Homem que levou a missão ao desconhecido.
«Foi uma pessoa inteligente, culta e habituada a ser responsável, com uma personalidade sua, muito própria», descreveu a’O CLARIM, Beatriz Basto da Silva, oradora convidada da palestra sobre do centenário do nascimento do padre Benjamim Videira Pires, a decorrer hoje, pelas 18 horas, no Instituto Internacional de Macau.
«Os jesuítas normalmente são bem preparados. O padre Benjamim Videira Pires tinha formação em Matemática, Física e Química, tudo áreas que não demonstrou em Macau, mas que lhe devem ter feito o pensamento», salientou, a propósito do transmontano que «não se confinou à territorialidade do interior de Portugal e foi para muito longe», tal como «sucedeu com muitos outros daquela zona do País».
«A vida dele não foi a de um missionário corrente. Não veio para cá jovenzinho, para o Seminário, porque chegou com 32 anos. Já era um homem feito e trouxe uma grande bagagem [de conhecimentos] que lhe foi de grande valia. Era um homem, não só academicamente bem preparado, como acumulava experiência de vida», referiu Bastos da Silva.
«Isso não acontecia com outros sacerdotes, que vieram em pequenos e se prepararam depois aqui. Provavelmente, tiveram mais facilidade em falar o Chinês do que ele, mas já me disseram que o padre Videira Pires falava a língua, para além dos “rudimentos” que também eu sei dizer», frisou, acrescentado: «É provável que sim, porque foi capelão militar e ia, de vez em quando, ao interior da China fazer as suas visitas pastorais ou a amigos. Por isso, era natural que tivesse uma certa bagagem de conhecimento da língua chinesa, que não precisava de exibir à minha frente, ou quando estivesse diante de outros portugueses».
Para Beatriz Basto da Silva, «não há dúvida que ele tinha a preocupação de educar e civilizar as crianças chinesas», porque «tanto assim foi que fundou e dirigiu o Instituto D. Melchior Carneiro», sendo esta «a sua criação e o seu enlevo». «Teve a preocupação de um pedagogo com espírito jesuíta. Ou seja, levar a missão até ao desconhecido e atrair as crianças, desde pequeninas, para a civilização e para o conhecimento do outro», vincou.
«Gostaria de deixar expressa a necessidade de reunir a obra dispersa do padre Vieira, nomeadamente, os artigos que escreveu na revista Religião e Pátria, também por ele fundada, e em todas as publicações em que colaborou, incluindo O CLARIM, para ser compilada, republicada e traduzida para Chinês e Inglês», disse ainda, em jeito de desafio.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com