Realizador Joel Brandão assina documentário sobre as Comunidades de Macau

Há um grande distanciamento entre portugueses e chineses.

Joel Brandão, de 23 anos, a realizar uma curta-metragem sobre as comunidades de Macau, constata que os portugueses e os chineses vivem em mundos paralelos. São culturas diferentes que não se tocam, mas promovem a tolerância. O cineasta espera fazer a estreia do seu trabalho no território.

O CLARIMEstá em Macau a concluir o mestrado em Cinema e Audiovisual da Universidade Católica do Porto. Como surgiu esta oportunidade?

JOEL BRANDÃO – Já cá tinha estado em Setembro [de 2016], no intercâmbio de um outro projecto chamado “Influxos” da Babel, uma organização sem fins lucrativos coordenada pela doutora Margarida Saraiva. Filmei então em Macau e Hong Kong. Desta vez, apresentei à Universidade Católica do Porto uma proposta para fazer o estágio em Macau, o que foi aceite. Embora seja eu a custear as despesas, considero que fazer o estágio em Macau é um investimento pessoal e profissional que acaba por se tornar numa vantagem.

CLQual é o âmbito da proposta que apresentou à Universidade Católica?

J.B. – Trata-se de um documentário, uma curta-metragem sobre Macau e as comunidades. Tem entre doze e quinze minutos. Falta-lhe ainda um título. Estou a pensar no nome “Inside”, ou seja “Dentro”. Vai ter legendas em Inglês.

CLQue comunidades retrata no documentário?

J.B. – Retrato as comunidades portuguesa de Portugal, chinesa de Macau e filipina. O objectivo do documentário é retratar essas comunidades, mas não o que os intervenientes fazem no dia-a-dia, a que horas se levantam e vão trabalhar. Pretendo, isso sim, entrevistar cada uma dessas pessoas de modo a perceber o que um português pensa da comunidade chinesa, e de Macau, da cultura local e o que Macau será no futuro. Ao mesmo tempo, saber o que um filipino pensa dos portugueses, dos chineses e da cultura local. Tal como aquilo que um chinês pensa dos portugueses, e por aí fora…

CLQue ilações tirou até ao momento?

J.B. – As comunidades vivem na mesma cidade, interagem entre si, mas em termos étnicos e culturais há um grande distanciamento. Dá-me a impressão que vivem em conjunto, partilham os mesmos espaços, mas vivem em mundos diferentes, com culturas completamente diferentes. Eu, como português, fico alegre por ter chegado a Macau e ver que ainda há alguma conservação dos espaços e dos locais… E que há alguma cultura portuguesa, como foi o caso do 10 de Junho. Foi engraçado, depois de passado um mês e meio de cá estar, ver as comemorações, o rancho folclórico e perceber que há essa forte ligação dos macaenses à cultura portuguesa, por via dos seus antepassados e familiares ainda vivos.

CLPor que escolheu Macau?

J.B. – Cativou-me, quando vim pela primeira vez, o facto de ver muitos portugueses. Nessa altura fiz um documentário sobre o tema “contrastes”. Percebi que a cultura portuguesa aqui é bastante visível, mas o mesmo já não se passa com a cultura chinesa ou macaense em Portugal. E como desta vez tinha que fazer o estágio em algum lugar, pensei: e porque não Macau? Gosto de me aventurar, de viajar e de conhecer outros países. Por isso, quis regressar a Macau, valendo-me dos contactos efectuados no ano passado.

CLFale-nos dos intervenientes no documentário…

J.B. – O doutor Elias Farinha Soares trabalha na Autoridade Monetária de Macau. Estive com ele durante uma tarde, num local onde se sentisse à vontade. Escolheu Coloane para ser entrevistado. O restante das imagens foram feitas com ele a passear na vila de Coloane com a sua companheira. Quis filmar a ligação e a interacção entre ele e as pessoas.

CLE o que lhe disse?

J.B. – É normal os chineses olharem para os portugueses como sendo da classe média-alta, pois muitos deles trabalham cá, ganham ordenados elevados e são reconhecidos. Sente também que os chineses vivem intrinsecamente a sua cultura e resumem-se a isso mesmo. Não há vontade de partilha, são muito fechados nas famílias e não se dão a conhecer facilmente.

CLE os outros intervenientes?

J.B. – Entrevistei o capelão [evangélico] filipino Andy Alcoba. É presidente da “International Aid & Caring Assistance Foundation” e director da “International Auxiliary Chaplaincy Association – Macau”. Disse-me que os chineses fecham-se muito no mundo deles. Por outro lado, sente que a cultura portuguesa é muito mais aberta.

CLE o entrevistado da comunidade chinesa?

J.B. – William Chan! É proprietário de um estabelecimento de comidas entre o Jardim de Camões e o Hospital Kiang Wu. Quando cá estive pela primeira vez era lá que ia todos os dias tomar o pequeno-almoço. E quando regressei ficou todo contente por me ver.

CLQue percepção tem dele?

J.B. – É diferente, mais reservado. Vê os portugueses como os turistas, da classe média-alta. Perguntei se estudou com portugueses ou se fez amigos e respondeu-me que não. A única pessoa com quem lidava era um “chefe de igreja”. Ia à igreja e o padre era professor dele. Curiosamente, falou de uma maneira dos portugueses… Tem muito orgulho em falar dessa pessoa. No entanto, é muito reservado. A amizade com um ocidental é sempre feita com distanciamento. Mas o que mais me cativou é que, embora haja esse distanciamento, abriu as portas do “restaurante” com a mulher para que eu pudesse filmar e entrevistá-lo. Isso deixou-me a pensar: como é que os chineses querem distanciamento, neste caso dos portugueses, mas noutros casos parece que gostam da proximidade e de sentirem que, de alguma forma, são importantes?

CLQue planos tem para o futuro?

J.B. – Regresso no início de Julho a Portugal e vou entregar o relatório do estágio. Pretendo terminar o documentário entre Novembro e Dezembro, para tentar regressar e fazer a estreia em Macau. Depois, logo se verá…

 

“Margem” estreia no Porto (Caixa)

A curta-metragem “Margem”, realizada por Joel Brandão, teve honras de ante-estreia na passada quarta-feira, na Escola de Artes da Universidade Católica do Porto. O enredo desenrola-se à volta de uma viúva que deseja ter a família unida de novo, com a aproximação dos dois filhos. Trata-se do primeiro trabalho de Joel Brandão na qualidade de realizador. Fazem parte do elenco os actores Pedro Barroso, Lucinda Loureiro, Márcia Breia e David Mourato. O cineasta é natural do Porto e reside em Santo Tirso. Um dos seus objectivos é exibir a “curta” em Macau.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *