O que são os Mistérios? Porquê Dogmas?
Falamos mutas vezes sobre mistérios e dogmas. E o que queremos dizer por “mistério”? E o que para nós significa “dogma”?
Comecemos primeiro pelos mistérios.
Em linguagem corrente, um mistério é algo que não pode ser perfeitamente entendido ou explicado, algo cuja causa ou causas não conhecemos plenamente. Neste sentido, encontramos muitos mistérios na natureza. De facto, apesar dos avanços da Ciência, ainda há muitas coisas que ainda não sabemos sobre o Mundo e o Universo.
No entanto, em Teologia, “mistério” é definido como uma verdade (1) do foro da ordem sobrenatural e (2) não pode ser conhecido, se Deus não no-lo revelar.
Partindo desta definição, podemos dizer que a existência de Deus e a existência da alma não são “mistérios”, porque (como vimos anteriormente em FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ, nº 3) esses eventos podem ser reconhecidos pelo raciocínio. Sem recorrer às Sagradas Escrituras ou aos Ensinamentos da Igreja, o Homem pode descobrir que existe uma alma e que existe um Deus, se bem que o seu conhecimento de Deus possa ser limitado.
Ora, é importante saber que temos uma alma e que Deus existe, mas há muito mais que precisamos saber. É por isso que Deus nos ensina a verdade sobre o Universo, sobre nós próprios e sobre Ele. Isto é o que chamamos de Revelação. Pela Revelação ficamos a conhecer os mistérios da nossa fé.
E o que são os dogmas?
Os dogmas aparecem com a Igreja, à qual foi entregue a responsabilidade e a graça de salvaguardar e transmitir o que Deus nos revelou (o conteúdo da Revelação).
O Catecismo da Igreja Católica (nº 88) ensina-nos: “O Magistério da Igreja faz pleno uso da autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando propõe, dum modo que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, verdades contidas na Revelação divina ou quando propõe, de modo definitivo, verdades que tenham com elas um nexo necessário”.
Como é que podemos saber quando é que a Igreja “define dogmas”?
É-nos possível saber através da linguagem que a Igreja utiliza num documento. Deixem-nos usar um exemplo relativamente recente: a Declaração “Dominus Iesus” (“Senhor Jesus”), publicada a 6 de Agosto de 2000. Este documento não define nenhuma nova doutrina, mas reitera a importância de certos dogmas. Duas frases importantes são repetidas no texto: “Deve crer-se firmemente…” (seis vezes) e “é contrária à fé da Igreja…” (oito vezes). Quando se pronuncia desta forma a Igreja indica inequivocamente e sem hesitação que um ensinamento em particular foi revelado por Deus (por intermédio das Escrituras e da Tradição). É por isso confirmada pelo Magistério e deve ser acreditada por todos os que se consideram como “crentes”.
No Credo podemos encontrar muitos dos dogmas que foram definidos no passado pela Igreja. Para uma versão mais extensa, verifique-se o Credo Atanasiano. No entanto, este facto não é suficiente para se acreditar. «Também o crêem os demónios, mas enchem-se de terror (São Tiago 2:19)». Qual a criança que diz a sua mãe que acredita nela e mesmo assim não faz o que ela lhe pede? É por isso que o CIC (nº 89) acrescenta: “Existe uma ligação orgânica entre a nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no caminho da nossa fé: iluminam-no e tornam-no seguro. Por outro lado, se a nossa vida for recta, a nossa inteligência e o nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da fé (João 8:31-32)”.
Crer é apenas o início da caminhada. Viver uma vida cristã significa conhecer, amar e servir a Deus. Quanto melhor nós conhecermos Deus, melhor O podemos amar e servir da forma que ele deseja ser amado e servido.
Pe. José Mario Mandía