Fé e Família, a verdadeira essência do Natal

O CLARIM FALOU COM CATÓLICOS DE MACAU SOBRE O MISTÉRIO DA NATIVIDADE

Fé e Família, a verdadeira essência do Natal

Família, memória, união, introspecção e comunhão com o Filho de Deus feito Homem. Eis o verdadeiro significado do Natal para quatro católicos locais com quem O CLARIM conversou. Mais do que semear a dádiva e a disponibilidade para o Outro, este é o momento de olhar para dentro e melhorar o que é possível aperfeiçoar; de abrir o coração ao mistério da Natividade de Cristo.

«Natal é união, Natal é família, Natal é a procura de um caminho melhor, mais feliz para todos nós, que é isso, fundamentalmente, o que todos desejamos». As palavras são de Anabela Ritchie, mas nelas ecoam a esperança e o sentimento de milhões de pessoas por todo o mundo, para quem o Natal é, por excelência, a festa maior da Família e de tudo o que o conceito comporta.

Mas para a antiga presidente da Assembleia Legislativa de Macau, Natal é também memória. É a reminiscência das Missas do Galo de outrora, do saudoso apelo das orações em família à frente do presépio e da alegria genuína que o anúncio do nascimento do Filho de Deus suscitava por entre os homens de boa vontade. «O Natal é família sobretudo, mas houve uma componente espiritual muito forte. É, antes de qualquer outra coisa, a celebração do nascimento de Jesus Cristo, que se fez Homem, para viver junto dos homens e, dessa forma, legar-nos os seus ensinamentos», sustenta Anabela Ritchie. «Lembro-me sempre dos Natais passados, em que a família ia toda à Missa do Galo. Regressávamos da Missa do Galo, tínhamos uma ceia, abríamos as prendas. O meu pai tinha um gosto muito grande em ver o presépio aumentar, todos os anos. E aumentava com luzes, com figuras. Guardo uma imagem que me enternece muito, a de nós ajoelhados diante do presépio e do meu pai a conduzir as orações», recorda a antiga deputada, à margem do bazar que a paróquia da Sé Catedral promoveu no passado fim-de-semana.

NATAL É REFLEXÃO

Especialista informático e funcionário do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), José Basto da Silva diz que se o Natal é a alegria de poder anunciar aos outros o nascimento do Filho de Deus, também é um convite à introspecção, à reflexão interior e à transformação pessoal. «É uma quadra especial, que traz à memória a Família e esse é um preceito que é, para mim, fundamental, o dos valores da Família. No meu caso, infelizmente, a minha família não vai poder estar toda reunida e é, por isso, uma época de grande saudade também», admite o também solista do Coro Dóci Papiaçám di Macau. «É também uma quadra celebrada com muita espiritualidade. É uma época do ano em que somos convidados a fazer um exame de auto-avaliação, a conduzir um exame de consciência. É fundamental que olhemos para o Menino Jesus como um sinal de esperança. Trata-se de uma nova oportunidade para rectificar o nosso dia-a-dia e tentarmos ser melhores», defende José Basto da Silva.

NATAL É CONVERSÃO

A predisposição para aprender com os erros e para melhorar aquilo que for possível melhorar é para Adriano Agostinho um dos aspectos que devem nortear uma vivência verdadeiramente cristã do Natal. O jovem seminarista, que em Fevereiro último foi investido como Leitor pelo bispo D. Stephen Lee, considera que os católicos têm a responsabilidade de aceitar a alegria natalícia por aquilo que ela verdadeiramente é: o momento em que Deus se fez Homem. «Estamos a viver um período de preparação. Estamos a preparar-nos para o Natal; e o que é o Natal senão o nascimento de Jesus? Mas nós sabemos que Jesus não é uma pessoa comum. Não é apenas mais um de nós. Celebrar o nascimento de Jesus não é como celebrar o nascimento de uma qualquer personalidade histórica. Estamos a relembrar que Deus se fez Homem e habitou entre nós. A preparação de que falava não serve apenas para recordar um acontecimento histórico. Serve, sobretudo, para que possamos abrir o nosso coração, através da conversão», sublinha Adriano Agostinho, candidato ao sacerdócio nascido em Macau.

Para o jovem seminarista, o nascimento do Filho de Deus feito Homem apenas adquire a sua relevância plena se a Natividade de Jesus Cristo for entendida como uma oportunidade para nos reinventarmos moralmente e espiritualmente. «É importante reflectir sobre as coisas que podemos melhorar no que toca à nossa vida moral. É importante estarmos atento aos defeitos que possamos melhorar. É importante rezarmos mais, participar de forma mais consciente na Missa. Tudo para preparar a vinda de Jesus dentro do nosso coração. Nós, católicos, queremos que o nosso coração seja um lugar onde Ele possa nascer dentro de nós», defende Adriano Agostinho.

NATAL É REVELAÇÃO

Para Antonio K. Wong, o coração é a chave para uma vivência plena do mistério da Natividade. Director musical do Coro Diocesano e do ensemble coral Cathedral Schola of Macau, os dois grupos que acompanham as celebrações litúrgicas da comunidade católica chinesa na Sé Catedral, Antonio Wong refere que a única forma de viver o Natal em toda a sua plenitude é abraçar com o coração totalmente aberto o mistério do nascimento de Jesus Cristo: «Algo que devemos sempre recordar é que quando falamos de Adventus Christus, é Deus que vem até nós e nós somos, apenas, quem O recebe. A chave aqui é abraçar este mistério com o coração aberto. Um coração que se supera, que vai mais além de nós próprios, para conseguir alcançar Deus. Na minha opinião, é uma perspectiva um pouco redutora considerar que somos nós os agentes activos na demanda por um conhecimento mais aprofundado de Deus».

O director musical encara o canto e a música como uma das múltiplas formas a que Deus recorre para se revelar perante nós e para nos falar ao coração. «Uma forma mais abrangente de encarar o mistério e a plenitude de Deus é tomarmos consciência que somos apenas destinatários com uma mente activa e consciente a quem Ele vai colocar ao corrente da Sua via. A dádiva do canto, devemos estar cientes disso, é apenas uma de uma miríade de concretizações através das quais Deus nos toca e nos ensina. Ao fim e ao cabo, todos nós acreditamos num Deus que sempre nos surpreendeu, não é?», remata Antonio K. Wong.

Marco Carvalho

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