Entre cravos e trabalho
No 1º de Maio de 1974 chegavam a Macau os ventos de mudança em Portugal. Na edição de quinta-feira de 2 de Maio de 1974, o então bissemanário O CLARIM fazia a primeira página com artigos sobre o Dia Mundial do Trabalhador, a adesão ao Movimento das Forças Armadas e o 26º aniversário do jornal católico.
«É com o seu trabalho que o homem sustenta de ordinário a própria vida e a dos seus; por meio dele se une e serve aos seus irmãos, pode exercitar uma caridade autêntica e pode colaborar no acabamento da criação divina», salientava o artigo sobre o 1º de Maio, dividido entre a primeira e a quarta páginas.
«Enquanto um pequeno número dispõe dum grande poder de decisão, muitos estão quase inteiramente privados da possibilidade de agir por própria iniciativa e responsabilidade, e vivem e trabalham em condições indignas da pessoa humana», acrescentava o texto.
«A exemplo de Cristo que exerceu um mister de operário, alegrem-se antes os cristãos por poderem exercer todas as actividades terrenas, unindo numa síntese vital todos os seus esforços humanos domésticos, profissionais, científicos ou técnicos com os valores religiosos, sob cuja elevada ordenação, tudo se coordena para a glória de Deus», lia-se ainda.
A notícia sobre a Assembleia Legislativa punha em destaque o Golpe de Estado revolucionário do “Movimento das Forças Armadas”, em Portugal. «São já conhecidas as razões que levaram a desencadear-se tal movimento – aliás, eminentemente nacional, sem qualquer auxílio ou apoio do estrangeiro –, devendo salientar-se a sua intenção de levar a cabo, até à sua completa realização, um programa de renovação do país e de restituir ao povo português todas as suas liberdades cívicas», referia o Governador Nobre de Carvalho, no período antes da ordem do dia.
Na mesma edição, O CLARIM assinalava a passagem de mais um aniversário: «Mais um ano que passou e mais outro que abre as portas. Vinte e seis anos muito pouco representam para os grandes empreendimentos, mas bastante significam para uma modesta iniciativa num meio de tão limitadas possibilidades, como as que oferece à Imprensa portuguesa esta terra de Macau, onde a comunidade desta língua se mostra diminuta no seu número e na sua influência, sobretudo económica».
Numa página interior ficava-se a saber que Sua Alteza Real já visitara Macau. De acordo com os “Cumprimentos ao Senhor Governador”, «esteve, na terça-feira à tarde, no Palácio do Governador da Praia Grande, a apresentar cumprimentos a Sua Ex.a o Governador da Província o Senhor D. Duarte Pio de Bragança, Príncipe da Beira».
O CLARIM também divulgava os resultados da 6ª eliminatória da Taça de Portugal em futebol: Benfica, 8 – Oriental, 0; CUF, 2 – Beira-Mar, 0; Avintes, 0 – União de Tomar, 3; FC Porto, 1 – Barreirense, 0; Sporting, 2 – Belenenses, 1; Olhanense, 4 – Salgueiros, 1; Atlético, 1 – Farense, 1.
Nos anúncios havia uma mensagem curiosa: «assinar, ler e propagar “O CLARIM” é dever de todo o católico».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA