SANTO AGOSTINHO É CELEBRADO A 28 DE AGOSTO

SANTO AGOSTINHO É CELEBRADO A 28 DE AGOSTO

Deus não nos salva sem a nossa ajuda

Santo Agostinho, Padre e Doutor da Igreja, continua a ser relevante. Desde a eleição do novo Papa, um frade agostiniano, Leão XIV, a relevância do Bispo de Hipona na Igreja e no mundo está a tornar-se cada vez mais importante e relevante.

Eu amo Santo Agostinho. Perto da Festa Litúrgica do Santo (28 de Agosto), desejo escrever algumas notas rápidas sobre o significado único do Bispo de Hipona na minha vida como cristão e como religioso.

ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS – Agostinho é natural de Tagaste, actual Argel, onde nasceu a 13 de Novembro de 354. Foi baptizado por Santo Ambrósio a 24 de Abril de 387. Consagrado bispo de Hipona em 395, morreu em Hipona, parte de Argel, no dia 28 de Agosto de 430. Patrício é o seu pai – um descrente convertido com a ajuda da esposa – e Mónica, a sua santa mãe. Tem um irmão e uma irmã (ambos casados, sendo que a irmã se tornou freira em Hipona, após a morte do marido). Agostinho viveu uma juventude agitada e um pouco rebelde até quase aos trinta anos de idade. Amou uma mulher com quem teve um filho, Adeodato.

Magnífico orador e palestrante, Agostinho era um buscador inquieto e comprometido com a verdade. Na sua jornada para a conversão tornou maniqueísta, céptico, neoplatónico, ouvinte dos Sermões de Santo Ambrósio, leitor ávido de São Paulo e, finalmente, cristão baptizado. Por fim, humanista, filósofo, teólogo, místico, poeta e Doutor da Igreja.

A CONVERSÃO DE SANTO AGOSTINHO – A conversão de Santo Agostinho é – juntamente com a conversão de São Paulo – a mais emblemática e influente. Com o seu filho e o seu amigo íntimo, Alípio, Agostinho foi baptizado por Santo Ambrósio na Vigília Pascal de 387. A sua conversão, através de uma lenta jornada de regresso a Cristo, deve-se principalmente à graça de Deus; também às orações e conselhos persistentes e devotos da mãe Mónica, ao exemplo e pregação de Santo Ambrósio e às Cartas de São Paulo. Latinista incomparável, autor de “Confissões”, foi um orador e pregador notável; os seus sermões e escritos são “música para os ouvidos e bálsamo para o coração”. O povo considerava-o (assim como São Tomás de Aquino) “o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios”. Ele pertence à Igreja, a todos nós: «Todos na Igreja se sentem, de alguma forma, discípulos e filhos ou filhas de Santo Agostinho» (São João Paulo II).

Santo Agostinho é um dos convertidos mais célebres do Cristianismo. A sua conversão acontece em três etapas, segundo o Papa Bento XVI, amante e seguidor de Santo Agostinho. A primeira etapa é a “aproximação progressiva ao Cristianismo”. A mãe Mónica influenciou-o grandemente. A cena no jardim e a voz de uma criança a dizer-lhe “Tolle et lege, tolle et lege” (“pega e lê, pega e lê”) é uma experiência mística maravilhosa (cf. Confissões, VIII, 12, 29). Esta primeira etapa centrou-se na contemplação pessoal.

O segundo passo da conversão começa depois de regressar a África e viver em comunhão com os outros: “Só vivendo para os outros é que ele podia realmente viver com Cristo e para Cristo”; “compreender que se chega aos outros com simplicidade e humildade foi a sua verdadeira segunda conversão”.

O terceiro passo da conversão de Agostinho é a descoberta da necessidade de pedir perdão sempre: “Precisamos sempre de ser lavados por Cristo, que lava os nossos pés, e ser renovados por ele. Precisamos de uma conversão permanente”. Agostinho: “Toda a Igreja, todos nós – incluindo os Apóstolos – devemos rezar todos os dias: Perdoai-nos os nossos pecados, assim como nós perdoamos aqueles que pecam contra nós” (cf. De Sermo Domini in Monte, I, 19, 1-3; Papa Bento XVI, Discurso, 27 de Fevereiro de 2008, e seu livro Os Padres, 2008).

A REGRA E AS CONFISSÕES

REGRA DE SANTO AGOSTINHO – Além dos agostinianos, outras Ordens religiosas e Congregações seguem a sua Regra, particularmente os agostinianos, é claro; e também os dominicanos. A Regra começa com este texto bem conhecido: “Ante omnia, fratres carissimi, diligatur Deus deinde proximus” – “A principal motivação para a vossa vida em comum é viver harmoniosamente na casa e ter um só coração e uma só alma na busca de Deus”.

