Não é raro encontrar nas redes sociais ou na Imprensa acusações à Igreja como um todo, como se os desvios comportamentais de poucos fossem os mesmos de uma maioria. Esta espécie de generalização pela qual pelos desmandos de uns pagam praticamente todos, parece ser uma coisa única do ponto de vista geral e social no que toca à Esposa Mística de Cristo. Mesmo entre a classe política, uma das mais descredibilizadas dos nossos dias, não parece que esta espécie de generalização seja tão mórbida. Se alguns políticos foram acusados de corrupção, não significa que a classe política seja toda corrupta. A democracia teima em sobreviver, apesar de personagens sinistros que continuam a assombrá-la. Os partidos políticos permanecem, apesar dos julgamentos e condenações que se fazem a alguns dos seus membros. Seria indigno e injusto julgar todos pela mesma bitola, como se um partido todo, uma mesma classe, ou toda a democracia, estivesse apodrecida. O mesmo poder-se-ia dizer das forças de segurança. Existe corrupção? Sem dúvida, mas isso não significa que não haja uma maioria de homens e mulheres despretensiosos e honrados, idealistas, que doam as suas vidas pelo bem-estar do próximo. Esses, têm de ser apoiados, e não condenados pela opinião pública devido aos seus maus colegas. Seria tragicamente injusto se homens que estão dispostos a dar a sua vida a cada dia fossem sempre ostracizados por causa da má conduta de alguns péssimos colegas seus. Como se eles não sofressem com isso, com os que dão mau exemplo quando eles se esforçam para serem exemplares. O mesmo poder-se-ia dizer dos médicos, dos juízes, ou de qualquer categoria profissional, pois em todas existem bons e maus profissionais, por vezes muitos e bons, raras vezes alguns realmente maus. Os bons devem ser apoiados, os menos bons auxiliados, os realmente maus julgados e, conforme o caso, justa e exemplarmente condenados.
Hoje, diante dos mais terríveis atentados terroristas, a Imprensa mundial tem o cuidado de isolar os casos e salientar que o Islão em geral não pactua com esses actos desumanos e arrasadores. E lembra continuamente a necessidade de acolher os refugiados, homens e mulheres dilacerados pelas circunstâncias em que vivem e que são os primeiros a sofrer com a violência e os radicalismos nas suas próprias nações. Realmente, não podem ser todos terroristas, e todo um povo, ou toda uma religião, não poderá pagar pelos fanatismos e desvios de alguns. Despertam-se, então, sentimentos de compaixão. Pobres são os inocentes. Coitados dos que não têm culpa nenhuma. Quanto sofrimento o dos refugiados… Movem-se e comovem-se nações inteiras, destinam-se fundos internacionais, recebem-se as vítimas e inocentes, culpabilizam-se e perseguem-se os culpados. Ora, tudo isto é muito claro, lógico, coerente. Mas só não é assim com uma instituição ou uma religião. Enquanto todas as demais, a Imprensa e as autoridades mundiais e globalistas tendem a desculpar o todo por causa da atitude de alguns, com a Igreja Católica seguem lógicas contrárias: Se um padre é degenerado, é como se todos tivessem problemas, se um bispo escondeu casos delicados, é como se todas as autoridades pactuassem com o crime, se alguns cometeram desmandos financeiros ou morais, a culpada é sempre a Igreja, e todos os religiosos e religiosas são linchados sumariamente pela opinião pública. Ainda recentemente lia nas redes sociais um debate sobre o aborto, realizado por pessoas ditas cultas, uma delas formada em psicanálise, levarem a discussão para a culpa dos padres abusadores e por isso haver a necessidade de exterminar os inocentes dos ventres. Bom, mesmo por uma opinião abestalhada, não vou considerar os psiquiatras todos culpados, embora conheça uns quantos psicopatas entre eles… a começar por Freud (bastaria ler a vida dele) e a terminar na doida varrida que defendia esse argumento. Entre eles, todavia, prefiro vislumbrar uma maioria séria e profissional. Pela perversidade e injustiça de uma destrambelhada, não vou julgar toda uma classe profissional digna e honesta. Mas defender o aborto com base em padres abusadores, parece-me doentio. Uma sociedade doente a formar doentes de carteirinha. Doentes mentais. Enquanto uns não têm culpa de nascer assim, outros assumem o estatuto pela sua debilidade mental e perda de “lumen rationis”.
Nós, padres, não pedimos privilégios. Fui dos primeiros a defender uma purga e a condenação dos padres degenerados, verdadeiramente culpados, para trabalharem em paz e segurança a grande maioria daqueles que procuram ser fiéis ao seu ministério. A única coisa que se exige é que não julguem a todos por causa de alguns. Ainda recentemente, ouvia de um bispo um desabafo, pois um órgão de Imprensa estava a telefonar-lhe demasiado incomodado por não haver naquela diocese portuguesa nenhuma acusação contra qualquer padre. Esse mesmo órgão, com bastante visibilidade na Internet, havia aberto há algum tempo uma linha 24 horas para acusações de padres pedófilos. Não surtiu o efeito necessário, apesar das múltiplas denúncias anónimas e injustas, que não tiveram o mínimo pé para caminharem na justiça. Estavam agora incomodados, pois parece até existirem dioceses em Portugal sem nenhum caso. Já não podem iniciar um artigo sensacionalista a dizer que não escapa nenhuma Igreja local e que tudo e todos na Igreja estão podres e que a solução é obrigar todos os padres a casarem. A caça às bruxas do século XXI tinha sido interrompida abruptamente. O fogo da Inquisição moderna extinguir-se-ia para já. Ficam agora por publicar desmentidos oficiais, como alguns padres condenados e queimados pela Imprensa e absolvidos pela justiça, tal como o recente caso do padre da diocese de Setúbal que viu o seu nome manchado pela Imprensa nacional, por causa do suposto abuso de menores na paróquia, num dia em que ele provou até estar ausente. Absolvido pela justiça, mas não pelos jornalistas, que foram pródigos em condená-lo quando saíram as acusações, mas que silenciaram absurdamente quando decretaram a sua plena e total inocência. Um padre bom e virtuoso não vende jornais nem aplaca a desenfreada e alucinada loucura anti-clericalista dos tempos modernos. Desconfio que não há outra instituição à face da terra, até que me provem o contrário, que receba tanta ojeriza. Na História, estes fenómenos de perseguição à Igreja não serão os primeiros nem os últimos. Só não esperávamos que chegassem tão baixo e fossem tão obstinados e desonestos.
Pe. José Victorino de Andrade
Sacerdote ao serviço do Santuário de Fátima