Pobres procuram ajuda junto da Igreja

São Lourenço “conforta” mais de meia centena.

Como consequência do 1º Dia Mundial dos Pobres, assinalado em todo o mundo a 19 de Novembro de 2017, a distribuição diária de alimentos na igreja de São Lourenço dá esperança a cerca de setenta pessoas que passam por situações de necessidade. O Instituto de Acção Social reconhece que há pobreza em Macau, mas sustenta que os números estão a diminuir. No ano passado tratou cerca de nove mil casos.

A senhora Tong (nome fictício) está sentada em frente à igreja de São Lourenço. Espera que lhe seja entregue uma caixa com arroz e carne, ou com outro alimento, mas a ameaça do tufão deixa uma incerteza no seu pensamento: Será que desta vez irei embora de mãos a abanar? «Ninguém quer saber de mim. Ninguém se importa em ajudar-me. Pelo menos, aqui sinto-me feliz, pois tenho algum conforto», diz num tom algo tímido.

A senhora Tong, chinesa natural de Macau, vive nas imediações da igreja de São Lourenço. É uma das cerca de setenta pessoas que comparece com regularidade à distribuição de alimentos no pátio da igreja. A acção de caridade, implementada pelo pároco Jojo Ancheril, realiza-se todos os dias a partir das 19 horas e 15. A oferta acontece após uma pequena oração entre todos no interior da igreja.

«A 19 de Novembro do ano passado, por ocasião do 1º Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco pediu ajuda a favor dos pobres de todo o mundo. Não tínhamos um programa especial na paróquia, mas o nosso bispo [D. Stephen Lee] pediu que os párocos fizessem algo pelos pobres. E foi assim que após a missa desse dia eu tomei a iniciativa de dizer que se houvesse pobres no bairro de São Lourenço, que me encontrassem na igreja porque iria levá-los a jantar», contou o padre Jojo Ancheril.

Todavia, o sacerdote foi criticado por «certas pessoas», que lhe disseram: «Em Macau não há pobres. Há estrangeiros. Talvez não conheça a realidade de Macau». E qual não foi a sua surpresa quando, nessa mesma noite, foram ter com ele seis pessoas. O número foi aumentando consideravelmente, chegando agora a cerca de sessenta ou setenta cidadãos, dependendo dos dias. Maioritariamente são chineses de Macau, mas também há da China continental e de Hong Kong, bem como falantes de língua portuguesa.

«No início levava-as a um determinado restaurante chinês da vizinhança, mas como o número de pessoas começou a aumentar tornou-se impossível continuar a fazê-lo. Felizmente, o dono do restaurante é católico e predispôs-se a fornecer-nos comida apenas pelo valor dos alimentos, sem com isso obter lucro», explicou o sacerdote claretiano, que também está agradecido a outro restaurante que, no último sábado de cada mês, assegura o “buffet” para os pobres no salão da igreja de São Lourenço, sendo o pagamento efectuado pela Sociedade de São Vicente de Paulo.

«Não esperava que viessem tantas pessoas todos os dias. No entanto, há cada vez mais. Por vezes, vêm mais do que a alimentação que temos disponível» referiu o padre Jojo Ancheril, que contorna a situação telefonando para o habitual restaurante chinês, por forma a encomendar mais comida, que geralmente é entregue cerca de quinze minutos depois.

 

NÚMEROS DA ACÇÃO SOCIAL

O Instituto de Acção Social (IAS) prestou, no ano passado, apoio económico a quatro mil 118 agregados familiares, correspondendo a um total de seis mil 535 pessoas. Nesse sentido, tem em conta o valor do risco social definido – quatro mil e 50 patacas para um agregado familiar de um elemento – para situações de carência económica resultantes de factores de natureza social, de saúde e de outras que exijam apoio especial.

“A par disso, de acordo com os resultados da análise das famílias apoiadas pelo IAS, conforme as razões que levam ao pedido de subsídios, os agregados familiares beneficiários do apoio económico são classificados em cinco tipos essenciais: famílias com elementos portadores de doenças graves, famílias com idosos, famílias com desempregados, famílias monoparentais e famílias com pessoas deficientes”, salientou Lee Kuai Heng, da Divisão de Relações Públicas e de Comunicação Social do IAS, poe e-mail a’O CLARIM.

“Nesta conformidade, para além da atribuição do subsídio regular, o Instituto também concede, nos termos legais, subsídios especiais a três tipos de famílias em situação vulnerável”, frisou a mesma responsável, relativamente às famílias monoparentais, a pessoas com deficiência e a doente crónicos.

Quanto às medidas que o Governo está a tomar para combater a pobreza em Macau, é dito no mesmo e-mail que “o IAS tem vindo a desenvolver o plano de desenvolvimento dos serviços familiares e comunitários (…)”, acrescentando que o efectuou, no ano passado, “uma optimização da gestão de cerca de nove mil casos (…)”.

“De facto, nos últimos anos o número de casos beneficiários de subsídios tem vindo a diminuir e o número de beneficiários que saíram com sucesso da situação de pobreza é superior ao número de novos pedidos de subsídios, o que reflecte o melhoramento da situação de pobreza em Macau”, lê-se ainda no e-mail enviado pela responsável do IAS.

Pedro Daniel Oliveira

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