Para os amigos, tudo!
O maestro italiano Aurelio Porfiri regressa hoje definitivamente a Roma, com a «sensação do dever cumprido nos sete anos de docência em Macau». Na bagagem leva também «o desejo de que os responsáveis pela Cultura identifiquem os problemas de base» que estão a minar o sector e «procurem soluções» que tragam benefícios para as novas gerações que vivem no território.
Tendo notado que «os padrões culturais são muito pobres em Macau», disse que «há o património da herança cultural deixada pelos portugueses e demais ocidentais, tais como os italianos, que é bastante rico». Contudo, «o problema está em quem gere este património. Ou seja, há pessoas que não dominam as questões do património», referiu Porfiri, acrescentando que «o mesmo acontece com a música».
A título de exemplo, salientou que o Festival Internacional de Música de Macau é um tipo de evento que não tem grande impacto na comunidade local: «Trazem músicos famosos e pagam-lhes muito para tocarem cá, mas depois tudo se esquece. Deviam trazer esses músicos famosos, talvez durante seis meses, para ministrar “workshops”. Infelizmente, os apoios vão numa certa direcção de modo a favorecer determinadas pessoas. Não favorecem a qualidade, mas as pessoas que fazem parte de um certo círculo. É este o problema. Ter dinheiro para pagar um carro bonito não faz dela uma pessoa bonita. Não devemos dar peixes às pessoas, mas sim ensiná-las a pescar».
Aurelio Porfiri admitiu que já foi apoiado pela Fundação Macau, algo que considerou ser um processo bastante difícil para um estrangeiro. «Tive a sorte de ser apoiado pelas escolas [Colégio Santa Rosa de Lima e Escola de Nossa Senhora de Fátima], seja por me darem a oportunidade de ter cá trabalhado, seja pelo apoio financeiro para realizar eventos musicais», referiu, acrescentando que por vezes também foi apoiado pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude.
Para si, o estado da Cultura é transversal ao sistema educativo de matriz chinesa, em que os métodos de ensino muitas vezes não favorecem o florescimento da criatividade e da inovação nos alunos. «O problema é que o sistema educativo não ajuda a desenvolver as suas faculdades, porque nem a criatividade favorece. Muitos alunos têm medo de errar, por isso preferem ficar quietos e não agir», vincou.
No território, o maestro Aurelio Porfiri foi professor-associado do Instituto Inter-Universitário de Macau, actual Universidade de São José, director das actividades corais do Colégio Santa Rosa de Lima (Secção Inglesa) e colaborador da Escola de Nossa Senhora de Fátima. É colaborador musical no suplemento d’O CLARIM em Inglês.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com