O mandamento “Amar a Deus e ao próximo” é aperfeiçoado pelos Conselhos de obediência, pobreza e castidade. Na vida religiosa não há propriedade privada, mas sim propriedade comum: “Teu” e “meu” são palavras que não se ouvirão no céu, pois lá todas as coisas serão comuns (Beato Afonso Orozco, OSA, Comentário à Regra. Tradução para o inglês por Thomas A. Hand, OSA, 1956).

De facto, “na vida religiosa, somos todos irmãos em virtude da nossa fé comum, em virtude também do nosso hábito e profissão”. “Um irmão ajudado pelo seu irmão é como uma cidade forte” (Orozco). Pergunta importante para todos os irmãos: “Onde está o teu irmão Abel?”. “Sou eu o guardião do meu irmão?”. “Sim!” (cf. Gn., 4, 9). «Quem odeia a seu irmão é um assassino» (1 Jo., 3, 5).

OBSERVÂNCIA DA REGRA – Observe todas estas regras “com alegria”. Seja “amante da beleza espiritual”. Lembro-me: “Somos o bom perfume de Cristo” (cf. 1 Cor., 2, 15).

AS CONFISSÕES – Estou constantemente maravilhado com um texto das “Confissões”. Este texto que Agostinho escreveu ao recordar a sua conversão é tão poderoso, tão belo, tão inspirador: “Conheci-te tarde, ó Beleza tão antiga e tão nova; amei-te tarde (…). Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Chamaste-me, gritaste por mim (…). Banhaste-me na tua luz, envolvestes-me no teu esplendor, fizeste a minha cegueira cambalear. Deste-me uma fragrância tão deliciosa (…). Eu provei e tu fizeste-me sentir fome e sede; tu tocaste-me e eu ardi para conhecer a tua paz (…). Todas as minhas esperanças estão na tua grande misericórdia e em mais nenhum outro lugar (…). Ó Amor que sempre arde e nunca se extingue! Ó Amor, que é o meu Deus, incendeia-me!” (Confissões, capítulo 10, n.os 27 e 29).

Outros textos que influenciaram a minha vida. Quando estava em pecado, “eu tinha a liberdade de um escravo fugitivo”. A conversão é “morrer para a morte e viver para a vida”. “Eu amava a paz que a virtude traz e odiava a discórdia causada pela corrupção e pela falsidade”. “O amor torna tudo fácil”. “A felicidade não consiste em ter mais, mas em precisar de menos”. “O supérfluo dos ricos é a necessidade dos pobres. Portanto, não partilhar o supérfluo com os pobres é realmente uma fraude”. “A Palavra de Deus torna até uma criança eloquente”. “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti”.

As “Confissões” começam com um texto bem conhecido: “Tu nos criaste para ti e o nosso coração está inquieto até descansar em ti”. E terminam com uma oração: “Senhor, a ti entrego todas as minhas preocupações (…). Tu conheces a minha fraqueza e a minha ignorância; ensina-me e torna-me completo” Amém!

A TÍTULO DE CONCLUSÃO: A VIDA CRISTÃ É UMA VIDA DE ORAÇÃO – Santo Agostinho: “A oração é um dos escudos mais fortes contra a tentação do Diabo. A oração vocal é boa porque estimula a alma à oração mental; mas a oração mental, na qual o voo da alma é tão exaltado que se torna um só espírito com o seu Criador, deve ser mais estimada. A união da oração vocal e mental também é de grande valor, pois dessa forma o homem inteiro pode confiar no Senhor e louvar o seu Deus” (Sobre a Regra III, 17). A oração comum da comunidade é mais valiosa do que a simples oração privada. Na Regra: “E quando orardes, meditai no vosso coração o significado dos salmos e hinos que as vossas vozes elevam a Deus” (Na Regra OP, capítulo 2, n.º 3). Sim, na oração, o coração e a língua pertencem um ao outro (cf. Sl., 25, 9; Mt., 12, 39).

Contemplativa/activa a Oração. “Sem Marta, Maria não poderia ter vivido uma vida contemplativa” (Orozco). O Beato Orozco ensina que Jesus repreendeu Marta porque esta se queixava amargamente e a sua queixa era injusta, e então pediu-lhe que servisse com paciência. Como Santa Catarina de Sena e Santa Teresa de Ávila sublinham, Jesus precisa de ambas: Marta e Maria.

Atenção. Na oração, esteja atento. Aqueles que estão distraídos, mas rezam voluntariamente, estão realmente a rezar e receberão a graça e a resposta à sua oração de petição. Mas somente aqueles que rezam com atenção real alcançarão não apenas a graça e a resposta às suas petições, mas também “o doce prazer de Deus” (Orozco).

Mesmo a terminar, uma nota final sobre a pontualidade na oração: “Sede perseverantes na prática da oração, nas horas e momentos determinados” (Regra de Santo Agostinho, capítulo 2, n.º 26). Como gosto de dizer aos meus queridos irmãos estudantes: o tempo de oração é o tempo de Deus. Amém!

Pe. Fausto Gomez, OP

LEGENDA: Igreja de Santo Agostinho em Macau

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