O que a Sagrada Tradição diz a respeito da Santíssima Trindade?
As coisas nas quais acreditamos não vêm apenas das Sagradas Escrituras. Também sabemos que é importante considerar o que a Sagrada Tradição nos ensina. Esses ensinamentos podem ser encontrados nos Pais da Igreja, na liturgia e orações da Igreja, e na vida da Igreja e dos fiéis.
OS PAIS DA IGREJA
Conforme vimos da última vez, Teófilo de Antioquia é reconhecido como o primeiro que realmente utilizou o termo “Trindade”. No entanto, outros Pais da Igreja já teriam feito menção a três Pessoas num só Deus. Deixem-nos mencionar mais uns poucos Pais.
Cerca do ano 110 depois de Cristo, Santo Inácio de Antioquia escreveu: “Portanto, estudai para manter-vos na doutrina do Senhor e dos apóstolos, para que todas as coisas que fizerdes possam prosperar tanto na carne quanto no espírito, na fé e no amor, unidos com o vosso admirável bispo, com a preciosa coroa espiritual do vosso presbitério e com os diáconos que estão em conformidade com Deus. Sejais submissos ao bispo e uns aos outros, como Cristo é com o Pai, para que haja unidade entre vós, de acordo com a vontade de Deus” (Epístola aos Magnésios, 13).
A Didache (também conhecida como “Os Ensinamentos dos Doze Apóstolos”), escrita por um autor desconhecido, ensina-nos: “Depois destas instruções iniciais, baptizem em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, em água viva (corrente). Se não tiverdes, despejem a água nas suas cabeças, três vezes, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Didache 7:1).
São Policarpo de Esmirna dizia: “Elogiai, glorificai e abençoai” o Pai, o Filho e o Espírito Santo, antes de ser martirizado em 155 d.C.
Clemente de Alexandria (150-215) exortava os fieis a “dar graças e elogiar o único Pai e Filho; o Filho e o Pai com o Espírito Santo” (O Pedagogo).
Santo Hipólito (170-235) refutou Noeto com as seguintes palavras: “Para Ele, seja glória e poder, com o Pai e o Espírito Santo na Sagrada Igreja agora, sempre e para sempre. Assim seja. Amém” (Contra Noeto).
LITURGIA E ORACÃO
Segundo as ordens de Jesus Cristo (Mateus 28:19), o Baptismo foi sempre administrado pela fórmula Trinitária, em nome de um Deus em três Pessoas.
O Sinal da Cruz é usado pelos cristãos há séculos. “Nós cristãos desgastamos as nossas frontes com o Sinal da Cruz”, escreveu Tertuliano, por volta do ano 200 depois de Cristo.
Segundo São Basílio (329-379), quando os cristãos acendiam as lâmpadas das vésperas, rezavam: “Nós rezamos ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo de Deus”.
Teodoro (393-457) descreve como uma pessoa se deve abençoar: “Isto é como abençoar alguém; com a sua mão faz o Sinal da Cruz sobre si mesmo. Mantenha três dedos, como iguais, juntos, para representar a Trindade. Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. Estes não são três deuses, mas um Deus em Trindade. Os nomes são separados, mas a divindade é só uma. O Pai nunca encarnou; o Filho encarnou mas não criou; e o Espírito Santo nem encarno nem criou, mas foi revestido como divindade: três é um sinal divino. A divindade é uma força e tem uma honra. Recebem obediência de toda a Criação, tanto os Anjos como as Pessoas. Daí o decreto para o uso desses três dedos”.
“Devereis manter os dois dedos ligeiramente curvados, e não completamente direitos. Isto é porque eles representam a dualidade de Cristo, Divino e Humano. Deus é Divino, e Humano, na Sua Encarnação, e ainda assim perfeito em ambos. O dedo de cima representa a divindade, e o de baixo a humanidade. É assim que se deve se cruzar e dar a sua bênção, em conformidade com o que os Pais Sagrados nos ordenaram”.
Além disso, todas as profissões de fé, desde o início da Cristandade até aos nossos dias, acreditam em três Pessoas e um só Deus. Um dos Credos mais detalhados, e que merece a pena ser visto, é o Credo Atanasiano. Este remonta ao século IV ou V.
Pe. José Mario Mandía