Profeta Amós: o Rugido do Leão

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Profeta Amós: o Rugido do Leão

Introdução aos “Profetas Posteriores”

Com o livro de Amós, começamos a ler os chamados “Profetas Posteriores” – os livros que contêm as mensagens e os ensinamentos dos profetas cujos nomes dão título aos escritos.

Anteriormente, estudámos o profeta Elias, que aparece nos “Primeiros Profetas” – os livros que seguem o Pentateuco: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis. Nestes livros, os profetas são apresentados dentro de uma narrativa histórica, com ricos detalhes biográficos e relatos em prosa das suas acções.

Em contraste, os “Últimos Profetas” oferecem pouca informação sobre a vida pessoal dos profetas. A ênfase está nas suas palavras, que são apresentadas principalmente em forma poética. São mensagens que provavelmente foram proclamadas publicamente e posteriormente compiladas por escrito. Excepto no livro de Ezequiel, em que os escritos não seguem uma ordem cronológica clara; ao invés, aparecem como colecções de oráculos, com poucas referências ao momento específico em que foram proferidos.

Para acompanhar o contexto histórico destes livros proféticos, de maneira clara e ordenada, começamos com Amós, o mais antigo entre eles.

Contexto histórico do livro de Amós

Amós, um criador de gado e agricultor de Tecoa – fica localizada a cerca de vinte quilómetros a sul de Jerusalém –, foi chamado pelo Senhor para profetizar no Reino do Norte de Israel. O seu ministério ocorreu no Século VIII a.C., durante o reinado de Jeroboão II (786-746 a.C.), uma época marcada pela estabilidade política e pelo crescimento económico. A prosperidade de Israel, impulsionada pelo comércio através dos portos fenícios próximos, como Tiro e Sidon, deu origem a uma classe empresarial rica, intimamente ligada à elite governante.

Esta aliança entre riqueza e poder deu origem a profundas divisões sociais. Os ricos ficavam cada vez mais abastados, enquanto os pobres eram sistematicamente explorados. Muitos eram vendidos como escravos por dívidas insignificantes, e a justiça era rotineiramente negada aos vulneráveis. A classe dominante, incluindo o rei e seus companheiros, vivia na opulência, indiferente ao sofrimento ao redor.

A vida religiosa em Israel, particularmente nos templos de Samaria e Betel, era marcada por rituais elaborados e liturgia grandiosa. No entanto, Amós denuncia tudo isto como adoração vazia – sem devoção genuína, compaixão ou compromisso ético. O profeta retrata Deus como rugido de Sião, não em aprovação à prosperidade de Israel, mas em julgamento contra a sua decadência moral, injustiça social e religiosidade vazia.

«Eu vos responsabilizarei» (Am., 3, 1–4, 5)

«Ouçam esta palavra, israelitas, que o Senhor fala a respeito de vós, a respeito de toda a família que eu tirei da terra do Egipto: Só a vós eu conheci entre todas as famílias da terra; por isso, eu os castigarei por todas as suas iniquidades» (3, 1).

Nesta passagem poderosa, o profeta profere uma acusação divina contra Israel, o povo escolhido de Deus. Apesar do seu estatuto privilegiado, Israel está mergulhado na violência, na opressão, na injustiça e na idolatria. O profeta lembra-lhes que o facto de terem sido escolhidos não os isenta do julgamento – pelo contrário, intensifica a sua responsabilidade.

«O Senhor não faz nada sem revelar o seu plano aos seus servos, os profetas» (3, 7).

Espera-se que Israel dê ouvidos à voz dos profetas, que servem como mensageiros divinos, anunciando tanto revelações quanto advertências. Ignorar estas vozes não é apenas desobediência – é traição!

«O leão rugiu; quem não temeria? O Senhor falou; quem não profetizaria? Proclamai isto nas fortalezas da Assíria, nas fortalezas da terra do Egipto» (3, 8-9).

A aliança de Deus com Israel, estabelecida no Êxodo (cf. 19, 3-6), revela a Sua identidade e poder, chamando a nação à fidelidade e à justiça. De Judá, Amós é enviado ao Reino do Norte para confrontar a sua traição a este vínculo sagrado. A sua voz profética ressoa com o rugido do Senhor de Jerusalém – o único templo verdadeiro onde habita a glória de Deus. Em contraste, o santuário de Israel em Betel é exposto como um falso local de adoração. Amós condena os seus altares como ilegais e a sua adoração como hipócrita (cf. 3, 14), desafiando abertamente a ordem divina enraizada em Sião.

Com ironia, Amós invoca os poderosos opressores de Israel no passado e também uma grande ameaça no presente – o Egipto e a Assíria – para testemunhar a grande opressão e injustiça social que está a ser perpetrada em Samaria e em todo o Reino de Israel contra os pobres e necessitados.

«Ouçam estas palavras das vacas de Basã, que vivem no monte de Samaria: Que oprimem os destituídos e abusam dos necessitados; que dizem aos seus maridos: “Tragam-nos uma bebida!”» (4, 1).

Amós então volta o olhar para as mulheres de Samaria, condenando os seus estilos de vida luxuosos, construídos sobre o sofrimento dos pobres. Ele chama-lhes de “vacas de Basã”, uma metáfora mordaz que evoca o gado bem alimentado e gordo de uma região fértil, destacando a sua indulgência e indiferença moral. Esta imagem não é apenas poética – é sarcasmo profético destinado a expor a hipocrisia.

«Vinde a Betel e pecai, a Gilgal e pecai ainda mais!» (4, 4).

Finalmente, o profeta troça das práticas religiosas em Betel e Gilgal (cf. Am., 4, 4-5), convidando ironicamente o povo a continuar a pecar através da sua adoração. Os seus rituais, embora aparentemente piedosos, estão manchados pela injustiça e pela exploração. A mensagem de Amós é clara: a adoração sem justiça não é apenas vazia – é ofensiva a Deus (cf. Cl., 3, 5).

Orando com a Palavra de Deus

Leia toda a passagem (Am., 3, 1–4, 5) e medite sobre ela.

O chamamento de Deus à santidade não é um privilégio para ganho pessoal, mas uma confiança sagrada para viver a aliança com integridade e compaixão. Demos graças ao Senhor pela Sua misericórdia e amor, e por nos convidar a participar na Sua missão.

Ouça a voz profética: Deus continua a falar – por meio das Escrituras, da Igreja e dos clamores dos pobres. Ignorar estas vozes não é mera negligência; é surdez espiritual. Identifique as vozes proféticas ao seu redor: através de quem o Senhor tem falado comigo ultimamente? Ouça atentamente na caverna da sua alma.

A adoração deve levar à justiça: a adoração genuína renova o coração e eleva os oprimidos. E a minha adoração? Ela está integrada e envolvida com a realidade dos necessitados e dos pobres? Como?

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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