Crise travou evolução tecnológica.
A participação na Feira Internacional de Macau (MIF) deu ao empresário José Barbosa a possibilidade de apresentar as soluções interactivas inovadoras que a sua empresa produz em Famalicão. A’O CLARIM, o director executivo da Famasete elogiou o tecido empresarial de Macau e realçou a importância da China no mundo. Falou também sobre a recente viagem que fez a Silicon Valley (Estados Unidos) e traçou o perfil do empresário português. Quanto à tão propalada crise económica, considera que foi um pretexto para se ter desinvestido em muitas áreas importantes do sector tecnológico em Portugal.
O CLARIM – Participou pela primeira vez na MIF. A que ramo de negócios se dedica?
JOSÉ BARBOSA – É sempre com bastante orgulho e empenho que a Famasete procura participar nas mais diversas feiras pelo mundo. Tendo em conta que o mercado internacional é cada vez mais apetecível, procuramos sempre focar-nos no nosso ramo de negócio, que é a interactividade. Apostámos na criação da marca Wingsys, que envolve a produção e o desenvolvimento de “software” e “hardware” interactivo multi-toque em mesas interactivas, quiosques multimédia e “tablets”. Por isso, achámos que seria obrigatória a nossa presença na 20.ª edição da Feira Internacional de Macau.
CL – Que opinião tem da MIF? Pessoalmente, que resultados alcançou?
J.B. – Participar como expositor numa feira desta dimensão e mediatismo é sempre uma mais-valia, não só pelos contactos que são feitos – clientes e fornecedores – mas também pela visibilidade que a nossa marca de sistemas interactivos alcança. Tenho a certeza de que a participação e o investimento feito em feiras de tecnologia e comércio, como a MIF, vieram fazer com que a marca “Wingsys” passasse a ser uma referência na comercialização de produtos interactivos inovadores para os clientes. Tivemos também a oportunidade de fazer contactos com novos e possíveis clientes, que serão agora acompanhados pela nossa distribuidora em Macau, a TechEd.
CL – Como viu o tecido empresarial de Macau nos contactos que fez por cá?
J.B. – Penso que existe uma forte aposta, não só na plataforma regional de cooperação com outras partes da China, como também com a Europa e os Países de Língua Portuguesa. Na minha opinião, a realidade do mercado de Macau é bastante prometedora na medida em que possui uma diversificação de procura de produtos inovadores e de oportunidades de investimento bilateral.
CL – E o mercado da China continental?
J.B. – Nos dias de hoje, a China apresenta-se como elemento fundamental da economia mundial porque, à medida que cresce, também o sistema económico e a oferta mundial aumenta, até porque [o gigante asiático] contém a principal fatia de reservas do nosso planeta. Por isso, parece-me que o mercado empresarial neste país é bastante evolutivo, pelo qual vale a pena apostar.
CL – Esteve recentemente em Silicon Valley, nos Estados Unidos, onde estão instalados os maiores grupos mundiais das novas tecnologias. Que experiência retirou desta sua visita?
J.B. – Foi um evento muito esperado pela equipa Famasete. No “Global Strategic Innovation”, que decorreu em Silicon Valley durante o mês de Setembro, tivemos a oportunidade de visitar o maior centro de inovação mundial e de participar em sessões de “networking” sobre inovação estratégica. Na companhia de outras empresas e empreendedores de Portugal, Macau, Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde, tivemos o privilégio de conhecer as instalações e o funcionamento de grandes empresas de renome mundial, como a HP, a Google e a Cisco, entre outras.
CL – Como vê a retoma económica em Portugal?
J.B. – Segundo um estudo da OCDE, de mês para mês, Portugal tem registado um crescimento gradual e contínuo da actividade do Índice de Compósito. Desta forma, tudo indica que a retoma da economia portuguesa deverá evoluir e recuperar nos próximos anos. Penso que, a nível prático, existe uma melhoria considerável da actividade económica e financeira, mas ainda temos um longo caminho a percorrer.
CL – Que perfil traça do empresário português?
J.B. – Acho que nós, empresários portugueses, somos bastante lutadores e persistentes na nossa busca pelos negócios e pelo sucesso. Procuramos sempre mais e queremos dar a conhecer ao mundo a excelência e a qualidade dos nossos produtos e serviços. Quer seja no turismo, na gastronomia, na saúde ou na tecnologia, visualizamos sempre uma vertente nacional e internacional. No entanto, para uma melhor abordagem de mercados externos, talvez nos devêssemos unir e trabalhar mais em parcerias. Juntar pequenas e grandes empresas, procurando uma solução eficiente para ambas as entidades.
CL – Somos empreendedores ou teremos que aprender ainda mais com os exemplos de fora? Seja nas boas práticas empresariais ou na gestão de recursos humanos…
J.B. – Iremos sempre aprender com as experiências dos outros e com as nossas. Por isso digo que era importante desenvolver mais acções entre as empresas portuguesas. Promover a partilha e a aprendizagem de conhecimento. Temos de ser ainda mais empreendedores e dar a conhecer Portugal. Nos contactos que faço em feiras internacionais vejo que muitos ainda não conhecem o nosso país. Muitas vezes, nem sabem onde se situa, o que é uma pena…
CL – Terá sido a crise um pretexto para o desinvestimento na área das novas tecnologias em Portugal?
J.B. – Penso que a crise económica que se instalou em Portugal foi pretexto para o desinteresse em muitas áreas importantes. Mas a verdade é que, apesar do esforço de inúmeros empresários portugueses, o processo tecnológico evolutivo do nosso mercado está um pouco atrasado, comparativamente a outros países, como a Alemanha ou a China.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com