DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO FOI ASSINALADO EM MACAU. D. STEPHEN LEE PRESIDIU À EFEMÉRIDE
Erguer uma casa longe de casa e cultivar um sentido de pertença. Foram estes os propósitos que nortearam a organização do certame com que a diocese de Macau celebrou, no passado Domingo, a 105ª edição do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. A iniciativa reuniu na Escola São Paulo representantes de onze comunidades, entre as quais a portuguesa, a brasileira e a timorense.
O bispo D. Stephen Lee presidiu no último Domingo, na Escola São Paulo, às celebrações do 105º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, iniciativa que se assinalou em Macau quase um mês depois de ter sido celebrada pelo Vaticano. Na mensagem publicada pela Santa Sé na ocasião, o Papa Francisco reflectia sobre a presença, nas sociedades modernas, dos migrantes e refugiados, defendendo que “constitui, hoje, um convite a recuperar algumas das dimensões da nossa existência cristã e da nossa humanidade, que correm o risco de entorpecimento num teor de vida rico de comodidades”.
“Quando nos interessamos por eles, interessamo-nos também por nós, por todos nós; cuidando deles, todos crescemos; escutando-os, damos voz também aquela parte de nós mesmos que talvez mantenhamos escondida por não ser bem vista hoje”, escreveu o Sumo Pontífice.
No “Twitter”, o Papa resumiu o teor da sua mensagem, condensando-o num apelo: “Não se trata apenas de migrantes, trata-se de todos nós, da família humana, chamados a realizar juntos o projecto de Deus para o mundo”.
Em Macau, a efeméride foi evocada com uma eucaristia, celebrada por D. Stephen Lee, a que se seguiu um sarau cultural em que participaram representantes de onze comunidades que vivem e trabalham na Região Administrativa Especial. A mensagem do Papa Francisco ecoou na homilia proferida pelo epíscopo, mas também nas palavras de alguns convidados de honra do certame, como Paul Pun.
O secretário-geral da Cáritas Macau elogiou a resiliência perante a adversidade das comunidades migrantes e a capacidade para manter e alimentar a alegria, apesar das dificuldades com que os trabalhadores não-residentes se deparam no dia-a-dia. «Aprendemos muito convosco. Vocês sabem como apreciar a vida, sabem como se canta, sabem como se louva o Senhor. Há muito, mesmo muito que podemos aprender convosco. E eu, pessoalmente, espero poder continuar a ter a oportunidade de aprender com tudo o que têm para nos ensinar», sublinhou. O também presidente da Associação de Beneficência dos Refugiados esteve em meados de Outubro em Portugal para se inteirar das políticas de acolhimento a refugiados e a requerentes de asilo impulsionadas pelas autoridades portuguesas.
Em Macau, reconheceu Paul Pun, o cenário é muito diferente, não apenas no que diz respeito à admissão de requerentes de asilo, mas também ao próprio tratamento institucional de que são alvo as comunidades migrantes. O secretário geral da Cáritas lamentou que os trabalhadores não residentes radicados no território não tenham acesso universal aos cuidados de saúde primários, mas garantiu que a organização que dirige vai continuar a fazer chegar o seu apoio aos imigrantes que vivem e trabalham na RAEM. «Tivemos a oportunidade de assinar um memorando de entendimento com Consulado Geral das Filipinas. Através deste mecanismo de cooperação, a Cáritas tenta fazer chegar à comunidade filipina apoio legal, social e cultural sob a forma de seminários e de outras actividades», ilustrou Paul Pun, acrescentando: «Tentamos também chamar a atenção do Governo para questões como o acesso a cuidados de saúde ou o salário mínimo. A nova lei relativa ao salário mínimo ainda não abrange certas categorias como as trabalhadoras domésticas, que constituem uma parte considerável das trabalhadoras não residentes».
SAMBA, FADO E DEVOÇÃO
Mais de um milhar de pessoas assistiram, no principal auditório da Escola São Paulo, às comemorações do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, uma iniciativa da responsabilidade da diocese de Macau, coordenada pela Cura Pastoral para a Comunidade Filipina. O certame, explicou a’O CLARIMo padre Andrew de Vera, começou a ser preparado há mais de três meses e mobilizou mais de duas centenas de voluntários. «Foi necessário tempo, entrega e um grande esforço para colocar este evento de pé. No total estiveram envolvidas na preparação da celebração cerca de duas centenas de pessoas, sem contar com os membros dos grupos, de diferentes nacionalidades, que actuaram», sublinhou o sacerdote da Sociedade de Nossa Senhora da Santíssima Trindade.
Pelo palco do auditório passaram artistas e colectivos artísticos em representação de onze países e comunidades, entre os quais Portugal, Brasil e Timor-Leste. Na Escola São Paulo ouviu-se fado e dançou-se ao ritmo do samba e das exuberantes danças tradicionais de nações como a Índia, o Nepal, as Filipinas ou o Myanmar. A iniciativa atraiu este ano a participação de onze comunidades que vivem e trabalham em Macau, mais quatro do que há um ano. «Neste certame marcaram presença onze nacionalidades, onze comunidades diferentes. No total creio que cerca de uma centena e meia de pessoas passaram pelo palco no âmbito das diferentes actuações a que assistimos. Entre visitantes e convidados, creio que recebemos no Domingo mais de um milhar de pessoas. Foi, para todos os efeitos, uma grande celebração», reconheceu Andrew de Vera, responsável pela Cura Pastoral para a Comunidade Filipina, sem esconder a satisfação.
Para ele, as celebrações do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado adquirem uma importância que ultrapassa em muito o diálogo de culturas. O certame tem como finalidade primária ajudar a criar um sentido de pertença a um território que tem a multiculturalidade como uma das suas características mais distintivas. «Para que as pessoas se sintam desafiadas a participar, temos de criar as condições para que sintam que também são parte da terra que as acolheu. A Igreja Católica é uma família. Este é um aspecto que queremos que os membros de todas estas comunidades interiorizem. Queremos que eles saibam que a Igreja não é apenas uma crença e uma instituição: é também uma família», referiu o padre Andrew de Vera. «Esta iniciativa constituiu uma avenida para que possamos criar em conjunto este encontro de pessoas e de culturas, mas também para ajudar a desenvolver um sentido de pertença a Macau e de comunhão entre as diferentes comunidades. Através deste evento tentámos recriar, apesar da distância que nos separa dos nossos países e das nossas famílias, uma casa longe de casa», concluiu o sacerdote da Sociedade de Nossa Senhora da Santíssima Trindade.
Marco Carvalho