10 ANOS DO PONTIFICADO DE FRANCISCO

10 ANOS DO PONTIFICADO DE FRANCISCO

Papa da Missão, da Fraternidade e do Evangelho

13 Março de 2013, Vaticano, 19:06 (hora local). Eis que sai fumo branco da chaminé da Capela Sistina, finda a quinta ronda de votação do segundo dia do Conclave, reunido para substituir Bento XVI, Papa que renunciou ao Pontificado a 11 de Fevereiro desse ano (sede vacante a partir de 28 do mesmo mês).

Bento XVI foi o primeiro Papa a resignar em 598 anos, pois desde 1415, quando Gregório XII (1406-1415) renunciou ao Papado, que tal não se verificava. Para suceder ao Papa emérito, os cardeais, em Conclave, elegeram o primeiro Papa nascido no Hemisfério Sul, o primeiro Papa nascido no Novo Mundo (continente americano), fora da Europa (em mais de mil e 200 anos), Ásia e África (houve três deste continente: Vítor I, 189-199; Melquíades, 310/311-314; Gelásio I, 492-496) e o primeiro da história da Companhia de Jesus (Jesuítas). Francisco foi o nome escolhido pelo arcebispo de Buenos Aires (Argentina) (1998-2013), Jorge Bergoglio, cardeal-presbítero desde 21 de Fevereiro de 2001, instituído por João Paulo II, com o título de São Roberto Belarmino.

Francisco, que nasceu Jorge Mario Bergoglio (Buenos Aires, 17 de Dezembro de 1936), é o 266.º Papa da Igreja Católica e actual Chefe de Estado da Cidade Estado do Vaticano. Foi entronizado Papa a 19 de Março de 2013. Recorde-se que é também o primeiro Pontífice, dos tempos modernos, a ser eleito após a renúncia do seu antecessor. Além de arcebispo de Buenos Aires e dos vários cargos na Companhia de Jesus (entrou em 1957 na Companhia, ordenado sacerdote em 1969) e depois de ordenado bispo (auxiliar de Buenos Aires) em 1992, até ao início da sede vacante, foi membro das Congregações para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para o Clero, para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica; do Pontifício Conselho para a Família, e da Pontifícia Comissão para a América Latina.

Francisco é o Papa da Sinodalidade, da Missão e da Alegria do Evangelho, do mundo inteiro. O seu pontificado caracteriza-se por iniciativas e reformas, no sentido de um novo impulso missionário, abrangente e de diálogo. Os seus eixos fundamentais são “Proximidade, Assembleias Sinodais e impulso missionário”, aliás, como desde sempre enunciou. Papa de grande atenção e acção na área social, na alteridade, orienta o Pontificado para a base da sociedade, não apenas ou mais para o topo. É o Papa das “periferias” existenciais e geográficas, para as quais tenta que cristãos e não cristãos, através de novo vigor do Evangelho, se orientem. Francisco pugna por uma Igreja dinâmica, de fervor missionário e de acção, de portas abertas, sempre com ternura e delicadeza. A novidade é também importante neste Papado. Começou logo pelo facto de residir na Domus Santa Marta e não na Residência Apostólica. Em Santa Marta instituiu a missa diária, com homilia breve, em estilo paroquial.

Depois, a surpresa, logo no início, com a Exortação Apostólica “Evangelii gaudium” (“Evangelho da alegria”), uma definição programática do Pontificado, na qual exorta a uma “nova Evangelização”, caracterizada pela alegria, além da necessidade de reforma das estruturas eclesiais e da conversão do Papado, que pretende ser mais próximo de Cristo e mais missionário. Depois, nesse ano de 2013, o Papa instituiu um Conselho de Cardeais para estudar um projecto de revisão da Constituição Apostólica “Pastor bonus”, sobre a Cúria Romana, a qual data de 1988.

A família é outra das preocupações de Francisco, para o que dedicou um sínodo extraordinário em 2014. Porque é preciso combater o individualismo moderno, que mina a família, a educação e os direitos fundamentais de pais e filhos, tudo desagregando. Nesse sentido, lançou a Exortação Apostólica “Amoris Laetitia” (8 de Abril de 2016), enaltecendo a importância e a beleza da família, texto realista que exorta os pastores a uma visão mais moderna das questões matrimoniais modernas. Na senda das reformas, criou a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, em 2014, para “a promoção e a responsabilidade das Igrejas particulares em relação à protecção de todos os menores e adultos vulneráveis”. Nesse ano, promoveu no Vaticano uma “Invocação pela Paz” na Terra Santa, com os Presidentes Shimon Peres (Israel) e Mahmoud Abbas (Palestina), além do restabelecimento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba. A Encíclica “Laudato sì” marcou 2015, como proposta de “salvaguarda da criação”, no âmbito da ecologia e do combate à pobreza, defendendo a equidade social.

