Bispo de Macau deixa mensagem aos fiéis na Solenidade do Santíssimo Sacramento

«Numa cidade cheia de lojas e casinos também há espaço para Cristo».

Depois de no ano passado a diocese de Macau ter recuperado a tradição da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, este ano voltou a ter lugar no território, no passado dia 3 de Junho.

Em Macau, esta festa do calendário litúrgico deixou de constar na lista de feriados locais, pelo que em Portugal foi celebrada no dia 1 de Junho, como habitualmente, e na RAEM foi adiada para o primeiro Domingo do mês.

Por iniciativa da Diocese, o Corpus Christi foi assinalado durante três dias, sendo de destacar a vigília de 24 horas ao Santíssimo Sacramento, de sábado para Domingo.

A Procissão do Corpo de Cristo – o ponto alto do programa – teve início no final da tarde de Domingo, pela 18 horas, no pátio do Colégio Diocesano de São José, situado nas traseiras do Paço Episcopal.

Antes do começo da caminhada, D. Stephen Lee, bispo de Macau, dirigiu-se aos fiéis, a quem pediu que «participem na missa aos Domingos», dando assim «exemplo de vida, tanto fisicamente, como espiritualmente».

Na mesma ocasião, acentuou a necessidade de «oferecermos o nosso trabalho a Deus», por forma a «dignificarmos o trabalho». Aliás, como dizia o fundador do Opus Dei, São Josemaría Escrivá, “o trabalho santifica”.

Segundo o prelado, trata-se de distribuir os frutos do trabalho: «É imitarmos Jesus Cristo, que distribuiu o pão pelos apóstolos. “Fazei isto em memória de mim”».

Ciente do ambiente económico e social de Macau, D. Stephen Lee relativizou ainda o conforto material que muitas vezes afasta os fiéis das suas obrigações para com a Igreja. «Numa cidade cheia de lojas – e agora vamos passar por muitas – e de casinos, também há espaço para Cristo. Ele está no centro das nossas vidas», concluiu.

 

PROCISSÃO

Faltam poucos segundos para a procissão. Os fiéis ajoelham perante o Santíssimo Sacramento e aguardam que D. Stephen Lee leve o ostensório para o andor que se encontra no adro da igreja da Sé Catedral.

O som dos sinos propaga-se pelas artérias do centro da cidade. Acompanhado pelos acólitos e por sacerdotes, o bispo coloca o ostensório no andor. Este é elevado em ombros pelos acólitos.

À frente do Paço Episcopal, um elemento da Banda do Corpo de Polícia de Segurança Pública anuncia o início da caminhada. Largas centenas de fiéis acompanham o andor, que deixa o Largo da Sé em direcção à Rua da Sé, com terços e velas na mão. Chama-nos a curiosidade o facto das velas não serem de cera, mas de plástico, e funcionarem a pilhas. Pedimos uma emprestada. Tem colada uma imagem de Maria, com a legenda: “Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós”.

A primeira paragem – a lembrar as estações da Via-Sacra – dá-se entre o cruzamento da Rua da Sé com a Travessa do Roquete. O calor continua a fazer-se sentir. Os mais prevenidos estão munidos de leques. À memória vêm as procissões e romarias em Portugal nos meses de Verão.

No Largo do Senado mais populares assistem e esperam pelo andor. A grande maioria irá juntar-se à procissão, não faltando no entanto quem só ali esteja para captar o momento de telemóvel em punho. São curiosos e turistas.

À passagem do Santíssimo Sacramento pelo edifício branco da Santa Casa da Misericórdia, ouve-se uma voz saída dos altifalantes instalados ao longo do percurso: “Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro”. A frase é dita em Chinês, Português e Inglês.

A segunda paragem tem lugar em frente à igreja de São Domingos, no largo “baptizado” com o nome deste santo. O ostensório é retirado do andor e colocado em cima de um altar situado em frente à porta da igreja. Em sinal de respeito e adoração, quase todos os presentes ajoelham perante o Santíssimo Sacramento e ouvem de seguida – em Português, por D. Stephen Lee – um excerto da Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios: «Irmãos: Não é o cálice de bênção que abençoamos a comunhão com o sangue de Cristo? Não é o pão que partimos a comunhão com o corpo de Cristo? Visto que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do mesmo pão» (1Cor., 10, 16-17).

A noite começa a cair sobre a cidade e a luz das velas ganha mais intensidade. De facto, o pôr-do-Sol em Macau dá-se a grande velocidade, mesmo nos dias mais compridos. D. Stephen Lee ergue o ostensório em direcção aos fiéis. No ar sente-se o perfume do incenso que sai do turíbulo.

O andor prossegue agora pela Rua de São Domingos. A Banda do Corpo de Polícia de Segurança Pública volta a marcar o ritmo da passada. Da Travessa do Bispo, ao lado da Livraria Portuguesa, vê-se no cimo a Sé Catedral. A Porta Santa já está aberta e do seu interior é emanada uma luz forte.

Concluída a jornada, o ostensório é novamente retirado do andor – os sinos tocam a rebate – e D. Stephen Lee coloca-o no altar. Os fiéis vão ocupando os assentos da igreja, enquanto o bispo e os seus concelebrantes ajoelham mais uma vez perante o Santíssimo Sacramento. O órgão e um pequeno coro dão mais brilho e solenidade à ocasião. Num acto contagioso, os fiéis também ajoelham. D. Stephen Lee recita a última oração, eleva de novo o ostensório em direcção aos fiéis, volta a pousá-lo no altar e ajoelha-se.

A terminar a cerimónia, o Santíssimo Sacramento é retirado do ostensório e colocado dentro do sacrário. Entoa-se um cântico. É o momento da despedida.

José Miguel Encarnação

jme888@gmail.com

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *