Como poderemos fazer bom uso do mal?
O mal é uma realidade com que precisamos de aprender a lidar, aceitar e santificar. Aprender a fazê-lo é na realidade uma tarefa para toda a vida. Muitos levam as suas vidas a reclamar do mal, a fugir dele, ou a ele recorrer como desculpa para a passividade e preguiça. Como São Josemaría dizia: «Se o sofrimento está sempre ali para nós, pobre criaturas, o que mais pode ser, senão estupidez, desperdiçá-lo?».
Muitas pessoas ganham a vida a partir de algo que outras pessoas consideram inúteis; elas ganham dinheiro com o lixo. O que acontece nos assuntos terrenos também pode funcionar para a vida espiritual. Podemos transformar algo que aparentemente é inútil, ou mesmo prejudicial, em algo de grande valor.
Nosso Senhor Jesus Cristo mostrou-nos o caminho. Na Cruz, Ele parecia derrotado, mas de facto foi Ele que derrotou o mal: Jesus transformou uma perda em proveito.
O MAL FÍSICO
O mal físico pode ser uma oportunidade para o bem. Dá-nos a chance de ajudarmos os outros e de lhes prestar um serviço. Quando ajudamos quem precisa, na realidade estamos a ajudar o próprio Jesus Cristo: «Pois eu tive fome e deram-me de comer, tive sede e deram-me de beber, era peregrino e hospedaram-me, andava nu e deram-me que vestir, estive doente e visitaram-me, estive na cadeia e foram-me visitar(Mateus 25:35-36)».
O mal físico pode tornar-se num estímulo para o crescimento e maturidade pessoais. Ouvimos histórias de muitas pessoas com sucesso que ultrapassaram a pobreza, os defeitos físicos, a discriminação e os insucessos constantes, as quais inspiraram e guiaram a vida de muitas outras pessoas.
O mal físico é um meio de purificação espiritual. O cardeal D. Nguyen Van Thuan contava que não podia compreender como Deus o deixara a definhar na prisão, ficando o seu rebanho (os fiéis) sem pastor. Finalmente percebeu que Deus usou o seu isolamento para falar com ele, fazendo-o ver que estava tão absorvido com “o trabalho do Senhor” que havia negligenciado o “Senhor do trabalho”. A prisão libertou-o da presunção de pensar que era o principal protagonista na salvação das almas. «Repara que te refinei, mas não como prata; Eu experimentei-te na fornalha da aflicção (Isaías 48:10)».
Através do mal físico, Deus pode verificar se a nossa bondade é autêntica. «É por isso que sentem alegria, embora seja necessário por algum tempo sofrerem diversas provações. Elas servem para pôr à prova o valor da vossa fé. Até o ouro, que pode ser destruído, é posto à prova do fogo. Também a vossa fé, muito mais preciosa que o ouro, tem de ser posta à prova, para ser considerada digna de louvor, de glória e de honra quando Jesus Cristo se manifestar (I Pedro 1:6-7)».
É fácil dizer “eu creio”, até ao dia em que enfrentemos uma situação onde Deus parece não existir. É fácil dizer que amamos, até que uma pessoa irrazoável se atravesse no nosso caminho.
O MAL MORAL
Joseph Tissot escreveu um livro baseado nos ensinamentos de São Francisco de Sales, intitulado “How to Profit from Your Faults” (traduzido para Português como “A arte de aproveitar as próprias faltas”). Sim, também é possível lucrar com a nossa pecaminosidade. Na realidade, os nossos pecados ajudam-nos a ser mais humildes, a vermos que não somos perfeitos, que precisamos de arrependimento e do perdão de Deus no Sacramento da Reconciliação: “E para impedir de me sentir demasiado bem pela abundância das revelações, foi-me cravado um espinho na carne, um mensageiro de Satã, para me molestar, para impedir de me sentir demasiado bem. Por três vezes supliquei ao Senhor que me deixasse, mas ele disse que não: ‘A minha graça é-vos suficiente, porque o meu poder aperfeiçoa a fraqueza’. Alegrar-me-ei ainda mais com as minhas fraquezas; que o poder de Cristo possa descansar em mim”.
Pe. José Mario Mandía