12º DOMINGO COMUM – Ano B – 23 de Junho

12º DOMINGO COMUM – Ano B – 23 de Junho

«Aquieta-te! Silencia-te!». Jesus acalma os nossos medos

«Levantou-se um tremendo vendaval, e as grandes ondas batiam no barco, que ia enchendo com a água. Jesus estava na popa, a dormir com a cabeça sobre um travesseiro. Os discípulos acordaram-no e suplicaram: “Mestre! Não te importas que pereçamos?” Então, Ele levantou-se, repreendeu o vento e ordenou ao mar: “Aquieta-te! Silencia-te!” E logo o vento serenou, e houve completa bonança. E indagou aos seus discípulos: “Por que sois covardes? Ainda não tendes fé?”» (Mc., 4, 37-40)

Simpatizo totalmente com os discípulos receosos da história de Jesus que acalma a tempestade, descrita no Evangelho deste Domingo (Mc., 4, 35-41). O barco deles, apanhado pela tempestade, já estava a meter água. Tinham todas as razões para ter medo.

Lembro-me de uma vez estar num voo com uma longa e forte turbulência. Tentei manter-me calmo, repetindo para mim mesmo que não havia motivo para ter medo. Disse uma oração no meu coração. Tentei respirar profundamente. Apesar de tudo o que tentei fazer, o meu corpo não conseguia mentir: batimento cardíaco acelerado, músculos tensos, pensamentos acelerados. As minhas reacções indicavam medo. Manter a calma durante uma emergência não é fácil porque estamos ligados a este mecanismo biológico – o medo, que se destina a manter-nos vivos, activando a nossa atenção e a nossa adrenalina, para que possamos estar prontos a responder a situações potencialmente perigosas. Por outras palavras, é saudável ter medo.

Por vezes, este mecanismo fica bloqueado na activação e sobrestimamos o perigo. Os nossos traumas passados, especialmente os da nossa infância, deixam uma marca inconsciente na nossa memória que pode influenciar a nossa percepção e levar-nos a avaliar mal a gravidade de algumas situações. Isto pode resultar em ataques de pânico paralisantes ou numa ansiedade generalizada que se mantém mesmo depois de o perigo ter passado. Tornamo-nos então incapazes de correr riscos ou de confiar nos nossos recursos e de nos abrirmos ao futuro. Por isso, o medo deve ser mantido sob controlo, para que não domine as nossas vidas e as nossas escolhas. Se sucumbirmos ao medo, nunca conseguiremos “atravessar para a outra margem”, que é o destino para o qual Jesus queria conduzir os discípulos. Mais do que um lugar, “a outra margem” simboliza um espaço para além da nossa zona de conforto, onde podemos crescer como pessoas e como crentes. Este caminho implica sempre perigos e desafios.

Enquanto os discípulos, apanhados pela tempestade, estavam claramente em pânico, Jesus teve a reacção exactamente oposta: Dormia confortavelmente numa almofada na popa. Longe de ser uma atitude irresponsável de “não se importar”, como os discípulos o repreenderam, o Seu sono exprimia uma profunda confiança no Pai e no Seu plano. Jesus entrou no “sono profundo da sua morte” com a mesma confiança. A Igreja, representada pelos discípulos, é então chamada a ter fé na presença e no poder de Jesus, mesmo quando Ele pode parecer ausente das nossas vidas e dos acontecimentos da história humana, como se estivesse a dormir.

Recordo-me vivamente das palavras que o Papa Francisco pronunciou na vazia Praça de São Pedro, em 27 de Março de 2020, durante uma cerimónia de oração no início da pandemia de Covid-19, uma tempestade que apanhou o mundo inteiro de surpresa e causou tantos sofrimentos. Recordando este episódio de Jesus que acalma a tempestade, o Papa Francisco disse «– Porque tendes medo? Não tendes fé? Senhor, tu chamas-nos, chamas-nos à fé. Que não é tanto acreditar que existes, mas ir ter contigo e confiar em ti. (…) A fé começa quando nos apercebemos que precisamos de salvação. Não somos auto-suficientes; sozinhos, afundamo-nos. Precisamos do Senhor, como os antigos navegadores precisavam das estrelas. Convidemos Jesus a entrar nos barcos da nossa vida. Entreguemos-lhe os nossos medos para que ele os vença. Como os discípulos, experimentaremos que, com ele a bordo, não haverá naufrágio. Porque esta é a força de Deus: transformar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas más. Ele traz serenidade às nossas tempestades, porque com Deus a vida nunca morre».

Tal como os discípulos que enfrentam as tempestades da vida, não podemos evitar sentir medo, e não é saudável reprimir o nosso medo. No entanto, podemos escolher como reagir perante ele. Em primeiro lugar, talvez tenhamos de o reconhecer e aceitar humildemente, porque não somos heróis. Depois, devemos “despertar Jesus” na nossa vida, tomando consciência da Sua presença e dialogando com Ele sobre os nossos medos, para que possamos sentir a Sua acção tranquilizadora no nosso coração e na nossa mente: «Aquieta-te! Silencia-te!» (versículo 39). E se nada disto funcionar, basta deixar Jesus dormir e aceitar pacificamente a Sua aparente inacção, como escreveu uma vez Santa Teresa do Menino Jesus no seu diário. Também isto é um sinal de confiança e dá-nos serenidade: Ele tem o Seu próprio tempo. E, com coragem, continuemos a nossa viagem “para o outro lado”.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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