PADRE TIAGO ALVES DOS SANTOS, PÁROCO DA IGREJA DE SÃO FRANCISCO XAVIER, EM COLOANE

PADRE TIAGO ALVES DOS SANTOS, PÁROCO DA IGREJA DE SÃO FRANCISCO XAVIER, EM COLOANE

«Desejo de evangelizar não nos falta e é isso que faremos»

Depois de um breve período de tempo em que assumiu o estatuto de administrador paroquial da igreja de São Francisco Xavier, o padre Tiago Alves dos Santos é desde o início do mês responsável pela mais periférica das paróquias da diocese de Macau. Missionário do Caminho Neocatecumenal e reitor do Seminário Redemptoris Mater, o sacerdote brasileiro assume o desafio de revitalizar a fé católica numa área do território onde a disseminação da Palavra de Deus tem estado, em grande medida, adormecida. Para tal, se necessário for, está disposto a evangelizar porta a porta.

O CLARIM– Foi recentemente nomeado, pelo bispo de Macau, pároco de São Francisco Xavier, em Coloane. Que desafios já conseguiu identificar na Paróquia?

PADRE TIAGO ALVES DOS SANTOS –A realidade da Paróquia não é muito grande. A única pastoral que temos é a missa de Domingo, pela manhã. Nesta missa participa um pequeno, mas belo, número estável de pessoas. Digamos que não se guia pelo tamanho que tem a Vila de Coloane. Muitos dos participantes são pessoas que vêm de fora, de outras paróquias, para celebrar aqui a Missa. Penso que o número de pessoas que participa com regularidade na Missa Dominical é de entre trinta a quarenta pessoas. Mas Coloane está a crescer muito. Há o complexo “One Oasis”e todos esses novos edifícios e projectos. É um desafio muito grande, porque a nossa intenção é a de poder evangelizar toda esta área. É um trabalho que queremos fazer pouco a pouco. O facto de ainda não estarmos a morar aqui [os seminaristas do Seminário Redemptoris Mater]não nos tem ajudado nesta questão da pastoral. Estamos a reestruturar o edifício lateral da Paróquia, que será a sede do Seminário. Se Deus quiser e permitir, em Agosto terminaremos os trabalhos. Uma vez tendo essa estabilidade – a de nos podermos fixar em Coloane – o nosso trabalho de evangelização vai ser facilitado. Aquilo, sim, que temos vindo a fazer nos Domingos do tempo de Páscoa é abrir a porta da igreja à tarde; e diante aqui da Praça entoamos alguns salmos cantados e, quando se junta um belo grupo de pessoas, temos a oportunidade de anunciar o Evangelho. Deste modo, há pessoas que se têm aproximado um pouco da fé da Igreja.

CL– A igreja de São Francisco Xavier é um dos cartazes turísticos da Vila de Coloane. Essa faceta turística pode ser um trunfo em termos de evangelização?

P.T.A.S. –Sim! A evangelização é um mistério. Nós aproveitamos de modo oportuno e inoportuno, digamos assim. Se cá chegam turistas e há a oportunidade de evangelizar, nós evangelizamos. Que isso depois possa levar a uma constância na busca da fé por parte deles, não sabemos. É um mistério, mas quando se coloca a oportunidade de anunciar a Palavra, é isso que fazemos. Às vezes chegam grupos que nos ligam, da China, e querem passar por aqui pela igreja. Grupos de Hong Kong ou grupos de fora de Macau que passam por aqui e querem visitar a Paróquia. E essa é uma oportunidade que se nos coloca de podermos evangelizar.

CL– Há manifestações de fé ligadas a São Francisco Xavier? O “Apóstolo das Índias” morreu não muito longe daqui. Há também essa outra componente da peregrinação?

P.T.A.S. –Estamos num tempo, ainda recente, da abertura das fronteiras. Recém-chegado a Macau, não lhe posso dar uma resposta exacta em relação a isso. Aquilo que me foi dado a perceber é que em comparação com há dois ou três meses, desde que as fronteiras reabriram, houve pessoas do Japão que vieram até cá à procura das relíquias de São Francisco Xavier ou das relíquias dos mártires japoneses. Penso que para estas pessoas, sim, é um centro de peregrinação, porque para além de ser uma área turística há de facto esta devoção a São Francisco Xavier.

