Universidade de São José debateu São Tomás de Aquino com congéneres da China
A Universidade de São José (USJ) participou na quinta edição do Fórum Nacional em Filosofia Medieval, realizada na cidade de Wuhan, que foi dedicada ao pensamento de São Tomás de Aquino, monge dominicano, proclamado Doutor da Igreja Católica em 1567.
A instituição de Ensino Superior do território esteve representada pelo padre Cyril Law, director da Faculdade de Estudos Religiosos e Filosofia da USJ e chanceler da diocese de Macau.
A iniciativa, organizada pela Universidade Huazhong de Ciência e Tecnologia, reuniu entre os dias 8 e 9 de Junho alguns dos principais especialistas chineses na obra do filósofo italiano, que nos seus escritos defendeu a união entre a Fé e a Razão – tema que vem suscitando cada vez maior interesse na China. A comprová-lo está o inúmero de instituições que se associaram ao simpósio, entre as quais se destaca a Universidade de Pequim, a Academia Chinesa de Ciências Sociais, a Universidade do Povo, a Universidade Católica Fu Jen (Taiwan) e a Universidade Chinesa de Hong Kong, de acordo com o portal de notícias da Santa Sé, VATICAN NEWS.
NOVA TRADUÇÃO DA SUMA TEOLÓGICA – Durante os trabalhos que decorrem na Universidade Huazhong de Ciência e Tecnologia foram reveladas algumas iniciativas que vêm sendo desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Filosofia da China, com vista à celebração dos oitocentos anos do nascimento de São Tomás de Aquino – efeméride que se comemora em 2025. Entre os projectos anunciados, o grande destaque foi para o lançamento, também no próximo ano, de uma nova tradução em Chinês da “Suma Teológica”, a mais influente das obras deste santo filósofo. O anúncio foi feito por Wu Tianyue, membro do Instituto Nacional de Filosofia da China e professor da Universidade de Pequim.
UM PENSADOR ACTUAL – A actualidade da filosofia de São Tomás de Aquino é no entender do Franz Gassner, SVD, uma das razões pelas quais o interesse pelo legado epistemológico do autor da “Suma Teológica” está a crescer na China. Antigo director da Faculdade de Estudos Religiosos e Filosofia da Universidade de São José, o sacerdote argumenta que São Tomás de Aquino é, muito provavelmente, o mais moderno e mais universal dos Doutores da Igreja. «Tomás de Aquino é um pensador bastante moderno, na medida em que abordou o pensamento de Aristóteles com novas ferramentas filosóficas, no propósito de compreender de forma inovadora a filosofia de um modo geral; mas também a teologia e a revelação cristã, numa perspectiva mais particular», defende o missionário da Congregação do Verbo Divino. «Estes são, obviamente, tópicos muito importantes para a sociedade chinesa actual, com o seu contexto e os seus desafios específicos. A abordagem de São Tomás de Aquino sempre foi muito racional, coloca uma grande ênfase no raciocínio e na compreensão de questões de natureza religiosa e espiritual, um aspecto que me parece ser bastante útil no contexto da China actual», acrescenta o padre Gassner.
Se o Racionalismo, que ocupa um papel central no pensamento de São Tomás de Aquino, pode ser visto como um dos grandes atractivos do “Tomismo” para os pensadores chineses, o facto do pensamento de Aquino estar, em grande medida, ancorado à realidade, é outra das razões que podem justificar o grande interesse que a “Suma Teológica” e outros escritos deste filósofo suscitam no Continente chinês. A posição é defendida pelo padre José Mario Mandía. Professor assistente de Filosofia na Universidade de São José, o sacerdote recorda também a dimensão, verdadeiramente universal, do pensamento de São Tomás de Aquino para todos quantos procuram uma resposta para as grandes dúvidas que permeiam a existência. «São Tomás teve o grande mérito de destacar a harmonia que existe entre Fé e Razão. Tanto a luz da Razão, como a luz da Fé, têm origem em Deus, argumenta São Tomás. Não pode, por isso, haver qualquer contradição entre elas. O pensamento de São Tomás de Aquino foi enriquecido pela cultura grega, pelo pensamento árabe e judaico e pela Fé Cristã. Ele conseguiu sintetizar todas essas correntes porque todas elas estavam focadas na realidade, na existência, naquilo que verdadeiramente é. O pensamento chinês tem este aspecto em comum com a filosofia de São Tomás de Aquino: tem por base a realidade».
«Por outro lado, a filosofia de São Tomás é relevante não apenas para os pensadores chineses contemporâneos, mas também para todos aqueles que estejam empenhados em procurar respostas para o significado da vida. Como o Papa São João Paulo II escreveu, basta um vislumbre sobre a história antiga para percebermos como em diferentes partes do mundo, com diferentes culturas, emergiram ao mesmo tempo as grandes questões que permeiam a vida humana: “Quem sou eu? De onde é que eu venho e para onde vou? Porque é que o mal existe? O que existe depois desta vida?”», complementa o padre Mandía.
O padre Franz Grassner acrescenta paralelismos notórios entre a filosofia do Doutor da Igreja e o pensamento clássico chinês. A virtude, segundo o missionário, é um dos aspectos fundamentais da obra de Aquino e do pensamento confucionista: «As virtudes – e com isto refiro-me às boas disposições do carácter – são fundamentais em São Tomás de Aquino. Refiro-me às Virtudes Cardeais, mas também às Virtudes Teológicas. A ideia de virtude é fundamental na China, em particular no pensamento e na estética confuciana. São Tomás de Aquino pode ser visto como um modelo ou como uma ponte intelectual moderna para a redescoberta da relevância e de um significado mais profundo das antigas tradições intelectuais».
A redescoberta da filosofia de São Tomás de Aquino, por parte dos pensadores chineses, pode também responder a uma necessidade realista. Com a China na eminência de se tornar a maior potência económica do planeta, o pensamento confucionista pode não ser suficiente para assegurar a competitividade do País. «Por que razão na filosofia de São Tomás de Aquino é tão relevante para os pensadores chineses? Porque a sua filosofia contribuiu para as suas discussões sobre a realidade, sobre o indivíduo, sobre a família e sobre a sociedade. Os pensadores chineses são realistas. E, provavelmente, sem se aperceberem disso, muitos estão bem encaminhados para ficar a conhecer Deus», conclui o padre José Mario Mandía.
Marco Carvalho