Paulo Aido, Jornalista da Fundação Ajuda à Igreja Que Sofre

Fátima é antídoto para a quebra de fé no Ocidente.

Velho conhecido de Macau, o jornalista Paulo Aido fala a’O CLARIM do seu trabalho na Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, dos projectos que a instituição tem espalhados pelo mundo e das preocupações face à China continental. Também na qualidade de escritor aborda a sua produção literária de cariz religioso e a motivação para escrever o primeiro romance histórico relacionado com as últimas possessões portuguesas na Índia. Sobre a visita do Papa Francisco a Portugal, agendada para daqui a duas semanas, refere que o Santuário de Fátima é o antídoto para a quebra de fé no mundo ocidental.

O CLARIMPode descrever a natureza do seu trabalho na Fundação AIS?

PAULO AIDO – Sou jornalista e tenho a meu cargo a edição e apresentação dos programas da Fundação AIS na rádio e na televisão, assim como a elaboração de artigos, notícias e outro material informativo relacionado com as questões da liberdade religiosa no mundo e a Igreja perseguida. A minha relação com o trabalho desenvolvido pela Fundação AIS já tem quase duas décadas, embora se tenha acentuado nos últimos anos.

CLQuais os projectos e objectivos da Fundação?

P.A. – A Fundação AIS – o nome significa Ajuda à Igreja que Sofre – depende directamente da Santa Sé e tem secretariados em 23 países. Um deles é Portugal. A sua missão fundamental é apoiar a Igreja nos países onde se verificam situações de perseguição religiosa ou onde é necessário ajuda material. Esta instituição foi fundada no final da II Guerra Mundial. Desde então, a missão tem-se alargado a todos os continentes e a todos os países onde os cristãos passam necessidades e onde são perseguidos por causa da sua fé. Hoje em dia, infelizmente, essa é a realidade cruel não só em alguns países do Médio Oriente, mas também em África e na Ásia.

CLDesenvolvem alguma actividade na Ásia em geral e na China continental em particular?

P.A. – A Fundação AIS desenvolve projectos para a Ásia, assim como para todos os continentes onde se verificam situações de perseguição religiosa ou onde a Igreja é materialmente pobre. Muitos desses projectos estão relacionados com o apoio a seminaristas, sacerdotes e comunidades religiosas, assim como na construção e recuperação de edifícios, igrejas e ainda na distribuição de literatura religiosa. No caso concreto da China, como se sabe, o regime de Pequim criou, no final da década de cinquenta do século passado, uma Igreja “oficial”, a Associação Patriótica, procurando desta forma evitar qualquer interferência por parte da Santa Sé, controlando até a nomeação de bispos. Apesar de actualmente decorrerem negociações, a verdade é que a Santa Sé e Pequim não têm relações diplomáticas e os cristãos fiéis ao Papa fazem parte da chamada Igreja clandestina que é objecto de preocupação e de solidariedade por parte da AIS. Recentemente esteve em Portugal um diácono da Igreja clandestina que testemunhou casos concretos dessa perseguição. O seu bispo, por exemplo, está em prisão domiciliária.

CLÉ autor de várias publicações de cariz religioso, tais como “Irmã Lúcia”, “Em nome do Pai”, “João Paulo II – O Peregrino de Fátima” e “Francisco, o Papa dos Pobres”, entre outras. O que descobriu à medida que foi escrevendo estas obras?

P.A. – Fui-me descobrindo também. Embora todos esses livros sejam obras assinadas por um jornalista, elas reflectem também o olhar do crente. Das experiências mais fascinantes que me têm ocorrido por causa destes livros é o encontro com os leitores. As pessoas vêm ter comigo para agradecerem os livros que publiquei. Isso é inestimável. Sentir que os livros são úteis é extraordinário. E depois acontecem coisas que seriam inimagináveis há uns anos. Por exemplo, neste momento, o meu livro sobre a irmã Lúcia está a ser traduzido na Argentina pela Editorial Santa Maria…

CLEm 2011 aventurou-se no romance histórico, com “A Primeira Derrota de Salazar”. Foi difícil embarcar neste género literário? Que desafios encontrou?

P.A. – Não diria que foi difícil, mas sim que foi delicioso. O melhor de todo o trabalho foi a pesquisa histórica que começou com uma entrevista a um grupo de antigos soldados que foram aprisionados na altura da invasão de Goa, Damão e Diu. A ideia deste livro começou, no entanto, há muitos anos, quando vivi em Macau, pois o saudoso Alberto Alecrim, que em 1961 estava a viver na Índia, contou-me episódios desses tempos, nomeadamente os campos de concentração para onde as nossas tropas foram enviadas depois da invasão.

CLO Papa Francisco desloca-se ao Santuário de Fátima por altura das comemorações do Centenário das Aparições da Virgem Maria aos três pastorinhos. O que perspectiva?

P.A. – Calcula-se que a visita do Papa a Fátima coincida com a canonização de Francisco e Jacinta. Uma coisa é certa: Fátima vai reforçar ainda mais a importância que já tem no mundo como santuário mariano. O facto de se tratar da canonização das mais jovens crianças, não mártires, de sempre, irá ser também destacado pelo Papa Francisco. Num tempo, no mundo ocidental, em que a prática religiosa está em queda, é curioso verificar como Fátima continua a despertar tanto interesse e paixão por tantos milhões de peregrinos.

CLNa primeira metade dos anos noventa foi co-proprietário e director do Ponto Final e jornalista da Rádio Macau. Como era o território nesses tempos?

P.A. – Era diferente, claro. Macau era ainda uma quase aldeia, um enclave improvável da presença portuguesa em terras da China. Tenho imensas saudades desses tempos, não só pela experiência profissional (trabalhei em jornais, rádio e na televisão) como pessoal. A minha filha nasceu em Macau no antigo Hospital Conde de São Januário e, se mais argumentos não tivesse, bastaria esse para que o meu coração ficasse para sempre penhorado a Macau.

CLTem acompanhado a vida em Macau?

P.A. – De facto, continuo a acompanhar com interesse tudo o que diz respeito a Macau. Que dizer? Há cinco anos regressei por uns dias a Macau – fui convidado para o primeiro Festival Literário “Rota das Letras” – e, tenho de confessar, fiquei em choque. Senti que o território que eu conheci se está a afundar no meio dos casinos, dos prédios, das ruas atulhadas de carros e de turistas… Senti que Macau está a perder o perfume que lhe conheci.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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