Fazei aos outros o que faríeis por Deus

15º DOMINGO COMUM – Ano C – 13 de Julho

Fazei aos outros o que faríeis por Deus

Há quatro personagens principais na parábola do Evangelho de hoje (Lucas 10, 25-37): a vítima dos ladrões, o sacerdote, o levita e o samaritano.

O sacerdote (em Hebraico, “Kohanim”) é um descendente directo da linhagem masculina de Aarão, irmão de Moisés, que foi nomeado o primeiro Sumo Sacerdote. Os Kohanim eram os únicos que podiam realizar rituais sacrificiais no Templo, oferecer incenso e cuidar da Menorá (o candelabro de ouro com sete braços dentro do Tabernáculo e, mais tarde, no Templo). Por causa das suas funções especiais, usavam roupas distintas e evitavam o contacto com cadáveres, o que os tornaria impuros.

Os levitas eram descendentes masculinos de Levi, um dos doze filhos de Jacob (a quem Deus renomeou Israel). Os levitas não eram Kohanim, mas recebiam tarefas para ajudar no Templo em várias funções de apoio. Por exemplo, serviam como músicos, porteiros e oficiais do Templo. Mesmo não sendo kohanim, os levitas também eram considerados “santos” e separados para o serviço de Deus.

E os samaritanos? É uma longa história que remonta à morte do Rei Salomão em 930 a.C, após a qual o reino se dividiu em dois: (1) o Reino do Norte (“Reino de Israel”). Com capital em Samaria, era composto por dez tribos, sendo liderado por Jeroboão;

(2) Reino do Sul (“Reino de Judá”). Com capital em Jerusalém, era composto principalmente pelas tribos de Judá e Benjamim, e governado por Roboão, filho de Salomão.

O Reino do Norte foi conquistado pelos assírios em 722 a.C. Os assírios deportaram muitos israelitas, mas alguns permaneceram e casaram-se com os novos povos trazidos pelos assírios, formando a comunidade samaritana. Isto levou a uma identidade samaritana distinta, com as suas próprias práticas religiosas, e à reivindicação da ascendência israelita. No entanto, os judeus consideravam-nos impuros. É por isso que São João explica que os judeus não se relacionam com os samaritanos (cf. João 4, 9).

Agora compreendemos um pouco melhor a cena que testemunhamos no Evangelho de hoje. A vítima dos ladrões era um judeu. Os Kohanim passaram por ali. As regras ditavam que se mantivessem afastados da impureza. E então cumpriram as regras. O mesmo aconteceu com o levita. O seu trabalho no Templo também exigia pureza legal, e ele simplesmente seguiu o seu caminho.

Então… surpresa. Um samaritano, de uma raça “impura”, passa por ali e vê o homem. Ele ficou comovido ao ver aquilo. Aproximou-se da vítima, derramou óleo e vinho sobre as suas feridas e as enfaixou. Depois, colocou-o no seu próprio animal, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. “No dia seguinte, tirou duas moedas de prata e deu-as ao estalajadeiro com a instrução: ‘Cuide dele. Se gastar mais do que lhe dei, eu reembolsá-lo-ei no meu regresso’”.

Jesus elogia a compaixão do samaritano, uma compaixão que era tanto afectiva quanto eficaz. Era afectiva porque o samaritano “se comoveu” e era eficaz porque ele não se limitou a olhar para a pobre vítima e a encolher os ombros, mas aproximou-se dela, tentou aliviar o seu sofrimento, levou-a para a hospedaria e pediu a alguém que cuidasse dela.

Tal é também o amor que nosso Senhor Jesus Cristo quer que tenhamos: um amor afectivo e eficaz. Esta é a virtude moral da misericórdia, que inclina a vontade a sentir a devida compaixão pela angústia do próximo e a aliviá-la.

A nossa fé católica dá-nos uma lista não exaustiva que nomeia sete obras de misericórdia espirituais e sete obras de misericórdia corporais (cf. Mateus 25, 31-46). As obras de misericórdia espirituais são: admoestar o pecador; instruir o ignorante; aconselhar o duvidoso; consolar o triste; suportar pacientemente os erros; perdoar todas as ofensas; e rezar pelos vivos e pelos mortos.

As obras de misericórdia corporais são: alimentar os famintos; dar de beber aos sedentos; vestir os nus; visitar os presos; acolher os sem-abrigo; visitar os doentes; e enterrar os mortos.

Que também nós sejamos movidos pela compaixão quando vemos o sofrimento físico, emocional, moral ou espiritual das pessoas que o Senhor colocou ao nosso lado – em casa, no trabalho, na sociedade. Essa pessoa necessitada é o próprio Cristo, que assegurou aos Seus apóstolos: «Com toda a certeza vos asseguro que, sempre que o fizestes para algum destes meus irmãos, mesmo que ao menor deles, a mim o fizestes» (Mateus 25, 40).

Pe. José Mario Mandía

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