Dons ao serviço da inclusão social

DEFICIÊNCIA: USJ APADRINHOU FESTIVAL DE ARTE ACESSÍVEL

Dons ao serviço da inclusão social

A Universidade de São José foi nos três últimos dias um centro nevrálgico de arte e de inclusividade, ao servir de palco à edição de 2019 do Festival de Arte Acessível da região da Ásia-Pacífico. O certame, inaugurado na segunda-feira e que ontem terminou, foi organizado pela instituição de Ensino Superior e pela Cáritas de Macau, tendo reunido no território mais de duas centenas e meia de artistas portadores de deficiência, provenientes de catorze países e territórios.

Dinamizada pela primeira vez em 2016, a iniciativa ajudou a criar uma plataforma de partilha artística e cultural para portadores de deficiência, colocando em contacto pessoas e organizações de vários países da Ásia e da bacia do Pacífico. «Participaram neste evento 150 portadores de deficiência de catorze países e território. A eles juntaram-se outros cem participantes de Macau. No total, estiveram representados cerca de duas centenas e meia de artistas», explicou Paul Pun a’O CLARIM. «O número, no entanto, não é importante. O mais importante é mesmo o contributo que demos a um maior envolvimento entre pessoas e organizações de diferentes origens. Ao juntar estas pessoas em Macau estamos a fomentar a partilha entre elas. Muitas destas pessoas nunca tiveram uma oportunidade como esta», acrescentou o secretário-geral da Cáritas local.

Organizado pela segunda vez no território, o “Asia Pacific Acessible Art Festival” tem também por objectivo reforçar a interacção cultural entre os portadores de deficiência dos países e regiões representados no evento, ao mesmo tempo que promove uma maior cooperação entre as entidades não-governamentais que têm ao seu cuidado cidadãos portadores de deficiência ou crianças com necessidades educativas especiais.

No entender de Paul Pun, a arte oferece aos portadores de deficiência uma oportunidade de desenvolvimento pessoal inigualável, ao oferecer-lhes a voz e a capacidade de expressão de que são muitas vezes privados pela sociedade em que se inserem: «Quando abordamos as necessidades dos cidadãos com deficiência a tendência é que falemos sobretudo de questões como os transportes, a educação ou o acesso a cuidados médicos, mas a arte, por si só, representa algo com o seu próprio valor intrínseco. Ajuda-os a expressarem-se. É algo bom para eles».

O responsável defende que a arte permite que os portadores de deficiências de índole mental ou física possam retribuir à sociedade o apoio que dela recebem. A inclusividade total é, no entanto, ainda uma miragem. Paul Pun considera que para que a sociedade de Macau possa ser verdadeiramente inclusiva, há muito ainda a ser feito, a começar pela rede de transportes públicos do território. «Um dos desafios com que se deparam prende-se com o nosso sistema de transportes. O nosso sistema de transporte não está muito bem equipado», apontou e deixou uma sugestão: «Se pudéssemos alterar a forma como as pessoas usam os transportes públicos, por exemplo, já estaríamos a promover uma mudança significativa. Se em vez de obrigar os passageiros a entrar pela frente, as empresas os encorajassem a entrar pelo meio, esta medida iria encorajar um menor grau de conflito com o grupo que recorre à porta da frente para aceder ao autocarro. Um portador de deficiência que tente utilizar a porta da frente para entrar no autocarro não tem hipótese. É algo extremamente difícil».

Marco Carvalho

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