Arte reciclada alerta para a poluição oceânica

EXPOSIÇÃO “MAR DE PLÁSTICO” É INAUGURADA NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA

Arte reciclada alerta para a poluição oceânica

A Universidade de São José acolhe a partir de segunda-feira uma exposição com trabalhos artísticos criados com o recurso a lixo e a detritos retirados do mar. Patente ao público até ao final do mês, a mostra tem como grande propósito sensibilizar a população de Macau para o impacto da poluição dos oceanos e da orla costeira.

A galeria Kent Wong, no Campus da Ilha Verde da Universidade de São José (USJ), acolhe a partir da próxima segunda-feira, 8 de Maio, a mostra “Mar de Plástico: Uma Exposição de Arte Reciclada”. Mais do que um mero certame artístico, o evento organizado pelo Instituto de Ciência e Meio Ambiente da USJ, prefigura-se como um grito de alerta face ao impacto da poluição – nomeadamente da poluição associada ao descarte irregular de plástico – que afecta os oceanos e a orla costeira, ao transformar lixo e detritos retirados do mar em trabalhos artísticos.

Patente ao público até 26 de Maio, a exposição reúne cerca de quarenta obras com vários formatos, tamanhos e feitios. As peças foram criadas e compostas maioritariamente por alunos de cinco estabelecimentos de ensino do território, exclusivamente com recurso a plástico e outros resíduos recolhidos na costa de Macau. Entre os trabalhos artísticos seleccionados estão esculturas de animais e de outros organismos marinhos, uma opção deliberada que tem como objectivo sensibilizar o público para a necessidade de proteger os oceanos e os ecossistemas costeiros contra a ameaça crescente da poluição por plástico. «A exposição agrupa cerca de quarenta obras, de diferentes tamanhos. A maior tem cerca de dois metros. A maior parte dos trabalhos são tridimensionais e são esculturas de organismos marinhos e costeiros: algas, baleias, golfinhos, tartarugas e pássaros, criados sobretudo a partir de plásticos reciclados recolhidos na praia», explicou a coordenadora da exposição, Karen Araño Tagulao, em declarações a’O CLARIM. «Também temos algumas obras de arte criadas pela artista local Tchusca Songo, que foi aluna da Universidade de São José», acrescentou a investigadora do Instituto de Ciência e Meio Ambiente.

A exposição é complementada por painéis, com uma natureza vincadamente científica, que fornecem informações essenciais sobre o impacto e os efeitos nocivos da poluição plásticas nos oceanos. Os cartazes detalham possíveis soluções para mitigar o problema do excesso de plásticos e micro-plásticos nos oceanos, com ênfase particular no recurso aos mangais como um método natural, tendo em vista a retenção de detritos plásticos.

“Mar de Plástico: Uma Exposição de Arte Reciclada” surge no contexto de um projecto, de maior envergadura, que o Instituto de Ciência e Meio Ambiente da USJ tem vindo a conduzir nos últimos anos e que tem como grande referente as zonas húmidas da orla costeira da RAEM. Entre as escolas que se associaram ao certame, estão estabelecimentos de ensino como a Secção Inglesa do Colégio Santa Rosa de Lima, Escola Internacional de Macau, Colégio do Sagrado Coração de Jesus, Escola Secundária Lou Hau ou o Colégio Anglicano. A aposta nesta parceria, reconheceu Karen Tagulao, não foi nem casual, nem irreflectida. O propósito foi sempre o de motivar e comprometer as novas gerações para a defesa dos oceanos e dos ecossistemas costeiros. «Ao criarem arte com matérias reciclados, esperamos conseguir motivar e comprometer os estudantes para a protecção dos nossos recursos marinhos. Através da arte, eles podem reflectir e aprofundar o conhecimento que têm sobre o impacto da poluição plástica nos oceanos. Também podem aprender sobre a importância de reutilizar ou de transformar em algo útil o que teria como destino o caixote do lixo», disse. «Por outro lado, ao expormos as suas criações, também estamos a fazer com que sirvam de inspiração a outros jovens, para que possam fazer o mesmo. Em última instância, queremos gerar um impacto positivo e motivar iniciativas direccionadas para a protecção do ambiente em geral e não apenas dos oceanos».

Mas os responsáveis pela mostra não querem que o impacto se fique por quem assinou os trabalhos artísticos. Há também o intuito de sensibilizar e inspirar a população em geral, para que assuma uma postura mais consciente em relação aos riscos e desafios com que se deparam os oceanos. «A arte reciclada por ser um recurso poderoso para sensibilizar as pessoas sobre a poluição plástica, até porque lhes permite visualizar o seu impacto. Ao criar arte reciclada, os participantes transformam lixo em algo belo, em algo que convida à reflexão. É uma forma de destacar o problema e encorajar as pessoas a estarem mais atentas às suas próprias práticas de consumo e ao lixo que geram, não apenas à escala local, mas à escala global», concluiu Karen Tagulao.

Marco Carvalho

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