IGREJA CATÓLICA CELEBROU ONTEM A FESTA LITÚRGICA DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

IGREJA CATÓLICA CELEBROU ONTEM A FESTA LITÚRGICA DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

«Nada mais do que Tu, Senhor!»

A Igreja Católica em Macau juntou-se ontem às celebrações em todo o mundo da Festa Litúrgica de São Tomás de Aquino, membro da Ordem dos Pregadores (Dominicanos), que normalmente tem lugar no dia 28 de Janeiro. Este santo é considerado um dos mais brilhantes teólogos da Igreja de todos os tempos. De entre as suas numerosas obras e tratados, destaca-se a Summa Theologiae(Suma Teológica). É Doutor da Igreja e Padroeiro de todas as Universidades e Escolas Católicas.

Tomás nasceu entre os anos de 1224 e 1225, no castelo que a sua família, nobre e abastada, possuía em Roccasecca, nos arredores de Aquino (Itália), perto da célebre abadia de Montecassino. Tinha por parentes próximos dois imperadores do Sacro Império Romano Alemão, Frederico II e Conrado VI. O seu tio, Sunibaldo, era abade e encarregou-se da sua formação. Ainda pequeno perguntava aos religiosos: «– Que é Deus?».

Aos dezoito anos ingressou na Ordem dos Pregadores. Estudou na Alemanha, onde foi aluno de Santo Alberto Magno (Doutor da Igreja), e depois em Paris, na Sorbone. Na capital francesa, de aluno passou a mestre de filosofia e teologia. Leccionou também em Orvieto, Roma e Nápoles.

Era intelectual, manso e silencioso, e foi apelidado de “boi mudo”. Santo Alberto disse certa vez: «Quando este boi der um mugido vai abalar o mundo». Tomás tinha uma forte estrutura física; era contemplativo e devoto. Aprofundava-se tanto nos estudos que até perdia a noção do tempo e do espaço. A sua norma era: “oferecer aos outros os frutos da contemplação”.

Os seus trabalhos escritos são dados como um dos maiores monumentos da filosofia e teologia católicas. Tomás construiu um monumento de doutrina, fundamentado na fé e na razão, que alguém chamou “a catedral do pensamento cristão”.

O Papa Bento XVI fala-nos assim numa das suas catequeses sobre São Tomás de Aquino: «Não surpreende que, depois de Santo Agostinho, entre os escritores eclesiásticos mencionados no Catecismo da Igreja Católica, São Tomás seja citado mais do que todos os outros, por 61 vezes! Ele foi denominado também o Doctor Angelicus, talvez pelas suas virtudes, de modo particular pela sublimidade do pensamento e pureza da vida».

UMA FONTE DE ILUMINADA SABEDORIA

No seu tempo havia uma pergunta difícil para os teólogos: poderia o pensamento cristão receber algum contributo da filosofia pagã? São Tomás respondeu: «Toda a verdade, dita por quem quer que seja, vem do Espírito Santo».

Na sua obra “Suma Contra os Gentios” indica a principal tarefa da sua vida: “Sou consciente de que o principal dever da minha vida para com Deus é esforçar-me para que as minhas palavras e todos os meus sentidos falem d’Ele”.

O seu biógrafo, Guilherme de Tocco, escreveu: “Todas as vezes que ele queria estudar, iniciar uma disputa, ensinar, escrever ou ditar, retirava-se primeiramente no segredo da oração e rezava vertendo lágrimas, a fim de obter a compreensão dos mistérios divinos”.

A obra principal de Tomás de Aquino é a Summa Theologiae, uma síntese da teologia.

Na catequese de Bento XVI sobre o Santo Doutor, o Papa refere que na Summa TheologiaeSão Tomás começa «a partir do facto que há três diversos modos do ser e da essência de Deus: Deus existe em si mesmo, é o princípio e o fim de todas as coisas, pelo que todas as criaturas procedem e dependem dele; em seguida, Deus está presente através da sua Graça na vida e na actividade do cristão, dos santos; por fim, Deus está presente de maneira totalmente especial na Pessoa de Cristo, aqui unido realmente com o homem Jesus, e activo nos Sacramentos, que brotam da sua obra redentora». No seguimento, conclui Bento XVI sobre a estrutura desta obra monumental: «Uma busca com um “olhar teológico” da plenitude de Deus».

