Um congresso, um movimento e dois livros.
A última semana de Março ficou marcada pela primeira etapa do “Congresso Internacional de Filosofia e Literatura: entre Portugal e Macau” – evento co-organizado por instituições académicas portuguesas e locais (Universidade de Macau, Universidade de São José e Instituto Politécnico), cuja segunda manga terá lugar, no Porto e Lisboa, no próximo mês de Maio – que contou com a apresentação de dois livros, com a chancela do Instituto Internacional de Macau (IIM), e com a primeira apresentação oficial em Macau do Movimento Internacional Lusófono (MIL), entidade já com sete anos de existência. Ambos os eventos decorrerem no passado dia 31 de Março, no auditório do Consulado Geral de Portugal em Macau.
Para falar dos propósitos do MIL, marcou presença na mesa Renato Epifâneo, presidente deste organismo (também participante e co-organizador do congresso), que nos traçou as linhas mestras de «um movimento cultural e cívico» que se formalizou em 2010, com sede no Palácio da Independência, em Lisboa, assumindo com garbo a singularidade de ter no conselho consultivo uma centena de pessoas de todos os países e regiões do espaço de língua portuguesa. «É uma representatividade transnacional que nos apraz registar», diz Epifâneo. A aposta em parcerias com associações da sociedade civil é outra forte marca do projecto. «Para o MIL, esta comunidade de língua portuguesa, que tantos prezamos, não se circunscreve aos países de língua oficial portuguesa, mas abarca, e abraça, outras regiões, desde logo Macau, Galiza, Malaca, sem esquecer as diásporas, e não apenas as diásporas portuguesas». Para alcançar esse desiderato o MIL recorre aos Congressos da Cidadania Lusófona, realizados com uma periodicidade anual, onde procura precisamente congregar as diversas associações da sociedade civil. «Na realidade, estamos em pleno processo de elaboração de uma plataforma de organismos de cunho civil pois, a nosso ver, esse é o caminho a seguir», afirma Renato Epifâneo.
O MIL não tem qualquer tutela política, seja a nível governamental ou a nível partidário. «Prezamos muito a nossa independência e a nossa autonomia operacional e estratégica», refere. E é nesse contexto que surge a parceria que há anos o MIL desenvolve com o Instituto Internacional de Macau. O Prémio Personalidade Lusófona, atribuída no ano transacto ao professor Domingos Simões Pereira, ex-secretário executivo da CPLP, e cuja cerimónia de entrega terá lugar no próximo 18 de Abril, na Sociedade da Geografia, é uma das iniciativas que o MIL anualmente leva a cabo e que pretende premiar pessoas que se tenham destacado «nessa árdua tarefa que é a convergência entre os Países de Língua Portuguesa», no plano cultural, desde logo, mas também no plano social, económico e político. Entre os laureados constam dois brasileiros – o embaixador Lauro Moreira e o professor Gilvan Muller de Oliveira, do Instituto Internacional de Língua Portuguesa –, o professor Adriano Moreira, D. Duarte de Bragança, o investigador galego Ângelo Cristóvão, fundador da Academia Galega de Língua Portuguesa, e o bispo D. Ximenes Belo. Nestes dois últimos casos, o MIL procurou não só homenagear as pessoas em si, mas também todos aqueles que elas representam. No caso de Ângelo Cristovão, simbolizar a vinculação da Galiza ao espaço de língua portuguesa; no caso de D. Ximenes Belo, homenagear todo o povo timorense, evocando a sua heroicidade e resistência à ocupação indonésia e reafirmada ligação ao espaço lusófono. «O prémio deste ano será atribuído ao embaixador angolano Rui Mingas», adianta ainda Renato Epifâneo. O MIL é também responsável pela revista bi-anual “Nova Águia”, cujo décimo oitavo número será lançado ainda este mês.
Novas obras
Orador nato, homem de discurso apaixonado, «vulcânico» como o próprio se descreve, Luís Sá Cunha fez, na mesma ocasião, a apresentação oficial das mais recentes obras editadas pelo IIM. A primeira, “Macau – Roteiro de uma cidade aberta”, foi já lançada em Lisboa e tem como autores dois professores que trabalharam no território, Jorge Santos Alves e Rui Simões. A segunda, substancial obra, tanto na prosa como na imagem, intitulada “China e Países Lusófonos – Património Construído”, foi coordenada por José Amaral, vice-presidente do IIM, tendo contado com a participação de conceituados investigadores. Obra que, como salientou Sá Cunha, «só uma casa editorial de grande fôlego se atreveria a empreender», mas que o Instituto Internacional de Macau, «cuja abundante produção editorial» devia fazer corar de vergonha outros organismos, que nesse domínio pouco ou nada produzem, ousou levar a bom termo.
Este terceiro volume, «de uma colecção intitulada Novos Caminhos», tem como denominador comum o facto de todos os monumentos retratados arvorarem o prestigioso título de Património da Humanidade. Os sítios chineses Guerreiros de Terracota de Xian e a Grande Muralha, um e outro icónicos lugares que dispensam apresentações, ocupam as primeiras páginas da obra, acompanhados pela prosa dos investigadores Bai Yunxiang, Xu Chao e Ma Yong. Segue-se a anfitriã Macau, esmiuçada pelo “filho da terra” Jorge Rangel e, depois, os sítios angolanos de M’Banza Kongo (a antiga São Salvador do Congo) e o conjunto de Nova Oeiras, analisados por José Manuel Fernandes, que também nos fala do Mosteiro dos Jerónimos, deixando o centro histórico do Porto aos cuidados de Paula Abrunhosa. Estudioso da cidade da ilha cabo-verdiana de Santiago, Francisco Monteiro dos Reis Pires debruça-se sobre as idiossincrasias da antiga Ribeira Grande ou Cidade Velha. Em África ainda, Ana Vaz Minheiro analisa a ascensão e queda de Cacheu, na Guiné-Bissau, enquanto Maria de Lurdes Janeiro disserta sobre a ilha que deu o nome a Moçambique. Em São Tomé e Príncipe, o foco de Gerhard Seibert centra-se na Roça Sundy, emblemática plantação de período colonial e, no Brasil, Ouro Preto e históricas cidades circundantes, e ainda o convento e igreja de São Francisco da Baía, merecem o escrutínio de Roberto Teixeira Leite. A obra encerra com a análise de Isabel Boavida à urbanização portuguesa de Díli, o mais valioso património edificado em Timor-Leste.
Joaquim Magalhães de Castro