Um asteroide, peixes valiosos, almas perdidas: a recompensa de uma busca persistente
Fiquei entusiasmado ao ler a notícia de que o Clube de Astronomia, composto por alunos e professores da Escola Secundária Pui Tou, avistou recentemente um asteroide próximo da Terra, até então desconhecido. Embora a descoberta em si – a primeira deste tipo feita por uma escola local – tenha sido descrita pelo Clube como um “acontecimento”, houve, no entanto, muito trabalho por detrás dela.
O Clube foi criado há mais de uma década e tem persistido na pesquisa de asteroides desde então. Os seus responsáveis tiveram que aceitar e abraçar a escuridão da noite por um longo período antes de conseguirem avistar aquela pequena pedra brilhante no céu.
É um pouco como pescar. Se temos medo da água e não temos paciência, este não pode ser o nosso ramo de actividade. Primeiro, é preciso conhecer e aceitar o mar e todos os seus perigos, e depois ter muita persistência antes de pescar os peixes mais apreciados.
O Evangelho deste Domingo narra, mais uma vez, o apelo dos primeiros discípulos: «Caminhando pela praia do mar da Galileia, Jesus viu Simão e o seu irmão André a lançar as redes ao mar, pois eram pescadores. Então, dirigiu-se-lhes Jesus dizendo: “Vinde em minha companhia, e Eu vos tornarei pescadores de pessoas”» (Marcos 1, 16-17).
A expressão de Jesus pretende valorizar as capacidades dos dois discípulos como pescadores, que poderiam ser bem utilizadas na construção do Reino de Deus. Uma vocação nunca surge no vácuo: está enraizada na nossa história e experiências pessoais. O nosso passado nunca é descartado por Deus, porque faz parte do que somos. Em vez disso, o Seu chamamento redime e cura o nosso passado e prepara-nos para um novo futuro.
Alguns podem não gostar da metáfora de Jesus de se tornarem “pescadores de homens”. O bom senso diz-nos que tirar um peixe da água significa matá-lo. “Pescar” alguém soa de forma desrespeitosa e até violenta de “fisgar” alguém para nosso ganho pessoal. Mas não na mentalidade bíblica!
O povo de Israel sempre temeu a imprevisibilidade de grandes massas de água: acreditava-se que monstros se escondiam sob a superfície. As pessoas podem facilmente afogar-se no mar. O Livro do Génesis refere que para Deus criar a vida precisou, primeiro, de afastar os mares. Logo, pela lógica bíblica, chegamos à conclusão que enquanto “pescadores de pessoas” estamos a trazê-las da morte para a vida.
Os pescadores trabalham na superfície do mar, mas nunca estão num ambiente completamente seguro. Tempestades e ondas atingem regularmente os barcos e podem até afundá-los. Tornarmo-nos “pescadores de homens” implica termos a coragem de enfrentar – mesmo havendo o perigo de sermos imersos – o que as águas simbolizam em termos bíblicos: o reino da morte e das trevas que priva a Humanidade da verdadeira vida. “Pescar” pessoas é libertá-las para respirar o amor e a graça de Deus, como Deus fez no Génesis, ao criar os nossos primeiros ancestrais no meio do caos. Uma vocação é sempre uma recriação!
As águas do Rio Jordão, onde as pessoas se purificavam por meio do baptismo de João, estavam simbolicamente cheias dos pecados da Humanidade. O primeiro acto público de Jesus foi mergulhar neles. Um dia, estas ondas do mal acabariam por envolver a Sua vida, e até mesmo levá-la, na cruz. No entanto, através da Sua “imersão”, Ele nos encontrou e nos salvou.
Tornarmo-nos “pescadores de homens” significa imitar o estilo de Jesus e partilhar o Seu destino. Santa Teresinha do Menino Jesus experimentou esta “imersão” nas águas do desespero humano durante os últimos meses da sua vida, quando foi consumida pela doença. Entendeu o que significa sentir a ausência de Deus e, portanto, sentiu-se solidária com as pessoas que, em número crescente naquela época, se professavam ateus. O Papa Francisco sublinhou que, em união com Jesus que tomou sobre si todas as trevas do pecado do mundo, naqueles momentos Santa Teresinha “sentia-se irmã dos ateus, sentada com eles à mesa, como Jesus se sentava com os pecadores. Ela intercedeu por eles, renovando sempre o seu acto de fé, em constante comunhão amorosa com o Senhor: ‘Corro para o meu Jesus. Digo-lhe que estou pronta a derramar o meu sangue até à última gota para professar a fé na existência do céu. Digo-lhe também que estou feliz por não desfrutar deste lindo céu nesta terra para que Ele o abra para toda a eternidade aos pobres incrédulos’” (C’est la Confiance – “Só a Confiança” nº 26).
O convite deste Domingo impele-nos a acreditar que a nossa paixão e fé podem superar a frustração e o cansaço de uma longa busca, seja de um asteroide ou de um peixe precioso, ou de almas perdidas. Que nós, pescadores de pessoas, continuemos a experimentar a presença consoladora de Cristo, mesmo na escuridão das águas tempestuosas que muitas vezes envolvem o nosso coração.
Pe. Paolo Consonni, MCCJ