos o mundo serão também abertos, como também nas prisões e hospitais, para fazer chegar a misericórdia a todos os que não possam ir às igrejas. Jubileu de inclusão, de todos, sem excluir ninguém. Assim anunciou o arcebispo D. Salvatore “Rino” Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, no dia 5 de Maio de 2015, quando apresentou, juntamente com Monsenhor Graham Bell, na Sala de Imprensa da Santa Sé, este Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Pela primeira vez na história dos Jubileus, anunciou D. Fisichella, existirá a possibilidade de se abrir a Porta Santa, ou da Misericórdia, em várias igrejas, especialmente nas catedrais ou noutras igrejas mais significativas, como também em Santuários mais importantes.
A maioria dos Jubileus decorre em intervalos de 25 e 50 anos. Este, o terceiro dos Jubileus Extraordinários os de 1933 e 1983 respeitaram o aniversário da Redenção realizada por Cristo), é antes de tudo um Jubileu temático, que radica a sua essência e força no conteúdo central da fé e recorda à Igreja a missão prioritária de ser sinal e testemunho da misericórdia em todos os planos da sua vida pastoral. A abertura ao Islão e aos Judeus por parte do Jubileu é também um apelo à misericórdia através do diálogo e da superação das dificuldades. Outro aspecto original será o envolvimento dos Missionários da Misericórdia neste Jubileu da Misericórdia e do Perdão. Os Missionários da Misericórdia serão enviados pelo Papa Francisco na Quarta-feira de Cinzas numa celebração na Basílica de São Pedro, sendo depois enquadrados e enviados pelos seus bispos a realizarem as missões que lhes são consignadas na Carta do Jubileu, na qual o Santo Padre, com efeito, dar-lhes-á a faculdade para perdoar também os pecados reservadas à Sé Apostólica. Anunciar a alegria do Perdão, pregar e viver a Misericórdia, administrar o sacramento da Reconciliação, estimulando a confissão, são as funções essenciais desta novidade jubilar.
Viver a misericórdia, na «proximidade e atenção aos pobres, aos que sofrem, aos marginalizados e a todos aqueles que precisam de um sinal de ternura», reverberou D. Fisichella, aludindo aos fundamentos deste Jubileu. Por ser também um Jubileu, logo a exaltação do Perdão, o Santo Padre, referindo que «o perdão de Deus não pode ser negado a quem quer que esteja arrependido, sobretudo quando com coração sincero se aproxima do Sacramento da Confissão para obter a reconciliação com o Pai», decidiu conceder a «todos os sacerdotes para o Ano Jubilar a faculdade de absolver do pecado de aborto quantos o cometeram e, arrependidos de coração, pedirem que lhes seja perdoado», o que é de facto uma das grandes novidades e singularidades do Jubileu. Ainda neste sentido de abertura e inclusão, o Papa Francisco decretou que durante o Ano Santo da Misericórdia, «todos os que se aproximarem para celebrar o Sacramento da Reconciliação junto dos sacerdotes da Fraternidade São Pio X, recebam validamente e licitamente a absolvição dos seus pecados».
Neste verdadeiro momento de encontro com a misericórdia de Deus, de alegria, de perdão, de indulgência e peregrinação, pretende-se que, com fé e esperança jubilosa, todos possam ter a experiência viva da proximidade com o Pai e acercar-se dos que mais precisam, da solidão e da dor, dando-lhes outro sentido, incluindo, apoiando e partilhando.
Para informar e divulgar o Jubileu, existe assim um site oficial, www.iubilaeummisericordiae.va, o qual está disponível em sete línguas: Italiano, Inglês, Espanhol, Português, Francês, Alemão e Polaco.
Vítor Teixeira
Universidade Católica Portuguesa