PADRE RAYMUND GASPAR

PADRE RAYMUND GASPAR, RESPONSÁVEL PELO CENTRO PASTORAL CATÓLICO

Missão Católica Filipina é dádiva da Diocese de Macau

Engenheiro agrónomo por profissão, sacerdote por vocação. É assim que o padre Raymund Gaspar, o novo responsável pelo Centro Pastoral Católico, resume o percurso ao serviço de Deus e da Igreja que iniciou há trinta anos. Antigo capelão da comunidade filipina emigrada na Bélgica, o sacerdote foi destacado para Macau no final de 2019, mas o COVID-19 trocou-lhe as voltas. A pandemia, assume, deixou marcas indeléveis na comunidade radicada em Macau, o que torna a missão do Centro Pastoral ainda mais relevante. O padre Raymund Gaspar em entrevista a’O CLARIM.

O CLARIM– Como surgiu a oportunidade para servir a comunidade católica filipina de Macau?

PADRE RAYMUND GASPAR –Antes de Macau estive destacado na Bélgica durante onze anos, como capelão da comunidade filipina ali emigrada. Tive essa experiência, ainda que num contexto europeu, de trabalhar numa Missão Católica com emigrantes filipinos. Aprendi a amar os emigrantes filipinos – e os emigrantes, de forma geral – com todo o meu coração. A experiência na Bélgica permitiu-me perceber que tenho esse espírito de missão. A minha vinda para Macau foi aprovada em Outubro de 2019 e depois de entrar em contacto com o bispo D Stephen Lee e com o chanceler da Diocese ficou decidido que viajaria para Macau pouco depois do Ano Novo. A minha intenção era vir para Macau em Fevereiro ou Março de 2020, mas entretanto o COVID-19 disseminou-se. Tive de esperar dois anos e meio antes de poder assumir a minha missão em Macau. Como tinha tido a experiência na Bélgica e gosto do trabalho missionário, estava desejoso de trabalhar com a comunidade filipina aqui radicada. Pessoalmente, vejo a criação da Missão Católica Filipina como uma dádiva da diocese de Macau aos filipinos que cá vivem. É uma dádiva porque o bispo quer que os filipinos cultivem a sua fé e a cultivem na sua própria língua. É essa a razão pela qual vim para Macau. Não é apenas por meu desejo e vontade, mas porque a diocese de Macau assim entendeu. Fui convidado pela Diocese para estar aqui e para cuidar das necessidades espirituais dos emigrantes filipinos, e se isso acontece é porque a Diocese ama todos os católicos por igual. Esta é uma Missão Católica, mas eu vejo-me a mim próprio como capelão de todos os emigrantes filipinos. O nosso nome oficial é Centro de Acção Pastoral para os Migrantes, o que significa que não servimos apenas os católicos, mas também as outras religiões. Desde que sejam filipinos, se tiverem problemas, se necessitarem de ajuda, as pessoas podem vir até nós. Serão bem-vindas. Uma vez que sou sacerdote e sou eu o responsável pelo Centro, há quem possa pensar que o nosso âmbito de acção está limitado aos católicos, mas não é de todo assim. Na verdade, qualquer que seja a sua fé – sejam eles muçulmanos, não-crentes ou outros – se houver algo que possamos fazer para os ajudar, eles podem vir ter connosco. As nossas portas estão sempre abertas.

CL– Que tipo de serviços presta o Centro Pastoral Católico aos trabalhadores filipinos, para além de acompanhamento espiritual?

P.R.G. –Ao abrigo do nosso novo programa de acção, temos três grandes preocupações. O primeiro facto a ter em conta é que os filipinos adoram associações. Temos uma Comissão para os grupos filipinos e associações religiosas. Segundo, temos uma Comissão para os Assuntos da Igreja, que trabalha naquilo a que chamamos desenvolvimento da fé. Coordena as questões da fé, dos Sacramentos e dos serviços religiosos. O terceiro aspecto tem a ver com as preocupações dos emigrantes. Isto é diferente do desenvolvimento da fé, porque a resposta às preocupações dos emigrantes é dada pelos nossos serviços de assistência social. Para lhe dar um exemplo: com a ajuda da Diocese, temos financiamento para a vacinação de bebés. Este é o tipo de serviço que asseguramos com bastante regularidade durante os últimos anos. Ainda neste âmbito, durante a pandemia e ainda agora, preparamos sacos de produtos básicos – normalmente com arroz, café, ovos, “noodles” e enlatados – para distribuir pelos mais necessitados. Por vezes, há quem ofereça vegetais. Recentemente, até a turistas provenientes de locais como Hong Kong temos dado este tipo de ajuda. Ofereceremos entre setenta a cem sacos de comida todos os sábados.

CL– Do ponto de vista assistência social, que outro tipo de apoio oferece o Centro?

P.R.G. –Há alguns emigrantes que são apanhados em situações de conflito com os seus empregadores e nós ajudamos na coordenação desses casos. Se concluirmos que houve uma grande violação dos seus direitos humanos ou dos termos e das condições do seu contrato laboral, ajudamo-los, até porque é esse o nosso dever. Vamos supor, por exemplo, que eles assinam um contrato que diz que irão receber doze mil patacas por mês, mas, de facto, feitas as contas, só recebem oito mil… Não é isso que está detalhado no contrato. Quando há este tipo de diferendos ajudamos os nossos compatriotas filipinos, porque existem razões lícitas para apresentar queixa. Há um contrato que não foi cumprido. Esse é uma das dimensões da assistência social que prestamos. Temos também serviços de aconselhamento, porque há muitas pessoas que têm de lidar com problemas nas Filipinas, seja com o marido que lá deixaram ou com os filhos. Estas pessoas procuram-nos e querem expressar tudo o que lhes vai na alma e nós procuramos mostrar-lhes de que forma podem responder à situação em que se encontram. Todos os sábados, ao início da noite, também preparamos refeições para as empregadas filipinas que trabalham como internas. Não sei se está familiarizado com este grupo de trabalhadoras. Elas apenas saem de casa dos empregadores ao sábado e regressam no dia seguinte. Dado esse tipo de relação laboral, elas não têm a oportunidade de integrar os grupos e associações filipinas. Esta refeição é uma oportunidade para que elas se juntem e para que sintam que não estão sozinhas.

CL– Habitualmente, quantas pessoas participam neste jantar de sábado?

P.R.G. –Difere de sábado para sábado. Mas uma vez que as refeições são preparadas por grupos de filipinos para os seus compatriotas, depende muito do tamanho do grupo que prepara as refeições. O número de empregadas internas, propriamente ditas, muda muito de semana para semana. Alguma vezes temos dez, outras vezes temos quinze. A participação umas vezes é maior, outras vezes mais pequena. Este tipo de iniciativas é também uma forma de desafiar os grupos e associações filipinas não só a apoiar os seus compatriotas, mas a sair do seu círculo e a partilhar. Do ponto de vista das preocupações dos emigrantes é importante referir o acompanhamento, o apostolado prisional. Há filipinos e filipinas muito activos nas nossas paróquias, que visitam os seus compatriotas que estão encarcerados. Nós também os procuramos ajudar, ainda que eles estejam privados de liberdade. Quando algum deles completa a pena de prisão, mas não tem dinheiro para comprar o bilhete para regressar às Filipinas, nós oferecemos-lhes essa quantia. Mas isso é algo que fazemos com a ajuda de beneméritos locais, de pessoas de Macau. Também dependemos da sua generosidade.

Marco Carvalho

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