Trabalhadoras não-residentes revelam preocupação com a subida das taxas de parto no Hospital Público

Nascimentos ilegais poderão aumentar.

A proposta dos Serviços de Saúde (S.S.) para o aumento das taxas moderadoras de parto para não-residentes e turistas, no Centro Hospitalar Conde de São Januário, está a deixar apreensivas as comunidades locais de imigrantes das Filipinas, da Indonésia e do Vietname. A’O CLARIM, três trabalhadoras não-residentes assumiram que «não basta» serem honestas para terem um tratamento mais condigno em Macau.

Joan (nome fictício), natural das Filipinas, está no território há quatro anos. Empregada doméstica de uma «boa família chinesa», confessou a’O CLARIM que quase chorou ao saber a notícia de que poderá vir a pagar nove vezes mais do que actualmente, se der à luz no hospital público, dado que é sua intenção ter um filho até ao final do corrente ano. «Não sei como vou fazer agora. Gostaria de voltar a ser mãe. Ganhamos pouco [juntamente com o marido] e ajudo alguns familiares [nas Filipinas]», disse, sublinhando ainda que a medida, se for implementada, «é injusta para quem contribui com trabalho honesto para a estabilidade de Macau».

Trang (nome fictício) chegou do Vietname há cerca de cinco anos. À imagem de Joan, não se atreveu a revelar a sua identidade, pelo «medo» de ter «complicações várias», inclusivamente com a renovação do “blue card”, somente por «não concordar» com a intenção dos S.S. «Levamos uma vida difícil ao ganharmos pouco e ainda assim querem dificultar ainda mais a nossa situação. Embora esta não seja a minha terra de origem, cumpro com as minhas funções e dou o meu contributo [à sociedade]. No entanto, vai ser quase impossível ter um bebé em Macau, até porque não consigo pagar tanto dinheiro. É triste se assim for», referiu Trang.

Também Ponisri, natural da Indonésia, preferiu não revelar o nome verdadeiro, pois sente que «é bastante difícil dar a cara abertamente contra várias injustiças» com que muitas trabalhadoras não-residentes se deparam em Macau. «Sou um ser humano, mas muitas pessoas locais tratam-me de forma diferente apenas por ser indonésia», um «estigma» que procura desvalorizar, pois trabalha em Macau «para ter uma vida melhor». «Não pretendo ter mais filhos, mas estou preocupada [com a proposta das taxas moderadoras de parto]», frisou.

O secretário-geral da Cáritas Macau, Paul Pun, está igualmente contra o aumento das taxas moderadoras: «Não acredito que a intenção do Governo de Macau seja discriminar as trabalhadoras imigrantes. No entanto, a medida irá provocar o aumento de cuidados de cariz hospitalar de forma ilegal. Algumas trabalhadoras irão escolher ter os partos em casa. E há quem corra o risco de não ter dinheiro para pagar e, terminado o contrato de trabalho, regresse aos seus países com uma grande dívida por pagar», explicou a’O CLARIM.

PEDRO DANIEL OLVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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