FESTA DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR É HOJE CELEBRADA

FESTA DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR É HOJE CELEBRADA

Luz do mundo e luz da vida (João, 8:12)

A Igreja Católica celebra hoje, 6 de Agosto, a Festa da Transfiguração do Senhor que desde o Século V tem lugar no Oriente. O episódio misterioso da Transfiguração de Jesus dá-se num monte elevado, o Tabor, diante de três testemunhas escolhidas por Ele: Pedro, Tiago e João. O rosto de Jesus ficou brilhante como o Sol e as Suas vestes tornam-se brancas como a luz; Moisés e Elias aparecem. Aqui dá-se também um encontro entre a antiga e a Nova Aliança, como que uma consumação do Plano da Salvação. Cristo revela a Sua divindade para que fique gravada no coração dos Seus discípulos e em todos os que procuram serem tocados por Si. Ao mesmo tempo, Deus pede-nos que quando olharmos o Senhor humilhado e sofrido no madeiro da cruz no monte gólgota, lembremo-nos da Sua gloria e divindade revelada no monte Tabor.

A Transfiguração é uma teofania, uma manifestação tanto da vida divina de Cristo como da Trindade. Neste episódio da vida de Jesus recordamos o Seu baptismo no Jordão, em que também a voz do Pai declara Jesus como Seu Filho amado; aqui Jesus brilha de luz, reflexo da Sua divindade. A nuvem e a luz são dois símbolos inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as manifestações de Deus no Antigo Testamento, a Nuvem, ora escura, ora luminosa, revela o Deus vivo e salvador, escondendo a transcendência da sua Glória: com Moisés sobre a montanha do Sinai, na Tenda de Reunião e durante a caminhada no deserto; com Salomão por ocasião da dedicação do Templo.

Na Transfiguração a Trindade inteira manifesta-se: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito Santo, na nuvem clara, na Luz que encandeia os apóstolos. Jesus mostra a Sua glória divina, que confirma, assim, a confissão de Pedro (Mateus, 16:16). Mostra também que, para «entrar na Sua glória» (Lucas, 24:26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias. Fica claro que a Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus.

A rica liturgia bizantina assim reza na Festa da Transfiguração: “Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, Vossos discípulos contemplaram Vossa Glória, Cristo Deus, para que, quando Vos vissem crucificado, compreendessem que a Vossa Paixão era voluntária e anunciassem ao mundo que Vós sois verdadeiramente a irradiação do Pai”.

No limiar da vida pública de Jesus temos o Seu Baptismo; no limiar da Páscoa, temos a Sua Transfiguração. Pelo Baptismo de Jesus foi manifestado o mistério da primeira regeneração: o nosso Baptismo; já a Transfiguração mostra a nossa própria ressurreição. Desde já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que age nos Sacramentos da Igreja. A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa de Cristo, como disse São Paulo: «Ele vai transfigurar o nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso» (Filipenses, 3:21). Mas lembra-nos também que com Jesus «é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus» (Actos 14:22). Por isso, como Cristo, o cristão não deve temer o sofrimento.

Santo Agostinho ensina: «Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a Montanha. Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas sofrer?» (Sermão 78,6).

Assim, pela Transfiguração, Jesus preparou os discípulos para não se escandalizarem com a sua Paixão e morte na Cruz, o que para eles foi um trauma e um grande desafio; mostrou-lhes a Sua glória e divindade; e deu-lhes a conhecer um antegozo do Céu. Mas, na peregrinação de cada um, como Ele, temos que passar pelas provações deste mundo; caindo e levantando-nos, ajudados pelas consolações do Senhor, pela Sua graça.

REFLEXÕES DO PAPA FRANCISCO

Na Festa da Transfiguração de 2017, o Papa Francisco fez uma bela reflexão sobre o que podemos aprender com este acontecimento descrito no Evangelho. «A subida dos discípulos ao monte Tabor – disse Francisco –leva-nos a refletir acerca da importância de nos desapegarmos das coisas mundanas, a fim de fazer um caminho rumo ao alto e contemplar Jesus. Trata-se de nos pormos à escuta atenta e orante de Cristo, o Filho amado do Pai, procurando momentos de oração que permitem o acolhimento dócil e jubiloso da Palavra de Deus».

Francisco continuou a sua reflexão afirmando que nesta ascensão espiritual, neste afastamento das coisas mundanas, somos chamados a redescobrir o silêncio pacificador e regenerante da meditação do Evangelho, da leitura da Bíblia, que para o Pontífice dá rumo a uma meta rica de beleza, de esplendor e de alegria. «E quando nos pomos assim, com a Bíblia na mão, em silêncio, começamos a sentir esta beleza interior, esta alegria que a palavra de Deus gera em nós» sublinhou o Papa, acrescentando: «No final da admirável experiência da Transfiguração, os discípulos desceram do monte com os olhos e o coração transfigurados pelo encontro com o Senhor». Francisco deixou o convite a cada cristão para realizar esse percurso – a redescoberta cada vez mais viva de Jesus que, segundo o Papa, não constitui um fim em si, mas induz-nos a «descer do monte» – restaurados pela força do Espírito divino, para decidir novos passos de conversão e para testemunhar constantemente a caridade, como lei de vida diária.

Miguel Augusto

com Felipe Aquino e Vatican News

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