Vírus no sistema.
Uma investigação às condições das fábricas de iPhones na China revela que os funcionários trabalham até 90 horas extraordinárias por mês por menos de dois dólares à hora, vivem em dormitórios superlotados e quase não têm tempo para comer.
Segundo a organização de defesa dos direitos laborais “China Labour Watch” (CLW), os abusos persistem nas fábricas chinesas onde se produzem os populares telefones da norte-americana Apple.
A CLW focou-se, em particular, numa fábrica em Xangai da empresa taiwanesa Pegatron, que já tinha investigado em 2013, que emprega cem mil pessoas e onde as condições de trabalho quase não registaram melhorias.
O relatório “Algo está mal aqui” volta a evidenciar os abusos laborais do sector: turnos de dez horas e meia por dia, a que se somam mais de duas horas extra obrigatórias, sem as quais os trabalhadores não recebem um salário mínimo para viver (de cerca de 318 dólares norte-americanos).
A organização ilustra as condições de trabalho com um testemunho em primeira mão de um investigador da CLW que se infiltrou como empregado na Pegatron.
Entre outras coisas, o investigador revela como a empresa não cumpre com medidas de segurança básicas, como informar os funcionários sobre as saídas de emergência – portas que o próprio investigador nunca conseguiu encontrar. O testemunho incide também sobre a sobrecarga de trabalho, com turnos em que não há praticamente tempo para comer.
A falta de informação abrange também os produtos químicos que os funcionários manuseiam. Apesar de a empresa lhes dar uma lista dos produtos perigosos com que trabalham, não indica onde estes se encontram ou como devem ser tratados.
A CLW conclui que nada mudou desde 2013, com excepção de uma situação: a discriminação no que toca à contratação de membros de etnias minoritárias, apesar de a organização ressalvar que a empresa contrata agora ilegalmente metade dos trabalhadores de forma temporária, quando apenas pode fazê-lo para dez por cento da equipa.