Padre Peter Chao, ex-professor de literatura chinesa

«Confúcio podia ser um cristão anónimo»

A necessidade de uma missa em Mandarim na igreja de São Lourenço justifica-se pelo crescente número de católicos chineses em Macau, assegura o padre claretiano Peter Chao, que traça o retrato, num plano mais alargado, de quem tem por hábito assistir às celebrações eucarísticas. A’O CLARIM, o antigo professor de literatura chinesa salienta que Confúcio podia ser cristão se conhecesse a Bíblia e sustenta que a Universidade de São José deve ter um papel fundamental na formação de quadros locais.

O CLARIMCelebrou-se pela primeira vez missa em Mandarim na igreja de São Lourenço. A que se deve esta novidade?

PADRE PETER CHAO – Há a necessidade de missa em Mandarim porque muitos cristãos católicos vivem na zona norte da cidade, mais concretamente na área da igreja de São José Operário. Há também muitos estudantes em Macau provenientes do interior da China e de Taiwan. Desta forma passei a recitar missa [nesta língua], juntamente com o pároco da igreja de São Lourenço, o padre Jojo, de modo a melhor servirmos a comunidade católica [de etnia] chinesa. O director do Instituto Ricci de Macau [padre Artur Wardega] ficou entusiasmado com a ideia, por isso também celebra missa em Mandarim.

CLQuando celebraram a primeira missa?

P.P.C. – Foi a 8 de Março. Celebramos missa de duas em duas semanas, Domingo às 16 horas. Como na igreja de São José Operário há missa todos os Domingos em Mandarim, a partir das 20 horas, vamos também estudar a possibilidade de realizarmos uma de cariz semanal na igreja de São Lourenço. Para isso, precisamos de mais padres que falem Mandarim. Pelo menos temos o apoio total do senhor bispo [D. José Lai], que apesar de tudo nos pergunta se há realmente cristãos que assistem à missa [nesta língua]. Pensamos que é preciso fazer uma melhor divulgação no seio da população, e entre os padres, de maneira a chamarmos mais crentes.

CLEstamos na quadra pascal. Que actividades estão planeadas para a paróquia de São Lourenço?

P.P.C. – Temos as actividades normais da Páscoa, entre as quais o retiro para os paroquianos na igreja de São Lourenço.

CLSente que há interesse da comunidade católica de Macau em festejar a Páscoa ou será que a quadra tem passado um pouco ao lado?

P.P.C. – Há muitos cristãos que vão à igreja de São Lourenço neste período, não só chineses, como também de outras nacionalidades.

CLQue tipo de pessoas costumam frequentar as missas de Macau?

P.P.C. – São mais as pessoas da classe média. Desejava que a classe baixa aderisse em maior número. É preciso empenho do clero e da comunidade cristã para conseguirmos atrair mais fiéis, tanto da classe baixa, como da classe alta.

CLAs missas dominicais da Sé Catedral têm grande participação da classe mais abastada da comunidade macaense. O que fazer para atrair ainda mais pessoas da sociedade em geral?

P.P.C. – A Universidade de São José é uma das vias que pode incutir valores cristãos nas pessoas ao formar alunos locais que depois poderão ocupar postos de destaque, não só na Administração, como também na classe alta da sociedade.

CLHaverá mais alternativas?

P.P.C. – Devíamos formar guias turísticos só para as igrejas de modo a divulgarmos a nossa fé. Macau também pode ser um centro internacional religioso, pela via cristã, em vez de ser apenas um centro mundial de turismo e lazer, até porque quase todos os turistas gostam de entrar nas igrejas.

CLA esmagadora maioria dos turistas chineses entra nas igrejas devido ao exotismo das construções e não tanto por serem cristãos…

P.P.C. – Sim, é verdade. Mas os guias turísticos podem acrescentar um pouco mais, porque há sempre a possibilidade de conversão para alguns turistas. O trabalho dos guias pode ser uma semente que fica nas pessoas.

CLAntes de ser padre foi professor de literatura chinesa (ver caixa). Se Confúcio tivesse tido a oportunidade de ler a Bíblia, ter-se-ia convertido ao Cristianismo?

P.P.C. – O Confúcio até podia não ser baptizado, mas iria seguir os preceitos da Bíblia. Seria um cristão anónimo.

CLDe que forma encara a comunidade muçulmana em Macau?

P.P.C. – Quanto a mim, todas as religiões são pacíficas em Macau. Os muçulmanos são discretos.

 

Entre a China e Taiwan (CAIXA)

O padre Peter Chao nasceu em 1943 na província chinesa de Shandong, de onde é natural Confúcio. Em criança foi viver para Taiwan. Ali foi ordenado padre em 2006 após ser professor de literatura chinesa do ensino secundário e universitário na ilha formosina. Apesar da ordenação, ainda deu aulas de Teologia numa universidade de Taiwan e no Seminário Nacional de Pequim, sob influência da Associação Patriótica Católica Chinesa. Está desde 2007 em Macau, onde prossegue o trabalho evangélico na Congregação dos Missionários Claretianos.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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