Solenidade da Ascensão do Senhor
A Igreja é a comunidade dos amigos de Jesus
Os braços de Cristo em Ascensão abrem-se para acolher, mas também para enviar.
No dia 1 de Maio celebrámos o 25.º aniversário da fundação da paróquia de São José Operário. A arquitectura moderna da igreja é muito invulgar, em comparação com as outras igrejas – algumas bem mais antigas – de Macau. Por cima do altar, no centro do enorme mosaico em forma de cruz, está a imagem de Cristo ressuscitado a subir ao Céu, de braços abertos.
Costumo perguntar aos visitantes o que significa para eles a imagem de Cristo de braços abertos. A maior parte das pessoas vêem-na como um gesto caloroso e acolhedor: Cristo está a convidá-los para o banquete da Eucaristia, para uma comunhão mais profunda com Ele, para lançarmos sobre Ele todos os nossos medos e preocupações.
Outros entendem-no como um envio missionário, como descrito no Evangelho deste Domingo da Festa da Ascensão: «Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda criatura» (Mc., 16, 15), disse Jesus antes de ser elevado ao Céu. No final de cada Eucaristia, alimentada pelo Pão da Vida e cheia do Espírito de Cristo Ressuscitado, a comunidade cristã é enviada ao mundo (isto é, às suas famílias, aos seus locais de trabalho, às suas escolas, etc.), para testemunhar a Boa Nova de Jesus Cristo, tanto por palavras como, sobretudo, por acções.
Ambas as interpretações dos braços abertos de Jesus, o acolhimento e o envio, têm sido igualmente relevantes para a vida da paróquia de São José Operário. Há trinta anos, a zona norte de Macau, especialmente no Bairro de Iao Hon, adjacente às Portas do Cerco, era considerada insegura para viver e até para passear, sobretudo à noite. Na altura, a vizinha Areia Preta (Hac Sa Wan) tinha muitas fábricas de têxteis e muitos imigrantes ali viviam, a ponto de ter chegado a ser considerada a zona com a maior densidade populacional do mundo; o nível de vida era geralmente pobre e registava-se uma elevada taxa de criminalidade. Tanto do ponto de vista social como cultural, era de facto um ambiente diferente dos outros bairros históricos e mais conhecidos de Macau.
Dado que não havia qualquer igreja no segmento entre a Areia Preta e as Portas do Cerco, no início dos anos 90 os primeiros católicos começaram a reunir-se numa sala do Centro Pastoral do bairro, e lentamente – mas com toda a firmeza – tornaram-se numa das comunidades cristãs com maior dinâmica e alegria. Após a inauguração da nova igreja, em 1999, dedicada a São José Operário devido à presença de tantos trabalhadores no bairro, a comunidade continuou a crescer e a atrair cada vez mais pessoas, especialmente através do serviço de muitos leigos que ofereceram tempo e energia para os esforços de evangelização da paróquia recém-criada. A celebração do 25.º aniversário é uma homenagem a todos eles e uma acção de graças a Deus pelo crescimento que temos testemunhado há mais de duas décadas.
A presença da Igreja na zona norte da Península de Macau ilumina também o mistério da Ascensão, que não é a partida de Jesus, mas o início de um modo diferente de estar presente no mundo através da humanidade da Igreja. Como sublinhou o Concílio Vaticano II, “a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano” (Lumen gentium, 1). A Igreja “é o projecto visível do amor de Deus para com a humanidade, segundo o qual Deus quer que todo o género humano forme um só povo de Deus, se una num só Corpo de Cristo e se edifique num só templo do Espírito Santo” (Catecismo da Igreja Católica nº 776). Este é o sentido fundamental e a vocação da nossa paróquia de São José Operário e de todas as paróquias do mundo.
Nos últimos 25 anos, a realidade social, económica e cultural da zona norte mudou muito, e surgiram novas necessidades e desafios. A missão tornou-se mais exigente neste momento complexo da História. Isto não nos deve surpreender. Há muitos anos, o Papa João Paulo II sublinhava que “a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda muito longe de estar concluída […]. Uma visão de conjunto do género humano mostra que esta missão está ainda no início e que devemos empenhar-nos de todo o coração ao seu serviço. A actividade missionária renova a Igreja, revitaliza a fé e a identidade cristã, oferece um novo entusiasmo e um novo estímulo. A fé fortalece-se quando é dada aos outros! […] Mas o que me leva ainda mais a proclamar a urgência da evangelização missionária é o facto de ela ser o primeiro serviço que a Igreja pode prestar a cada indivíduo e a toda a humanidade no mundo moderno, um mundo que experimentou realizações maravilhosas, mas que parece ter perdido o sentido das realidades últimas e da própria existência” (excertos, editados, da Carta Encíclica Redemptoris Missio).
Durante a Festa da Ascensão deste ano, que cada um de nós possa ouvir o convite de Cristo, na verdade uma “comissão”, para continuar a missão que Ele confiou aos Apóstolos e, através deles, a cada um de nós.
Pe. Paolo Consonni, MCCJ