Neste Domingo fatídico, que se prolongou pela madrugada e manhã desta última segunda-feira, neste Outono de calor infernal a que as alterações climáticas nos obrigaram, Portugal ardeu!
Mais de 500 fogos activos, no dia do ano com mais incêndios florestais desde 2006, cerca de sete mil bombeiros no terreno, milhares de populares a colaborarem no ataque ao fogo, para além dos meios envolvidos no Centro e Norte de Portugal, o saldo, até ao momento é, mais uma vez, uma verdadeira tragédia: mais mortes, mais feridos, mais populações em pânico, muitos milhares de hectares de floresta ardida, casas, gado, fábricas e empresas reduzidas a cinzas.
Portugal está em guerra!
Em guerra contra um inesperado clima de seca para o qual não estamos preparados e que teimamos em não estar.
Em guerra contra a organização e condução das operações das nossas estruturas estatais de combate a incêndios, nas várias fases do seu desenvolvimento e na previsão dos mesmos.
Em guerra, por nos considerarmos um país evoluído e tecnologicamente desenvolvido e não associarmos às estruturas de combate aos fogos os alertas da previsão meteorológica.
Em guerra contra a falta de meios adequados aos incêndios, nas vastas áreas florestais que envolvem muitas das nossas cidades e aldeias.
Em guerra contra um sistema de comunicações nacional que falha quando é mais necessário, apesar do elevado custo suportado pelos nossos impostos.
Em guerra contra os comportamentos negligentes de uma razoável parte da nossa população rural, que insiste em manter hábitos e tradições extremamente perigosas, como queimadas, lançamento de foguetes, falta de limpeza das matas e das zonas junto das habitações, etc.
Em guerra contra a falta de vigilância nas nossas florestas, capazes de identificar rapidamente os focos de incêndio, seus causadores e comunicar de imediato às autoridades competentes.
Em guerra contra todo o tipo de pirómanos, sejam maníacos ou ao serviço de funestas entidades, como contra a banalidade das penas aplicadas que os tornam reincidentes.
Em guerra contra a atitude de não envolver os militares e os seus meios na estrutura de preparação do território, vigilância, detecção e combate aos incêndios.
Em guerra contra toda a obstrução à reorganização das nossas florestas e respectivos acessos, contra eventuais interesses instalados ou burocracias que nos fazem vítimas dos incêndios.
Em guerra contra tudo e contra todos aqueles que atribuem exclusivamente a causas naturais a desgraça que nos tem atingido, sem considerarem que o conhecimento existente dessas eventuais causas exigiam um rápido e consistente dispositivo de combate às mesmas.
Em guerra, por fim, contra as eternas discussões sobre as responsabilidades dos Governos, bombeiros, protecção civil ou polícias, que alimentam anos de debates sem consequências práticas.
Uma grande maioria do povo português não é indiferente à melhoria das condições de vida que esta governação lhe tem proporcionado mas, quando olha para o estado actual do seu querido país, não pode ficar indiferente ao sofrimento de todos aqueles que perderam os seus familiares, haveres e empregos, em consequência dos infernais incêndios que nos atingiram. Por isso se indignam contra as indecisões, as irresponsabilidades, a ignorância, os interesses perversos, a incompetência, o desleixo e o crime, que estão na origem da tragédia que nos tem vitimado.
No preciso momento em que vos escrevo começou a chover, finalmente. Nunca fiquei tão contente com a chuva!…
Espero que a água da chuva não lave da memória de todos os responsáveis políticos e institucionais o pesadelo que temos sofrido.
LUIS BARREIRA