IGREJA CATÓLICA NO BUTÃO, O ÚNICO PAÍS COM MINISTÉRIO DA FELICIDADE

IGREJA CATÓLICA NO BUTÃO, O ÚNICO PAÍS COM MINISTÉRIO DA FELICIDADE

Por onde andaram os missionários de Portugal

Em 1627, dois portugueses jesuítas, Estêvão Cacela e João Cabral, viajando de Cochim para tentar fazer uma nova rota para a missão jesuíta em Shigatse (Tibete), visitaram o Butão. Aqui, encontraram-se com Zhabdrung Ngawang Namgyal, o fundador e líder religioso do Estado do Butão, e passaram meses na sua corte. Zhabdrung incentivou fortemente os jesuítas a ficar e até lhes permitiu usar um quarto em Cheri [Mosteiro] como capela, concedendo-lhes terras em Paro para construir uma igreja, e enviou alguns dos seus próprios assistentes para se juntarem à comunidade. Sem sucesso na conversão do povo, e, apesar de muito desânimo de Zhabdrung pela sua partida, os jesuítas acabaram por continuar em direcção ao Tibete, após uma estadia de quase oito meses no País.

O padre Cacela escreveu uma longa carta de Cheri, ao seu superior em Cochim, na Costa do Malabar, em que conta esta estadia. Esta visita é também corroborada por fontes butanesas contemporâneas, incluindo a biografia do próprio Zhabdrung Ngawang Namgyal.

No Século XX, duas ordens religiosas – os jesuítas em 1963, e os salesianos em 1965 – foram convidadas pelo Butão a abrir escolas no País. O Cristianismo foi permitido apenas oficialmente em 1965. Os salesianos foram expulsos em Fevereiro de 1982 sob a acusação de proselitismo.

O único missionário católico autorizado a permanecer no Butão – de 1963 até à sua morte em 1995 – foi o canadiano-butanense e padre jesuíta William Mackey, que abriu várias escolas secundárias e do pré-universitário, assim como a Faculdade de Sherubtse. Também ele não tentou qualquer conversão. No Século XXI ordenou-se o primeiro padre católico do Butão pela mediação directa de Madre Teresa de Calcutá.

Numa população total de quase oitocentos mil habitantes, os cristãos das várias denominações não passam de mil, sendo os católicos apenas umas centenas, vítimas de profunda discriminação. A religião oficial é o Budismo e não são permitidas missões católicas nem a entrada de missionários. É vedado aos cristãos usufruir de serviços públicos e os vistos de entrada são negados aos padres.

A Constituição do Butão protege a liberdade de religião para os cidadãos butaneses. No entanto, o proselitismo não é permitido. Como atrás ficou dito, o primeiro padre católico foi Kinley Tshering SJ, nascido no Butão, tendo sido ordenado em 1986. Inicialmente dissuadido pelos missionários, foi em frente, animado por um encontro com Madre Teresa; então decidiu-se pelo sacerdócio católico, não saindo do seu país. Como cidadão, viaja livremente no Butão e, por exemplo, celebra a Missa de Natal sob o pretexto do seu aniversário, em 24 de Dezembro. Pensa-se ser este o primeiro convertido ao Cristianismo vindo do Budismo.

O Butão nunca teve uma jurisdição hierárquica católica nativa, mas está sob a diocese de Darjeeling. O arcebispo de Guwahati, no Estado indiano vizinho de Assam, visitou os católicos que se encontram espalhados por todo o País, em 2011, com o argumento de estar a realizar um programa de formação destinado a jovens butaneses. No caso dos cristãos, embora as autoridades do País digam que não têm objecções a que eles vivam a sua fé no Butão, também esclarecem que as conversões não são bem-vindas.

Por isso, as pequenas comunidades cristãs locais adaptaram-se às circunstâncias e deixaram de exigir o reconhecimento oficial das suas instituições.

André LagosIn Boa Nova – atualidade missionária

LEGENDA:Padre Kinley Tshering

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