Padroeira de Macau mora no coração dos fiéis
A Igreja universal celebra hoje, 29 de Abril, Santa Catarina de Sena. Foi canonizada em 1461 por Pio II, e proclamada Doutora da Igreja em 1970 por Paulo VI. Em Macau é lembrada de forma especial por muitos fiéis, pois Santa Catarina de Sena faz parte do conjunto dos santos padroeiros da cidade. O jornalista João Botas, no seu blogue “Macau Antigo”, escreve que num documento de meados do Século XVII podemos encontrar referências a quatro santos padroeiros de Macau: Nossa Senhora da Conceição, São João Baptista, São Francisco Xavier e Santa Catarina de Sena.
A missa em Português das 18:00 horas, na igreja da Sé Catedral, é hoje transmitida em directo para todo o mundo, no canal do YouTube do Centro Diocesano dos Meios de Comunicação Social (CDMCS). Deste modo, a diocese de Macau junta-se em oração aos fiéis que mantêm ligação ao território neste dia festivo.
Sobre a devoção local a Santa Catarina de Sena, o blogue “Cronicas Macaenses”, de Rogério Luz, um filho da terra a residir no Brasil, cita um artigo intitulado “Os Quatro Padroeiros de Macau”, da autoria de Monsenhor Manuel Teixeira, publicado na antiga revista “Nam Van”, edição de Abril de 1986. Nele, o sacerdote refere que 47 dos mais honrados e ilustres cidadãos da terra, entre os quais os mordomos de Santa Catarina, dirigiram em 1646 ao Senado um requerimento, poucos dias antes da sua festa (29 de Abril), pedindo que ela fosse declarada Padroeira. Há muito que a santa era já venerada na igreja de São Domingos e honrada com uma festa solene.
CATEQUESE DE BENTO XVI
Nas catequeses do Papa Bento XVI dedicadas a diversos Santos da Igreja, o Santo Padre falou de Santa Catarina de Sena, durante a Audiência Geral de 24 de Novembro de 2010, no Vaticano.
Catarina nasceu em Sena (Itália), no ano de 1347, numa família muito numerosa, tendo falecido na cidade de Roma, em 1380, com apenas 33 anos de idade.
Joseph Ratzinger começou por destacar que o século em que viveu foi uma época difícil para a vida da Igreja e para todo o tecido social, tanto em Itália como na Europa. Todavia, mesmo nos momentos de maior dificuldade – continuou o Pontífice –, o Senhor não cessa de abençoar o Seu Povo, suscitando santos e santas que despertam as mentes e os corações, levando à conversão e renovação. «Catarina é uma delas, e ainda hoje nos fala e nos leva a caminhar com coragem rumo à santidade para sermos, de modo cada vez mais pleno, discípulos do Senhor», disse.
Aos dezasseis anos, segundo Bento XVI, Catarina foi impelida por uma visão de São Domingos a ingressar na Terceira Ordem Dominicana, no ramo feminino denominado “Manteladas”. Ali permaneceu em família e confirmou o voto de virgindade, feito de modo particular, era ainda uma adolescente; dedicou-se então à oração, à penitência e às obras de caridade, sobretudo em benefício dos enfermos.
Mais tarde, «quando a fama da sua santidade se difundiu, foi protagonista de uma intensa actividade de conselho espiritual em relação a todas as categorias de pessoas: nobres e homens políticos, artistas e pessoas do povo, pessoas consagradas, eclesiásticos, inclusive o Papa Gregório XI que nesse período residia em Avinhão e que Catarina exortou enérgica e eficazmente a regressar a Roma. Viajou muito para solicitar a reforma interior da Igreja e para favorecer a paz entre os Estados: também por este motivo, o Venerável João Paulo II quis declará-la co-Padroeira da Europa: o Velho Continente nunca esqueça as raízes cristãs que estão na essência do seu caminho e continue a haurir do Evangelho os valores fundamentais que asseguram a justiça e a concórdia», afirmou o hoje Papa emérito.
À semelhança de tantos santos, Catarina sofreu muito, vincou o Papa. A determinada altura, chegou-se mesmo a pensar que era necessário dela desconfiar, a tal ponto que em 1374 – seis anos antes da sua morte – o capítulo geral dos Dominicanos convocou-a para ser interrogada em Florença. «Puseram ao seu lado um frade douto e humilde, Raimundo de Cápua, futuro Mestre-Geral da Ordem. Tendo-se tornado seu confessor e também seu “filho espiritual”, escreveu uma primeira biografia completa da Santa», sublinhou Bento XVI.
A sapiência de Catarina constituiu mais um sinal da presença de Deus na sua vida. Aprendeu a ler com dificuldade e a escrever já em idade adulta. A doutrina de Catarina está contida em “O Diálogo da Providência Divina”, ou seja, no “Livro da Doutrina Divina”: «Uma obra-prima da literatura espiritual, no seu Epistolário e na colectânea das suas Orações. O seu ensinamento é dotado de uma riqueza tão profunda, que o Servo de Deus Paulo VI, em 1970, a declarou Doutora da Igreja, título que se acrescentava ao de co-Padroeira da cidade de Roma, por desejo do Beato Pio IX, e de Padroeira da Itália, segundo a decisão do Venerável Pio XII».
O Santo Padre recordou que Nossa Senhora apresentou-a a Jesus, que lhe confiou um anel maravilhoso, dizendo-lhe: “Eu, teu Criador e Salvador, desposo-te na fé, que conservarás sempre pura, até quando celebrares comigo no Céu as tuas bodas eternas” (Raimundo de Cápua, Santa Catarina de Sena, Legenda maior, n.º 115, Sena 1998). «Aquele anel permaneceu visível unicamente para ela», destacou o Papa, adiantando que neste episódio extraordinário vemos o centro vital da religiosidade de Catarina e de toda a espiritualidade autêntica: o cristocentrismo.
Bento XVI considera que todos nós podemos deixar transformar o coração e aprender a amar como Cristo, numa familiaridade com Ele alimentada pela oração, pela meditação sobre a Palavra de Deus e pelos Sacramentos, principalmente recebendo de maneira frequente e com devoção a Sagrada Comunhão: «Também Catarina pertence àquela plêiade de Santos eucarísticos, com a qual eu quis concluir a minha Exortação Apostólica Sacramentum caritatis», disse.
À volta de uma personalidade tão vigorosa e autêntica, o Pontífice realçou que se foi constituindo uma verdadeira família espiritual: «Tratava-se de pessoas fascinadas pela respeitabilidade moral desta jovem mulher de elevadíssimo nível de vida, e por vezes impressionadas também pelos fenómenos místicos aos quais assistiam, como os frequentes êxtases».
No que diz respeito ao clero, Bento XVI destacou que a Santa de Sena convidava sempre os ministros sagrados, até o Papa – a quem chamava “doce Cristo na terra” –, a serem fiéis às suas responsabilidades, impelida sempre e unicamente pelo seu amor profundo e constante pela Igreja. Este amor e fidelidade expressou-o antes de morrer: “Partindo do corpo eu, na verdade consumi e entreguei a minha vida na Igreja e pela Santa Igreja, o que é para mim uma graça extremamente singular” (Raimundo de Cápua, Santa Catarina de Sena, Legenda maior, n.º 363, Sena 1998).
«Portanto, de Santa Catarina nós aprendemos a ciência mais sublime: conhecer e amar Jesus Cristo e à Sua Igreja», concluiu o Papa.
M.A.
LEGENDA: São Domingos e Santa Catarina de Sena, ao lado de Nossa Senhora do Rosário (Igreja de São Domingos – Macau).