O início
André Couto nasceu em Portugal a 14 de Dezembro de 1976. Quando os pais vieram para Macau, na época sob administração portuguesa, tinha quatro anos de idade e acompanhou-os na mudança para o Oriente.
Em Macau o pequeno André excitava-se ao ouvir o som poderoso das máquinas que aceleravam no Circuito da Guia, ano após ano. Na altura, o Grande Prémio de Macau, ainda bastante amador e artesanal, não apresentava grandes obstáculos a que uma criança deambulasse pelo “paddock” e se misturasse com pilotos e mecânicos. Para ele era a melhor época do ano. Estar junto daqueles carros e motos, e poder partilhar o ambiente que se vive num evento deste tipo, fazia-o sonhar com o dia em que venceria o Grande Prémio de Macau.
O tempo passou e em 1991 viu-se inscrito nas actividades das Férias Desportivas, organizadas por várias entidades, com a coordenação do Instituto de Desportos de Macau. E a actividade escolhida foi… o Karting, naturalmente!
Com 15 anos de idade começou por dominar as provas preliminares e foi subindo no “ranking” não oficial dos aspirantes a vencedores da iniciativa destinada a manter os jovens do território ocupados durante o período das férias escolares. E assim se chegou à final, com 32 sobreviventes das sucessivas eliminatórias. A grelha de largada foi escolhida por sorteio. Calhou-lhe uma das últimas posições do “grid”. O pai Couto, talvez para incentivar o filho, disse-lhe: «Se venceres esta corrida, dou-te um kart a sério!». Não que os pequenos veículos usados não fossem “a sério”, mas estavam muito longe de ser karts de competição. E André fez o que muitos pensaram ser impossível. Venceu o Campeonato de Karting das Férias Escolares de 1991.
O pai, cumprindo a palavra dada, arranjou um kart “a sério” para o filho. Durante esse ano passeou a sua classe em Macau, e em 1992 deu-se início a voos mais altos, acompanhados por ambições mais do que legítimas. Hong Kong organizava anualmente a única prova de desportos motorizados autorizada pelos responsáveis da vizinha colónia britânica. O “Marlboro International Karting Grand Prix”, realizado nos arruamentos do “Victoria Park”, atraía pilotos e equipas profissionais da Europa e da Ásia. E o jovem de Macau necessitava de ver como se portava contra os pilotos internacionais que ali estariam. De eliminatória em eliminatória, André ia-se qualificando para a eliminatória seguinte. Chegou à final e disputou o primeiro posto da corrida até que um furo lento deitou tudo a perder. Só o seu talento puro conseguiu contornar o problema, acabando num fantástico 2º lugar.
Seguiu-se o Campeonato Asiático de Karting, no Circuito de Carmona, em Rizal, perto de Manila, nas Filipinas. O domínio absoluto de André espantou os pilotos internacionais, os chefes de equipa e os poucos jornalistas presentes. Mas na final, quando passeava a sua classe pelo circuito, o magneto de ignição do motor do kart explodiu. Tinha uma vantagem de mais de 25 segundos do mais próximo adversário, a duas voltas do fim.
Pois não foi à primeira, foi à segunda, e em 1993 desforrou-se do desaire do ano anterior, impondo-se e vencendo o Campeonato Asiático de Karting, novamente em Carmona, sem deixar dúvidas.
A Europa esperava-o. Era o passo lógico a dar. E foi pela mão de um dos mais conceituados nomes do karting mundial, o construtor, afinador e chefe de equipa Peter De Bruijn. Mas apesar de ser sempre altamente competitivo e efectuar excelentes prestações as vitórias não apareceram. No Campeonato Mundial de Valance, em França, um violento “chega para lá” de um piloto francês acabaria com as expectativas reais de André. Na Argentina, devido à altitude, muitos dos pilotos internacionais, Couto incluído, tiverem problemas de carburação. Já os vencedores recorreram a um truque, que sendo ilegal não mereceu qualquer atenção da organização do evento. Frigorificaram o combustível, tornando-o muito mais denso, e enquanto os outros pilotos se debatiam com bolhas de ar nos tubos de alimentação de combustível, eles não sentiram esse problema.
Se bem que as vitórias não tivessem aparecido, as prestações foram mais do que suficientes para passar à fase seguinte: uma Fórmula de iniciação de monolugares que fosse competitiva e internacionalmente reconhecida. O jovem piloto frequentara cursos de condução em França, onde uma vez mais mostrara as suas capacidades de condução. Estava assim tudo a postos para o novo degrau da escada rumo à profissionalização.
Manuel dos Santos