A Chamada para a Grandiosidade (5)

Arranjando tempo

Era de madrugada naquela quinta-feira, dia 14 de Maio de 1981. No dia anterior, um turco, Mehmet Ali Ağca, disparara vários tiros contra o Papa João Paulo II durante a audiência semanal das quartas-feiras. Quatro balas atingiram o Papa, que foi imediatamente transportado para o Hospital Gemelli, onde foi operado de urgência. Miraculosamente João Paulo II sobreviveu aos ferimentos e foi transferido para a unidade de cuidados intensivos.

Às primeiras horas da madrugada o Papa recuperou a consciência, olhou para o seu secretário pessoal, Stanislaw Dziwisz (hoje cardeal e arcebispo de Cracóvia) e disse: «Ainda não rezámos as Completas». As Completas são a parte final da Liturgia das Horas, e o Papa pensava que ainda se estava na quarta-feira.

Dziwisz ficou impressionado com a observação do Papa. João Paulo II estava preocupado apenas com o seu encontro marcado com o Senhor.

Quão diferente é connosco. Temos tempo para as nossas coisas pessoais, mas para as coisas relacionadas com Deus, essas, podem ser adiadas, esquecidas, canceladas ou abreviadas.

Tomemos a Missa como exemplo. São Josemaría comentava assim: «Não é estranho que muitos cristãos – pausados e até solenes na vida social (não têm pressa), nas suas pouco activas actuações profissionais, na mesa e no descanso (também não têm pressa) – se sintam apressados e apressem o Sacerdote na ânsia de encurtar, de abreviar, o tempo dedicado ao Santíssimo Sacrifício do Altar?» (Caminho, n. 530).

Uma vez ouvi a história de um homem que se confessava crente, mas que tinha um grande defeito: adiava sempre todas as coisas. Chegava sempre tarde à Missa e quando era necessário ajudar alguém, ou se estava na altura de rezar, dizia muitas vezes: «mais tarde».

Um dia faleceu e tal não foi a alegria quando se encontrou às portas do Paraíso. E ainda melhor ficou quando São Pedro apareceu, olhou-o sorriu-lhe.

«Posso entrar agora?»

«Mais tarde!», respondeu São Pedro.

Jesus disse à mulher samaritana: «Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e que é quem te diz “dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias e Ele havia de dar-te água viva (João 4:10)».

Se apenas soubéssemos os dons que Deus derrama sobre nós durante as orações e nos sacramentos, dedicaríamos os nossos corações às coisas de Deus. Se nós dedicássemos os nossos corações a essas coisas – de Deus – encontraríamos tempo para elas.

Vamos supor que um homem muito rico, que vive a uma hora de distância a pé da nossa casa, decidisse dar dez mil patacas, todos os dias às 5 da manhã, a quem quer que lho pedisse. Levantar-nos-íamos e iríamos a sua casa àquela hora da madrugada? Provavelmente até íamos. Bem, mas cada Missa é infinitamente mais valiosa que muitos milhões de patacas.

Assim, se quisermos ter mais tempo para o Nosso Senhor, necessitamos de O conhecer melhor. É por essa razão que precisamos de ler mais sobre Ele.

E, por falar nisso, já perguntou ao seu guia espiritual quais os livros espirituais que melhor coadunam consigo?

Pe. José Mario Mandía

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