Cosmim de Seiscentos
À entrada de Pathein, a “nossa” Cosmim de Seiscentos, sou recebido por cúpulas de pagodes e por graciosos movimentos de gondoleiros do Oriente. Como em tantas outras cidades birmanesas, a travessia dos rios era feita em grandes barcaças a motor e pequenos batéis a remos.
Rezavam as crónicas de antanho que se entrava «em Cosmim, rio acima, a partir do Cabo Negrais», que ainda hoje mantém esse nome bem português.
«A conhecença desta terra de Zanqueaque é o arvoredo largo e não tem mato serrado. Toda esta terra é baixa. (…) E como se toma esta costa, não se navega de noite».
A paisagem presenciada era própria de um delta. Barco como meio de transporte; rio como modo de vida; população ribeirinha em casas de palafitas, dedicando-se à pesca e ao cultivo de arroz, que ali era de superior qualidade, aparentemente o melhor do País.
Contrariamente ao que acontecia em Bago, o porto fluvial de Pathein mantinha-se bastante activo. Demonstravam-no as crescentes exportações de arroz que contribuíam para uma atmosfera de alguma prosperidade naquela que era a quinta cidade de Myanmar. Dos seus 145 mil habitantes, a maioria era de etnia karen ou arracanesa, sendo a comunidade mon bastante residual.
Os mercados mantinham intensa e matizada actividade, sendo ainda muito frequentes as trocas directas, embora oficialmente apenas fosse reconhecido o trato com recurso à moeda oficial, o kyat, cambiado no mercado negro e em constante desvalorização.
O cidadão circulava, por norma, a pé e de bicicleta, só muito raramente de motociclo. Abundavam imaginativas variedades de riquexós, manuais ou motorizados, e pequenas carrinhas de caixa aberta. Belos e bem conservados camiões vintage da Segunda Grande Guerra mostravam-se pelas ruas da cidade depois de terem palmilhado centenas de quilómetros de estradas e picadas, transportando bens de consumo do Norte ao Sul do País.
Myanmar era a única nação do Sudeste Asiático onde a população, na sua esmagadora maioria, optava pelo traje tradicional em detrimento do vestuário ocidental. Resumia-se, no essencial, a um simples pano que se aperta à cintura com um nó, o denominado longi. Confortável e de fácil manuseamento, o longi é indumentária obrigatória em toda a costa e golfo de Bengala.
Joaquim Magalhães de Castro