Bento XVI lembra-nos ainda um episódio peculiar na vida de Tomás: «A vida e o ensinamento de São Tomás de Aquino poder-se-iam resumir num episódio transmitido pelos antigos biógrafos. Enquanto o Santo, como fazia habitualmente, estava em oração diante do Crucifixo, de manhã cedo na Capela de São Nicolau em Nápoles, Domingos de Caserta, o sacristão da igreja, ouviu um diálogo. Tomás perguntava, preocupado, se aquilo que tinha escrito sobre os mistérios da fé cristã era correcto. E o Crucificado respondeu-lhe: “Tu falaste bem de mim, Tomás. Qual será a tua recompensa?”. E a resposta que Tomás deu é aquela que também nós, amigos e discípulos de Jesus, sempre gostaríamos de lhe dizer: “Nada mais do que Tu, Senhor!”».

O Papa Leão XIII reavivou os estudos tomistas. Guilherme de Tocco afirma que “nas aulas o seu génio começou a brilhar de tal forma e a sua inteligência a revelar-se tão perspicaz, que repetia aos outros estudantes as lições dos mestres de maneira mais elevada, mais clara e mais profunda do que as tinha ouvido”.

O Concílio Vaticano II aconselhou que São Tomás seja seguido nos Seminários e nas Universidades católicas. O Papa Paulo VI, ao comentar este facto, sublinhou: «É a primeira vez que um Concílio Ecuménico recomenda um teólogo, e este é precisamente São Tomás de Aquino».

Tomás tinha uma alma requintadamente eucarística. Os lindos hinos que a Liturgia da Igreja entoa, para celebrar o mistério da presença real do Corpo e do Sangue do Senhor na Eucaristia são atribuídos à sua fé e à sua sabedoria teológica.

Os últimos meses da vida terrena de Tomás permanecem circundados por uma atmosfera particular, com uma aura misteriosa. Estava perto dos 49 anos quando faleceu, na Abadia cisterciense de Fossanova, no dia 7 de Março de 1274. Viajava para Lyon, onde ia participar no Concílio Ecuménico proclamado pelo Papa Gregório X.

Na sua canonização, a 18 Julho de 1323, o Papa João XXII afirmou: «Ele fez tantos milagres, quantas proposições teológicas escreveu». Para o mesmo Pontífice, «sozinho [São Tomás]iluminava a Igreja mais que os outros doutores. Lendo os seus livros um homem aproveita mais num ano do que durante toda a sua vida».

No dia 28 de Janeiro de 1567 foi declarado Doutor da Igreja por São Pio V. Logo passou, então, a ser chamado “doutor angélico”.

BREVES REFLEXÕES DO SANTO DOUTOR

– A existência de Deus pode ser provada por cinco maneiras (Summa Theologiae). Elas são: a prova do movimento, a prova da causalidade, a prova da contingência do mundo, a prova dos graus de perfeição e a prova da finalidade;

– Levar os homens à verdade é o maior benefício que se pode prestar aos outros;

– Quanto mais um ser se afasta de Deus mais ele se aproxima do nada;

– Apresentando a oração do Pai-Nosso, São Tomás mostra que ela é em si mesma perfeita;

– Depois do baptismo, a oração contínua é necessária ao homem. Embora sejam perdoados os pecados pelo baptismo, ainda ficam sempre os estímulos desse; que nos combate interiormente; o mundo e os demónios que nos combatem exteriormente;

– Todas as graças que o Senhor, desde toda a eternidade, determinou conceder-nos, não as quer conceder a não ser por meio da oração;

– É impossível que a providência divina se engane;

– Pela oração de muitos, às vezes, se alcança o que pela oração de um só não se obteria;

– Por ser Mãe de Deus, Maria, tem uma dignidade quase infinita. Lugar onde a Trindade encontra o seu descanso (em virtude da Encarnação). Pela sua intercessão, nós podemos obter todo o auxílio;

– A comunhão destrói as tentações do demónio;

– Tanto vale a Santa Missa quanto vale a morte de Jesus na Cruz.

São Tomás de Aquino, rogai por nós!

Miguel Augusto

com Felipe Aquino e Libreria Editrice Vaticana

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