A Imprensa Vaticana

Informação e Comunicação

A Imprensa ocupa um lugar importante na Igreja Católica desde há muito tempo. Informar, comunicar, divulgar, esclarecer e difundir são os motes da Imprensa católica, no propósito de edificação, clarificação e propagação da fé. Do jornal católico paroquial, ou diocesano, passando por vários níveis e instituições, até ao epicentro da Igreja, a Santa Sé, a Imprensa católica é uma das estruturas capilares mais importantes e decisivas para a disseminação do legado de Cristo. Deste modo, hoje recordaremos aqui a Imprensa vaticana, publicada pela Sé Episcopal de Roma, a Santa Sé (ou Sé Apostólica), ou seja, o Magistério papal. A Sala de Imprensa da Santa Sé e o L’Osservatore Romano são os expoentes máximos da comunicação e informação escritas emanadas da Santa Sé. De referir que não esgotam nem os meios de comunicação e informação vaticanos (que incluem, por exemplo, rádio e televisão), além de que cumpre recordar a existência de um dicastério criado pelo Papa Francisco, intitulado Secretariado para as Comunicações (em 27 de Junho de 2015), que detém a autoridade sobre todos os meios de comunicação da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano, onde se incluem o Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, a Sala de Imprensa da Santa Sé, o Serviço de Informações do Vaticano (Vatican Information Service, ou VIS), a Rádio Vaticano, o Centro Televisivo Vaticano (CTV), o L’Osservatore Romano, a Tipografia Vaticana, o Serviço de Fotografia e a Libreria Editrice Vaticana, além do website oficial da Santa Sé e do sítio informativo www.news.va

Hoje falaremos da Imprensa, ou seja, da Sala Imprensa da Santa Sé e do L’Osservatore Romano, além do VIS. A Sala de Imprensa da Santa Sé (em italiano, “Sala Stampa della Santa Sede”) é um organismo da Primeira Secção da Secretaria de Estado, dita dos “Assuntos Gerais”, que tem, entre as suas várias incumbências, também a função de velar sobre os órgãos de comunicação oficial da Santa Sé e cuidar da publicação das “Acta Apostolicæ Sedis” e do “Anuário Pontifício”. A Sala de Imprensa é um “serviço especial” que tem como função essencial a divulgação de todas as notícias e as comunicações oficiais que dizem respeito ao Santo Padre e às actividades da Santa Sé (de acordo com a Constituição Apostólica Pastor Bonus, nº 43, 28 de Junho de 1988). É dirigida actualmente pelo padre Federico Lombardi, S.J., desde 2006.

As suas raízes mergulham no Serviço de Informação do L’Osservatore Romano, que foi criado em 20 de Fevereiro de 1939, ao qual se adjudicou a tarefa de transmitir informação aos jornalistas de todo o mundo acreditados junto da Santa Sé. Durante o Concílio Vaticano II (1962-65) foi criada uma sala de imprensa, um organismo informativo, para serviços de informação conciliar, a qual não se encerrou porém com o fim dos trabalhos. Tendo sido então sujeita à Pontifícia Comissão para as Comunicações Sociais, seria convertida no Serviço de Imprensa da Santa Sé criado em 1966, o qual absorveu a anterior sala de imprensa. O laborioso Papa João Paulo II, de boa memória, estabeleceu novas directrizes organizativas para aquele serviço em 1986, através de carta da Secretaria de Estado, pela qual definiu, essencialmente, que aquele Serviço de Imprensa «é o serviço da Santa Sé encarregado de difundir as notícias referentes aos documentos do Sumo Pontífice e a actividade da Santa Sé», gozando por isso da sua «própria autonomia operativa» na realização do seu trabalho, tal como o L’Osservatore Romano, a Rádio Vaticano e o Centro Televisivo Vaticano. Publica quotidianamente um Boletim, além de outro boletim por ocasião das Assembleias do Sínodo dos Bispos, o “Synodus Episcoporum”, publicações estas, todas, em várias línguas.

No âmbito desta sala de imprensa, foi criado em 28 de Março de 1990 o Serviço de Informações do Vaticano (VIS, de Vatican Information Service), um novo sistema informativo da Santa Sé que proporciona todos os dias, principalmente às representações diplomáticas pontifícias, os bispos de todo o mundo e a outras Instituições, oportunas informações sobre a actividade magisterial e pastoral do Papa e da Santa Sé (multilingue), por e-mail e por fax, além da presença na Internet.

O jornal L’Osservatore Romano começou a sua publicação a 1 de Julho de 1861, embora existisse em 1849 um periódico com a mesma designação, dirigido pelo padre Batelli, também de cunho católico e fechado em 1852, quando já se chamava O Constitucional. O L’Osservatore Romano é um jornal diário político-religioso, conforme declara no cabeçalho, tendo sofrido ao longo do tempo profundas transformações para responder melhor às expectativas dos Papas até à actualidade. É publicado diariamente (excepto aos Domingos), ao princípio da tarde (com a data do dia seguinte) em italiano e semanalmente noutras línguas, como o Português, na Cidade do Vaticano, do qual é como que o “jornal nacional”. Não é um órgão oficial, refira-se, apesar de ser publicado no Vaticano. Pode-se dizer pois que é “semi-oficial”, pois publica outro tipo de notícias, com linha editorial própria. Dá cobertura a todas as actividades públicas do Papa, de forma noticiosa ou de forma documental, publica editoriais escritos por altas figuras da Igreja, além de trazer à estampa os documentos oficiais da Santa Sé, depois de devidamente autorizados.

No topo da primeira página, duas citações: Unicuique suum (“A cada um o seu”, fórmula do Direito Romano, e outra, de São Mateus, Non praevalebunt (“não prevalecerão”, as “portas do inferno”, entenda-se). Em formato “berlinense”, tem oito páginas, tendo sido introduzida a cor nos últimos anos. Com dimensão universal, visando o encontro entre a Fé e a Razão, os valores humanos fundamentais, possui um carácter documentário e ao mesmo tempo jornalístico, com informação sobre a vida internacional, temas culturais, questões no seio da Igreja em todos os continentes, dedicando particular atenção ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso.

Por fim, refira-se que não se deve interpretar os textos do L’Osservatore Romano como se detivessem valor oficial e absoluto para o Magistério da Igreja. Mesmo um editorial escrito por uma autoridade muito importante na hierarquia da Igreja pode não ter esse valor, mesmo que se aproxime, sendo muitas vezes referido que se não é mais do que uma opinião pessoal de autor e não uma posição oficial da Igreja. Todavia, a importância do jornal é capital na Igreja, símbolo da sua atenção crescente para a informação e a comunicação.

Vítor Teixeira 

Universidade Católica Portuguesa

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