Novembro, mês de novas etapas

Outono promissor

Nas últimas semanas tem sido recorrente perguntarem-nos acerca da nossa experiência em terra. Fez no passado dia 19 de Setembro dois anos que aterrámos em solo europeu. Havia quatro anos que não visitávamos Portugal. No meu caso, desde 1997 que não vivia permanentemente no país que me viu nascer.

Para nós, dois anos é muito tempo para estar no mesmo sítio, depois de termos vivido três anos sem endereço permanente. Sinceramente, assim de repente, não sei se a experiência foi, ou não, positiva.

O nosso foco tem sido a Saúde e assim será até que o problema da NaE esteja resolvido. Já quanto ao resto (o food truck, as viagens, etc.) tem sido um sucesso, o que também ajuda a desviar a mente das preocupações resultantes da doença oncológica. Este tipo de doença afecta quase todas as vertentes (psicológica, física e emocional). Claro está que a família tem um papel preponderante. Como sabemos, o apoio da família tem de ser incondicional para que o doente se sinta amparado.

Agora, depois de muito esperarmos e ansiarmos, estamos de data marcada para regressarmos ao nosso barco. Volvidos dois anos, como foi falado com o médico oncologista, caso o processo de tratamento estivesse a decorrer conforme o planeado e todos os marcadores cancerígenos estivessem dentro do expectável, temos luz verde para passar seis meses a bordo. Desnecessário será dizer que é algo que todos ansiávamos, inclusivamente a Maria. A pequenita – para nossa surpresa – a cada dia que passa lembra-se de mais coisas que fazia no barco, estando desejosa de voltar ao seu quarto.

Como já explicámos numa crónica anterior, irei primeiro em Novembro para preparar o barco – ver se está tudo em ordem e fazer as reparações necessárias – enquanto que a NaE e a Maria irão no início de Dezembro.

Relativamente ao barco, como também sempre expliquei aos leitores nos últimos quatro anos, nada pode ser dado como certo. Se a nossa intenção era trazer o barco para águas europeias, e assim termos a oportunidade de o desfrutar mais assiduamente, tal não deverá ser possível por razões burocráticas. É a nossa velha Europa e a sua famosa burocracia. O processo de registo que está a decorrer junto das autoridades belgas (foi colocada a hipótese de optarmos pela bandeira holandesa, mas as autoridades portuguesas já não aceitam esse pavilhão!) está a encontrar diversos entraves, uma vez que o Dee é americano e nunca teve registo europeu. Certificados CE, normas, idade do veleiro, etc., etc. Enfim, um sem número de regras e regulamentos que nos leva a pensar que será mais fácil e mais barato levar o barco para os Estados Unidos e deixá-lo por lá. Afinal, viajar de Portugal para os “States” fica ao mesmo preço do que ir de carro para o Algarve!

Quando esta crónica for publicada estaremos a dias do último evento que iremos realizar este ano com o nosso negócio de comida de rua tailandesa. Vamos estar num espectáculo de performance de rua em Minde, uma aldeia do distrito de Leiria. Será uma experiência diferente, que esperemos ser agradável. Vamos estar entre artistas de toda a Europa e famílias que ali se deslocam para assistir aos vários espectáculos.

No dia 1 de Outubro a NaE vai à Holanda visitar uma amiga que lá vive há alguns anos. Vai aproveitar para descansar e colocar a conversa em dia. Eu e a Maria ficamos em Portugal para preparar a saída no final do ano. Há ainda por fazer!

Apesar de terem sido dois anos de altos e baixos, consideramos que a experiência foi positiva. A doença está sempre presente, mas graças aos incansáveis esforços e à dedicação da equipa médica do Instituto Português de Oncologia a nossa paciente caminha para uma recuperação dentro do previsto. Há ainda alguns anos de incertezas pela frente, mas graças a Deus há sinais positivos que nos dão razões para pensar que o pior já passou. Sempre sabendo, claro está, que se tal não for a realidade aqui estamos para lutar e enfrentar seja o que for, com todas as nossas forças e numa frente familiar unida.

Relativamente à doença e ao tratamento em curso, há ainda a dizer que sendo os medicamentos específicos e extremamente caros, temos tido o cuidado de também neste aspecto planear a nossa ausência de Portugal. Se aqui temos acesso ao tratamento de forma gratuita, o mesmo já não se passa fora de Portugal. Daí que tenhamos solicitado o Cartão de Saúde Europeu, que pode ser utilizado no exterior, permitindo-nos ter acesso a cuidados de saúde como se ainda estivéssemos no nosso país. Apenas teremos de pagar as taxas moderadoras. Nas ilhas francesas o custo da medicação é elevado mas não exorbitante. Se fosse nos Estados Unidos, ficaria mais barato voar para Portugal, dado que nenhum seguro de saúde cobre o tratamento de uma doença já anteriormente diagnosticada.

Actualmente, a NaE toma apenas um comprimido diário, que o médico irá receitar para um período de seis meses. Há, no entanto, um implante mensal que terá de ser adquirido onde quer que nos encontremos.

Resta agora olhar em frente e continuar a tudo fazer para que a vida nos sorria. Aos leitores e amigos, desejamos um bom Festival do Bolo Lunar.

João Santos Gomes

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