Ainda nas reformas, iniciou os trabalhos para a nova “Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana”, dando o mote no documento “Pregai o Evangelho”. O Jubileu Extraordinário da Misericórdia encaixa-se no conceito nuclear do seu pontificado: a misericórdia. Esta iniciativa universal, de carácter jubilar, teve lugar em 2016, incentivando uma maior atenção ao acolhimento dos pobres, dos enfermos, dos marginalizados. Nesse ano, Francisco encontrou-se em Cuba com o Patriarca de Moscovo e de toda a Rússia, Kirill, assinando uma declaração conjunta que visa o fim da perseguição dos cristãos e das guerras, promover o diálogo inter-religioso, ajudar os migrantes e refugiados e proteger a vida e a família.

Em 2017, novamente o tema da pobreza, com a celebração do primeiro “Dia Mundial dos Pobres”, entre várias iniciativas e incentivos para que o mundo não esqueça os pobres, o nosso “passaporte para o céu”, segundo Francisco.

Juventude e diplomacia são também eixos fundamentais neste Papado. O “Sínodo sobre os Jovens” marcou a reflexão, com o Papa a pedir aos jovens para “escutar, serem próximos e testemunhar”, porque “a fé é uma questão de encontro”, lançando depois, em 2019, a Exortação Apostólica pós-sinodal “Christus vivit”, em que exorta os jovens de que “Agora vocês são de Deus”. Em relação à juventude, assinalem-se as três Jornadas Mundiais da Juventude que Francisco promoveu, com grande sucesso: Rio de Janeiro 2013, Cracóvia 2016, Panamá 2019 e, em Agosto de 2023, Lisboa! Ainda em 2018, na diplomacia, deu-se o “Acordo Provisório entre a Santa Sé e a República Popular da China”, assinado em Pequim, sobre a nomeação dos Bispos. Em 2020 e 2022 o Acordo foi renovado por mais dois anos.

A luta contra os abusos de alguns membros do Clero é outra preocupação de Francisco, que presidiu mesmo, na Irlanda, a um comovente “Acto Penitencial”, durante o qual pediu perdão por este crime, em nome da Igreja. Sobre a tutela dos menores, lavrou-se o Motu próprio “Vos estis lux mundi”, que obriga os clérigos e religiosos a denunciar abusos: cada diocese deve ter um sistema, que seja facilmente acessível ao público, para acolher as denúncias. Através de um Rescrito, o Papa aboliu também o Segredo pontifício para os casos de abuso sexual.

Francisco tem também pugnado pela fraternidade, paz e unidade dos Cristãos, além de reformas económicas e financeiras na Igreja, com novas medidas e legislação relativa à gestão de fundos e bens.

Para finalizar, além da presença constante durante a pandemia de Covid-19, novamente a atenção pela ecologia, com a quinta Exortação Apostólica intitulada “Querida Amazónia”, síntese do Sínodo Especial para a Região Pan-Amazónica (Vaticano, 2019). Veio a lume também a terceira Encíclica, “Fratelli tutti” (“Todos Irmãos”), de apelo à fraternidade e à amizade social, à paz e ao fim da guerra. Neste sentido, tem promovido várias viagens apostólicas, com atenção especial para as periferias, com mensagens de fraternidade e esperança. Os mesmos valores, aliás, para que chama a atenção na sua preocupação em relação às migrações e refugiados, ao drama destas populações e ao seu acolhimento pela Igreja. É, pois, o Papa da Missão, da Fraternidade e do Evangelho.

FRANCISCO EM NÚMEROS

Francisco fez 25 viagens em Itália e 33 internacionais; mais de 340 audiências gerais, mais de 450 orações do Ângelus ou Regina Coeli, quase 790 homilias na Casa Santa Marta e proclamou cerca de 900 novos Santos, inclusivé os 800 Mártires de Otranto. O Papa presidiu a 7 Consistórios, com a criação de 101 Cardeais, e convocou vários Anos Especiais, como os dedicados à Vida Consagrada (2015-2016), à figura de São José (2020-2021) e à Família “Amoris Laetitia” (2021-2022).

Vítor Teixeira 

Universidade Fernando Pessoa

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