Solidariedade, precisa-se!
A maior organização de defesa dos direitos dos animais em Macau encerrou o exercício financeiro de 2020 com um saldo negativo na ordem de 1,2 milhões de patacas. O prejuízo foi amenizado pela suspensão de obras em curso e pelo perdão de uma dívida significativa, mas o buraco efectivo de setecentas mil patacas com que ANIMA terminou o ano transacto coloca em risco a sobrevivência de mais de setecentos cães e gatos, e a manutenção de 35 postos de trabalho.
«Terminámos o ano passado com prejuízos, em números redondos, entre receitas e despesas, de cerca de setecentas mil patacas, que sobem para cerca de um milhão e duzentas mil se não incluirmos receitas contabilísticas resultantes do perdão de algumas dúvidas e da suspensão de algumas das obras que estavam em curso».
O balanço do terrível primeiro ano sob os efeitos da pandemia é feito por Albano Martins, presidente honorário da ANIMA.
Em 2020, as despesas correntes da Sociedade Protectora dos Animais de Macau superaram a fasquia dos 10,3 milhões de patacas. No mesmo período, as receitas foram na ordem de 9,1 milhões de patacas. Só em alimentação e cuidados de saúde para os animais, a ANIMA gastou 3,3 milhões de patacas.
A Fundação Macau ofereceu uma prestação de cinco milhões de patacas para assegurar o funcionamento da instituição, sendo que uma parte considerável do orçamento anual da entidade tinha origem na solidariedade das concessionárias de jogo do território. O impacto da pandemia na actividade dos casinos resultou numa menor disponibilidade das operadoras para ajudar, explicou Albano Martins. «Os casinos apoiavam a ANIMA todos os anos com cerca de quatro milhões de patacas. O ano passava, se não estou em erro, deram no total qualquer coisa como quatrocentas mil. Isto representou para a ANIMA um enorme transtorno», disse a’O CLARIM, acrescentando: «O nosso orçamento anual é de entre nove e dez milhões de patacas. O dinheiro que as concessionárias de jogo ofereciam dava para compor o orçamento, para saldar a dívida do ano anterior, para acautelar a dívida do ano seguinte. Andávamos sempre com este jogo para equilibrar as coisas, mas agora não. Agora as perspectivas são bem mais complicadas. Temos de sobreviver com o que temos».
Para complicar um cenário já por si sombrio, os resgates de animais continuam a ser muito superiores às adopções. Para além dos animais resgatados, a organização faz chegar apoio a milhares de animais fora das instalações da ANIMA, assegurando que os animais de estimação de idosos e de pessoas com poucos recursos financeiros tenham acesso a cuidados de saúde e a alimentos. «Oferecemos comida aos nossos voluntários para que possam alimentar animais que não conseguimos resgatar. Há muitas pessoas, sobretudo idosos, que não têm dinheiro e a quem nós damos comida para que os animais que têm em casa sejam alimentados. Andámos de um lado para o outro. Temos uma brigada de resgate que todos os dias conduz estas operações», concluiu o dirigente.
Marco Carvalho