CL– É também o reitor do Seminário Redemptoris Mater. Em que este Seminário é diferente dos demais? Com que missão é que se instala em Macau?

P.T.A.S. –O que faz com que o Redemptoris Materseja diferente é o facto de sermos um Seminário de missionários diocesanos, e as vocações resultarem das comunidades neocatecumenais. O aspecto mais particular deste Seminário é que depende da Propaganda Fide, que confiou ao Caminho Neocatecumental a formação do clero. Este Seminário destina-se à formação de presbíteros para toda a Ásia, onde há lugares em que não há uma verdadeira formação de presbíteros, por razões de vária ordem, sejam elas políticas ou seja pelo que for. A Ásia é um continente imenso e o papa encorajou-nos e tem-nos ajudado nesta missão de evangelização. Este Seminário tem um carácter missionário. De facto – a Igreja, inclusivé com o Papa João Paulo II – sempre falou deste aspecto: que nas dioceses não se perca nunca o carácter universal da Igreja. O Papa João Paulo II encorajava este aspecto missionário da Igreja: o de que existam nas dioceses Seminários que ajudam na evangelização da Igreja universal, até porque é da Igreja universal que se trata. No momento em que a Igreja perde este carácter missionário, perde também, muitas vezes, aquilo que é a sua própria essência enquanto Igreja, ou seja, o anúncio do Evangelho, ordenado por Cristo: “Ide e anunciai o Evangelho a todos os povos”.

CL– Dizia que o Seminário tem, neste momento, doze seminaristas…

P.T.A.S. –Sim, são seminaristas de oito nações. Temos também os primeiros frutos deste Seminário, que são dois diáconos, José e Sheldon, incardinados para a diocese de Macau. Se Deus quiser, muito brevemente serão ordenados presbíteros para a Diocese.

CL– De onde é que estes jovens seminaristas são oriundos?

P.T.A.S. –Temos seminaristas de Itália, Portugal, Espanha, Brasil, Costa Rica, Colômbia e Estados Unidos. Um diácono é da Índia; e o José é português-americano.

CL– Voltando à realidade da paróquia de São Francisco Xavier, como planeia revitalizar a vida desta igreja em Coloane?

P.T.A.S. –A estrutura paroquiana em si não comporta muitas pessoas. É uma capela muito pequena. Neste momento está em andamento a reestruturação do edifício que vai alojar o Seminário e estamos em conversações com o Governo para restaurar a igreja, porque as paredes apresentam problemas; há infiltrações. Mas o que equacionamos fazer, antes de mais, é conhecer o ambiente, é visitar as pessoas. É fazer a pastoral de visitas. O nosso objectivo é dar-nos a conhecer para que as pessoas nos conheçam, num primeiro momento. Nenhuma pessoa pode construir uma relação de evangelização, se primeiro não houver um conhecimento pessoal. Uma vez que já nos conheçam, vamos pouco a pouco abrir as portas que Deus nos der a possibilidade de abrir. Neste momento, tendo em conta a realidade actual da Paróquia, não é possível organizar a Catequese dominical, porque não há um número de crianças que o permita isso. É uma realidade que vai necessitar de algum tempo para se concretizar. Com certeza que o desejo de evangelizar não nos falta e é isso que faremos. No futuro, se Deus o permitir, queremos começar aquilo que são as pastorais normais, aquilo que encontramos dentro da diocese de Macau – uma pastoral que possa implementar uma iniciação cristã adulta da fé nas pessoas que estão na Igreja, ou que deixaram a Igreja, ou ainda que não fazem parte da Igreja. Para isso necessitamos que se dê aqui esses sinais da fé. E, por fim, todas as realidades que se podem, pouco a pouco encontrar, o nosso objectivo é, pois, acolhê-las também aqui.

Marco Carvalho

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