EDITORIAL
Quarentena aproximou Cristo da Nação Chinesa
As semanas de quarentena obrigatória na China levaram ao confinamento total de centenas de milhões de pessoas. A título de exemplo, só na Província de Hubei, onde se iniciou o surto do Covid-19, mais de sessenta milhões de pessoas ficaram fechadas vários dias em casa.
Curiosamente, embora a liberdade de movimentos tenha ficado restringida ao lar de cada um, a liberdade religiosa aumentou substancialmente.
Num país onde as redes sociais são muito controladas por razões, sobretudo, de segurança nacional, nos últimos meses deu-se um fenómeno difícil de explicar. É que, aparentemente, as autoridades chinesas nada fizeram e deixaram proliferar as emissões religiosas “online” em quase toda a China, tratando-se de emissões realizadas não só por responsáveis de dioceses católicas tão importantes como Pequim e Xangai, como das dioceses das Regiões Administrativas Especiais de Macau e Hong Kong, da sempre “sensível” Taiwan, ou das Filipinas e da Malásia.
Em casa, milhões de chineses tiveram a oportunidade de assistir a missas, homilias, momentos de leitura bíblica, orações, notícias religiosas e vídeos, tendo inclusivamente a alegria de terem assistido às celebrações da Semana Santa presididas no Vaticano pelo Papa Francisco.
Até ao momento, a explicação para as autoridades chineses não terem bloqueado o acesso dos internautas a tais conteúdos religiosos é uma incógnita, ainda para mais quando não há muitos anos foram aprovadas leis mais restritivas em relação a quaisquer manifestações de culto religioso, sendo de destacar a lei que proíbe cidadãos nacionais com menos de dezoito anos de idade de participarem em aulas de formação religiosa.
É pois mais um mistério por desvendar na já complexa relação entre a China e o Vaticano, ou se preferirem, entre a Santa Sé e o Governo Central da República Popular da China.
José Miguel Encarnação